'Eu te amo', escrevem filhas aos pais antes de serem engolidas por enchente nos EUA
Chuvas que devastaram o centro do Texas nos últimos dias deixaram dezenas de mortos e desaparecidos
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As chuvas que devastaram o centro do Texas nos últimos dias deixaram dezenas de mortos e desaparecidos. Entre eles, estão duas crianças da família Harber e seus avós. O advogado R.J. Harber, 45, viu a tragédia se desenrolar diante dos próprios olhos.
Harber e sua esposa, Annie, estavam hospedados em uma cabana na comunidade de Casa Bonita, próxima à cidade de Hunt, às margens do rio Guadalupe. Na madrugada de sexta-feira (4), por volta das 3h30 no horário local, ele acordou com o barulho da chuva intensa, trovões e relâmpagos.
Embora tivesse recebido alertas de enchente para outras regiões, nenhuma notificação indicava risco iminente para a área em que estavam. Ele conta ao jornal americano Wall Street Journal que chegou a supor que o rio subiria, mas não imaginava a velocidade com que a situação sairia do controle.
As filhas do casal, Brooke, 11, e Blair, 13, estavam numa cabana mais próxima ao rio, acompanhadas pelos avós paternos, Mike e Charlene. Ao acordar, R.J. conta que pensou em checar o nível da água e, para isso, iria pegar um caiaque e equipamentos de pesca guardados do lado de fora da cabana.
Ao colocar os pés no chão, percebeu que já havia cerca de 10 centímetros de água na cabana. Ele tentou abrir a porta e não conseguiu. O homem e Annie decidiram sair pela janela e, quando conseguiram, cerca de dois minutos depois, o nível da água já alcançava o pescoço da mulher.
O casal correu até uma cabana vizinha, em terreno mais alto, e acordou uma família. Dali seguiram para outro chalé, alertando uma terceira. Sem saber ao certo a dimensão do desastre, R.J. decidiu tentar alcançar as filhas.
Ele pegou um caiaque, um colete salva-vidas e uma lanterna e partiu em direção à cabana onde estavam as meninas. A distância não passava de 30 metros, mas ele mal chegou à metade. O homem conta que uma onda o arremessou contra um poste e viu que o fluxo do rio havia se transformado num turbilhão de água branca. Era impossível avançar, contou à publicação americana.
Na margem oposta, ele relata ter visto uma cabana sendo arrancada e colidindo com outra que abrigava as suas filhas. Carros e árvores também flutuavam e eram arrastados pela correnteza.
O casal decidiu se abrigar numa casa próxima, do outro lado da rodovia, em um terreno mais alto. Lá, por volta das 3h45, verificou o celular e, apesar da ausência habitual de sinal, encontrou uma mensagem da filha Brooke, enviada às 3h30: "Eu te amo".
Annie recebeu um texto semelhante, de ambas as filhas, no mesmo horário. O outro avô das meninas, que vive no estado do Michigan, recebeu uma imagem delas com a mesma legenda: "Te amo".
Na manhã seguinte, quando o nível do rio recuou, R.J. retornou ao local. Das 20 cabanas da comunidade, apenas seis permaneciam de pé, segundo ele. A estrutura que abrigava suas filhas havia desaparecido. Restava apenas o piso de azulejo.
Os corpos de Brooke e Blair foram encontrados no dia seguinte, a cerca de 20 quilômetros da cabana. Os avós continuam desaparecidos, segundo as autoridades locais. "Infelizmente, todas essas ótimas lembranças agora são uma lembrança ruim", disse R.J., em entrevista ao Wall Street Journal.
Brooke e Blair estudavam na Escola Católica St. Rita, onde Annie trabalhava. A comunidade escolar organizou vigílias, e amigos e familiares prestaram homenagem aos Harber.
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