Tripla jornada da mulher moderna: quando dar conta de tudo adoece
Ela trabalha fora, cuida da casa, dos filhos, da família, da vida social e, muitas vezes ainda é cobrada
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Ela trabalha fora, cuida da casa, dos filhos, da família, da vida social e, muitas vezes ainda é cobrada para estar sempre impecável: sorridente, magra, bem vestida, produtiva e emocionalmente equilibrada. Essa é a realidade da maioria das mulheres brasileiras e no Espírito Santo não é diferente.
Segundo dados do IBGE, mais de 64% das mulheres capixabas economicamente ativas conciliam a vida profissional com os cuidados da casa e da família. Ainda que homens estejam mais presentes em tarefas domésticas hoje do que há 20 anos, o peso da responsabilidade familiar ainda recai majoritariamente sobre elas. A mulher contemporânea vive sob o impacto de uma tripla jornada, e muitas vezes, sozinha.
Por trás da força admirada, há uma exaustão silenciosa. A cultura da supermulher, aquela que “dá conta de tudo” tem um custo emocional altíssimo. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, as mulheres são o grupo mais afetado pela depressão no Brasil, e os quadros de ansiedade vêm crescendo, especialmente entre aquelas que acumulam múltiplos papéis sem o devido apoio.
Vivemos em uma sociedade que romantiza o excesso e cobra excelência feminina em todas as áreas, mas que pouco fala sobre o impacto disso na saúde física e mental. Não é sobre fraqueza. É sobre limites. É sobre reconhecer que ninguém dá conta sozinha o tempo todo.

A mulher moderna precisa e merece uma rede de apoio: companheiros que compartilhem responsabilidades, filhos conscientes de que cuidar da casa também é tarefa de todos, e amigas que acolham sem julgamento.
Precisamos normalizar o pedir ajuda, o não estar bem, o precisar parar.
Mais do que nunca, é necessário que a mulher se permita respirar. Valorizar os pequenos gestos do dia a dia: fazer as unhas, cuidar da pele, tomar um café sozinha olhando o céu, contemplar uma flor no caminho, ouvir uma música que aquece a alma. Momentos de autocuidado não são luxo, são sobrevivência emocional.
É preciso entender que saúde mental também se constrói com pausas. Que o descanso é tão importante quanto a produtividade. Que a mulher não precisa ser perfeita, apenas real. Que cuidar de si é o primeiro passo para continuar cuidando dos outros com leveza e presença.
Trabalhar demais adoece. Acumular funções sem suporte desgasta. E não é isso que queremos.
Queremos mulheres inteiras, respeitadas em seus limites, acolhidas em suas vulnerabilidades e livres para viver uma vida com mais sentido e menos cobrança.
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