Quando a Tecnologia Aproxima
A tecnologia é neutra — somos nós que decidimos se ela afasta ou aproxima

Durante muito tempo, ouvi que a tecnologia estava nos afastando. Que os celulares roubaram as conversas de mesa, que as redes sociais substituíram os encontros reais, que o toque virou curtida e o abraço, mensagem de áudio. Mas, com o tempo, e com um olhar mais atento, percebi que a tecnologia, na verdade, é neutra. O que a torna humana ou fria é o jeito como a usamos.
Como jornalista e comunicadora, sempre vi a tecnologia como uma ponte, não um muro. Ela me permite chegar onde o corpo não chega, ouvir quem está distante e criar vínculos que talvez nunca existissem sem ela. Quando comecei o Eu & Elas, por exemplo, não imaginava que o programa se tornaria também uma comunidade digital, um espaço de acolhimento, partilha e conexão genuína entre mulheres de diferentes idades e lugares.
Hoje, recebo mensagens de mulheres do interior do Espírito Santo, de outros estados e até de outros países, dizendo que se sentem representadas, que assistem, comentam, se inspiram. Essa é a parte mais bonita: perceber que a tecnologia, quando usada com propósito, pode gerar afeto. Pode criar redes de apoio, ampliar a escuta, dar visibilidade a histórias que, antes, ficariam escondidas no silêncio.
Não é a tela que nos distancia, é o desinteresse. A falta de presença mesmo quando estamos online. Já o uso consciente das ferramentas digitais é capaz de criar laços tão fortes quanto um encontro ao vivo. Uma live que emociona, uma conversa em vídeo que conforta, uma troca de mensagens que salva o dia de alguém. A tecnologia é, muitas vezes, o canal por onde passa o cuidado.
É claro que há excessos. O vício em notificações, a comparação constante e o ritmo acelerado podem adoecer. Mas isso não é culpa da ferramenta, e sim do modo como deixamos que ela tome o lugar da vida real. O segredo está no equilíbrio: usar o digital como extensão do humano, e não como substituto.
Nos últimos anos, vi mulheres se reinventando com ajuda da tecnologia, empreendedoras que começaram negócios pelo Instagram, artistas que mostraram seus talentos nas redes, mães que encontraram apoio em grupos online, profissionais que estudaram, cresceram e transformaram suas realidades. A internet, quando usada com consciência e afeto, tem um potencial transformador imenso.
Eu mesma vivo isso todos os dias. O jornalismo mudou, e eu mudei junto. Hoje, posso entrevistar à distância, gravar com o celular, editar no computador e publicar em minutos. Mas o que não muda é a essência: contar histórias com verdade. A tecnologia não substitui o olhar humano, ela o amplia. Ela me ajuda a alcançar mais pessoas, a tocar mais corações, a fazer com que a mensagem chegue a quem precisa ouvir.
Vivemos um tempo de paradoxos: hiperconectados e, ao mesmo tempo, carentes de vínculos reais. Por isso, acredito que o desafio não é se desconectar do mundo digital, e sim reumanizar a tecnologia. Usá-la como ferramenta de empatia, informação e construção coletiva. Quando escolhemos ouvir com atenção, comentar com respeito, apoiar, divulgar e somar, transformamos algoritmos em pontes.
Talvez o segredo esteja em lembrar que, por trás de cada tela, há uma pessoa. Com sonhos, dores, medos e esperanças, exatamente como nós. Quando entendemos isso, a tecnologia deixa de ser ameaça e passa a ser aliada.
No fundo, ela apenas reflete o que somos. Se formos gentis, ela espalha gentileza. Se formos solidárias, ela cria comunidades. Se formos humanas, ela aproxima.
E é por isso que sigo acreditando que a tecnologia não precisa nos afastar. Ela pode, e deve, nos unir. Depende do que colocamos nela: conteúdo, presença e, principalmente, alma.
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