FMI: conflito em Gaza e tensão marítima ampliam incerteza no Oriente Médio e norte da África
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O Fundo Monetário Internacional (FMI) cortou sua expectativa para o crescimento econômico na região do Oriente Médio e norte da África (MENA, na sigla em inglês), de 3,4% em outubro a 2,9% agora, e destacou o fato de que o conflito entre Israel e o Hamas é negativo e ainda amplia incertezas para a área. Em atualização sobre a perspectiva econômica regional publicada nesta quarta-feira, 31, o FMI diz que entre os efeitos que pesam na atividade estão o conflito entre Israel e o Hamas na Faixa de Gaza; cortes na produção de petróleo; e a necessidade continuada de uma política apertada em várias economias.
Os distúrbios sociais também têm aumentado, segundo o Fundo. Em 2023, ele estima que o crescimento da região tenha sido de 2,0%. Para 2025, a projeção é de avanço de 4,2%. Além do conflito em Gaza, o relatório cita a piora no quadro de segurança no Mar Vermelho, que provoca preocupações sobre o impacto do conflito sobre o comércio e o custo do transporte marítimo de cargas, "com potenciais implicações para as cadeias de produção globais e o comércio de commodities".
O FMI afirma que várias companhias de transporte marítimo têm anunciado desvios em sua rota, em busca de alternativas para evitar a região em que ocorrem ataques de rebeldes houthis, no Iêmen. E recorda que, durante o primeiro semestre de 2023, o comércio no Canal de Suez, que liga o Mar Vermelho ao Mediterrâneo, representava cerca de 12% do comércio global, incluindo 30% do tráfego global de contêineres, além de 8% dos embarques no mundo de gás natural liquefeito.
Até 21 de janeiro de 2024, o volume nos dez dias anteriores no Canal de Suez havia registrado queda perto de 50% na comparação anual, aponta. Os custos de transporte marítimo de cargas entre a Europa e a China, passando pelo Mediterrâneo, dispararam mais de 400% desde meados de novembro, o que reflete uma combinação de maiores custos com seguro e os elevados riscos de segurança, bem como custos mais altos com rotas mais longas, aponta.
Entre os países de mais baixa renda desse conjunto de nações, a expectativa é negativa, sobretudo por causa dos efeitos do conflito em andamento no Sudão. Já em toda a região, o FMI considera que a incerteza e os riscos de baixa cresceram "de modo significativo" desde outubro, com a duração do conflito e a elevada incerteza. "Um conflito prolongado sem solução clara pesaria duramente sobre a região", adverte.
A inflação nos países da região, por sua vez, deve continuar a desacelerar, embora as pressões sobre os preços tenham se mostrado persistentes em alguns casos, diante de fatores específicos de algumas nações, diz o Fundo. Para ele, a perspectiva geral para a região é "altamente incerta" e há riscos de baixa no crescimento.
O FMI adverte que uma escalada ou disseminação do conflito para além de Gaza e Israel, bem como a intensificação de problemas no Mar Vermelho, poderiam ter "um impacto econômico severo" na região, inclusive no comércio e no turismo. O Fundo recomenda habilidades de gerenciamento de crises e precaução aos países do grupo, onde o impacto for mais agudo ou os riscos sejam mais elevados. Nesse contexto, ele afirma que a política monetária terá de manter foco na estabilidade de preços, enquanto a política fiscal deve ser delineada a cada caso, a depender do espaço fiscal disponível. Além disso, reafirma a importância de reformas estruturais, para impulsionar o crescimento e a capacidade de resistir a choques.
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