Governo e cientistas ainda não têm acordo sobre quem vai ser vacinado primeiro
Uma das grandes esperanças para o controle do novo coronavírus no País, a vacina contra a doença ainda gera divergências entre o governo federal e cientistas quanto aos grupos prioritários, ou seja, que devem receber primeiro as doses assim que liberadas.
O secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Arnaldo Correia, afirmou na última semana que está sendo preparada a estratégia nacional de imunização para o momento que a vacina contra a Covid-19 estiver disponível no País.
Segundo Correia, os critérios serão os mesmos da vacina contra influenza (gripe). Dessa forma, os profissionais de saúde e pessoas de grupos de risco, como idosos e quem apresenta outras doenças, seriam priorizados na vacinação.
A decisão de usar o mesmo critério da influenza, no entanto, gerou questionamentos por parte de alguns especialistas, que dizem que os grupos de risco não são completamente idênticos.
Doutor em Saúde Coletiva e pesquisador da Universidade Federal de Santa Catarina, Fernando Hellmann avaliou como “absurdo” que possíveis vacinas contra Sars- Cov-2 (Covid-19) sigam a mesma lógica de vacinação da gripe. “É um erro. Doenças diferentes requerem estratégias diferentes. Na estratégia contra influenza, as crianças estão entre os grupos prioritários, o que é diferente da Covid-19”, alegou.
O presidente da Sociedade Brasileira de Imunologia, Ricardo Gazzinelli, pontuou que a classificação de grupos prioritários também deveria ser combinada com uma hierarquia de áreas em que epidemia esteja fora de controle.
Professor do curso de Medicina da Ufes, o médico infectologista Paulo Mendes Peçanha enfatizou que o mais provável é que se tenha mais de uma vacina disponível.
“Os grupos prioritários não são difíceis de enxergar, sendo primeiro os profissionais de saúde, os idosos e as pessoas com doenças crônicas, como diabetes, cardiopatas, hipertensos e outros”, disse.
Ele ainda apontou os obesos. “A diferença que vejo para a vacina da influenza são as crianças, que parecem que adoecem menos na Covid-19, então não teriam a mesma urgência. Mesmo assim, tem que se enxergar aspectos como a volta às escolas. Tudo vai depender da quantidade de doses disponíveis”.
Já a médica infectologista Rúbia Miossi diz que a prioridade deve seguir o mesmo critério da vacina da influenza: vacinando primeiro os que fazem parte dos grupos que morrem mais e quem tem risco de adoecer de forma mais grave.
“Temos o profissional da saúde primeiro, os idosos, portadores de comorbidades e deve ter uma faixa de vacina mais à frente para professores ou gestantes”, defendeu.
SAIBA MAIS
Vacinação
- Com muitas vacinas em fases de testes, sendo duas delas testadas no Brasil e em fases avançadas, ainda não há uma definição de quando elas serão disponibilizadas à população.
- O secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Arnaldo Correia Medeiros, afirmou na semana passada que espera que ao menos 15 milhões de brasileiros sejam imunizados até o fim do ano.
Critérios
- Medeiros alegou que, inicialmente, não haverá vacina para todos e, por isso, a estratégia de vacinação deve ser a mesma que a adotada para imunização contra a influenza (gripe).
- O secretário citou prioridade para o grupo de faixa etária mais avançada, e neste grupo, aqueles que apresentam comorbidades (outras doenças). Em seguida, ele citou cardiopatias e obesidade como fatores de risco, e profissionais da saúde.
Polêmica
- O fato de representantes do Ministério da Saúde terem afirmado que os critérios para a vacinação contra Covid-19 levarão em consideração os critérios para a imunização contra a influenza provocou uma reação por parte de alguns especialistas.
- Eles questionam que as características para as duas doenças são diferentes. No caso do novo coronavírus, por exemplo, eles afirmam que as crianças não fazem parte do grupo com maiores complicações, ao contrário da influenza, em que elas estão entre os grupos prioritários.
- Outros profissionais defendem que a prioridade deve levar em consideração as diferenças do comportamento da pandemia em cada região, para que sejam priorizadas as áreas em que há um maior descontrole da doença.
Contraponto
- Mesmo com alguns especialistas criticando a estratégia do Ministério da Saúde, outros profissionais defendem que isso ainda irá depender da quantidade de doses disponibilizadas e que os grupos prioritários devem levar em conta a população de maior risco, assim como acontece na vacinação contra a influenza.
Fonte: Agência o Globo e especialistas.
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