Silêncio inquietante
"Uma sociedade dominada, enfraquecida e subserviente é tudo que um governo autoritário deseja"

Na semana passada iniciamos esta trilogia sobre a paz com sua definição ao emergir com o conceito do sociólogo norueguês Johan Galtung, que traz a ideia de Paz Positiva e Paz Negativa. Fica claro que um país ou uma determinada região pode não estar em guerra, mas ainda assim viver em permanente conflito silencioso. E esta falsa quietude tem diversas origens, não cabe em poucas linhas analisarmos todas, entretanto o âmago de boa parte delas se concentra nas disputas que ocorrem nos porões dos palácios, nas mesas de negociações que não aparecem na tela da sua televisão.
Uma sociedade dominada, enfraquecida e subserviente é tudo que um governo autoritário deseja. Segundo Bobbio; Matteucci; Pasquino, que constituíram o Dicionário de Política, os regimes que concentram o poder nas mãos de um só agente público, ou apenas uma única instituição, abraçam a principal característica de um governo permeado pelo autoritarismo.
É a clássica definição de uma ditadura. Países que vivem reféns de déspotas podem até conviver com uma “certa paz” interna, mas não fogem das mazelas de terem suas instituições fragilizadas ou, até mesmo, descontinuadas. Para que uma ditadura prospere, é fundamental que judiciário, imprensa e poder legislativo estejam curvados ao detentor do poder. É aí que a violência emudecida se espalha, seja internamente, ao controlar as pendengas domésticas ou com seus vizinhos, para impor vantagens regionais ao regime.
Nesse contexto, a violência urbana se espalha e ganha corpo, pelo fato de o crime organizado ter a capacidade de formar alianças com regimes despóticos. Mas em países onde as democracias já estão consolidadas, com no caso do Brasil, também é possível observarmos a falha do Estado em gerar paz positiva.
Convivemos com camadas sociais muito distantes, com serviços públicos falhos, corrupção em vários níveis de governo e com a brutalidade de gangues que atuam a margem da lei. Não estamos tecnicamente em guerra com ninguém, muito menos vivenciamos alguma agitação interna que possamos classificar como guerra civil, mas somos vítimas do medo, de uma inquietude diária que atravessa o rico e o pobre, em um contexto “democrático”, pois atinge todos, do campo as grandes cidades, no litoral e no interior, somos um país que vende a imagem de alegria para o exterior, mas o amedrontamento nos persegue.
Portanto, a paz não é a ausência do terror tradicional causado por guerras que assistimos apenas pela televisão ou em filmes. É algo que devemos construir de maneira mais profunda na sociedade e, ao mesmo tempo, algo que devemos fazer individualmente.
Alguns questionamentos acredito serem importantes, são eles: Estamos construindo uma sociedade que busca incansavelmente a paz? É saudável a violência de trânsito, na vizinhança ou em casa? Estamos construindo um Brasil socialmente mais justo? Temos eleito governos comprometidos com as necessidades do povo?
Enfim, mais do que olharmos para os conflitos ao redor do mundo, temos um caminho longo para construirmos a nossa própria paz positiva.
Thomaz Tommasi
Mestre em Política Pública e Desenvolvimento Local
MBA em Diplomacia e Relações Internacionais
MBA em Liderança, Gestão e Política pelo CLP
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