Maracanã ganha gestor após oscilar por dez anos entre abandono e excesso de jogos
Para o futuro, porém, paira a ameaça de possível novo esvaziamento com a construção e a reforma de estádios no Rio de Janeiro
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Foram necessários dez anos para que o Maracanã, palco da final da Copa do Mundo de 2014, encontrasse um modelo de gestão de longo prazo. A dupla Fla-Flu foi declarada no início do mês a vencedora da licitação para a administração do estádio.
A aparente definição sobre a gestão da arena ocorre após um ciclo que se iniciou com marcas de abandono e se encerra com o excesso de jogos. Para o futuro, porém, paira a ameaça de possível novo esvaziamento com a construção e a reforma de estádios no Rio de Janeiro.
A final entre Alemanha e Argentina incluiu o Maracanã na seleta lista de estádios que sediaram duas decisões de Copa (1950 e 2014) --composta também pelo estádio Azteca, no México (1970 e 1986).
A reforma do Maracanã, que recebeu sete jogos do Mundial de 2014, consumiu R$ 2,11 bilhão (em valores atuais, corrigidos pela inflação), cerca de 50% a mais do planejado. A obra também ficou marcada como uma das fontes de corrupção do suposto esquema de propina do ex-governador Sérgio Cabral --ele nega.
Antes da Copa, o Governo do Rio de Janeiro havia escolhido um consórcio, formado por Odebrecht, AEG e IMX, para gerir o estádio.
Mudanças no projeto, a crise provocada pela Operação Lava Jato e questionamentos à licitação tornaram a concessão uma peça de ficção e objeto de constantes conflitos. Um deles, após os Jogos Olímpicos de 2016, fez com que o estádio fosse abandonado, deixando a grama amarelada. O complexo esportivo foi alvo de furtos que atingiram até o busto do jornalista Mario Filho, que dá nome oficial ao estádio.
A novela com a Odebrecht se encerrou em 2019, com o rompimento do contrato na gestão do governador Wilson Witzel. Foi quando Flamengo e Fluminense assumiram provisoriamente a gestão do estádio. O contrato precário foi renovado sucessivamente por cinco anos até o fim da licitação neste mês.
A gestão da dupla Fla-Flu ficou marcada pelo excesso de jogos e pela disputa com o Vasco por datas das partidas.
Em 2021 e também em 2023, o estádio recebeu mais de 70 partidas, tornando a conservação do gramado o principal desafio da gestão. Entre as arenas que recebem jogos da Série A, foi, de longe, a que mais recebeu jogos.
A administração do estádio, apontando justamente o excesso de jogos, tentou inviabilizar o uso por parte do Vasco. O clube cruzmaltino, porém, conseguiu na Justiça permissão para utilizar o Maracanã em diferentes oportunidades.
A assinatura do contrato do concessão por 20 anos não torna a relação menos conflituosa, já que o documento impede veto para que outros clubes da cidade realizem suas partidas no local. Além disso, o próprio governo incluiu como meta desejável a realização de 70 partidas no Maracanã.
O cenário, porém, pode mudar de figura com os planos de médio e longo prazo de Flamengo e Vasco.
A agremiação cruzmaltina pretende reformar São Januário e obteve nesta semana a aprovação na Câmara Municipal.
A nova arena tem previsão de capacidade para 47 mil pessoas, com início das obras no fim do ano. Durante a reforma, é provável que mais conflitos pelo uso do Maracanã ocorram. Depois, o Vasco deve reduzir a demanda de uso pelo palco da final de 2014.
Já o Flamengo negocia a construção de um estádio no centro da cidade, com apoio da prefeitura. O clube trabalha com um projeto prevendo entre 70 mil e 80 mil lugares, capacidade levemente superior à do Maracanã.
Há temor dentro do governo fluminense de que a nova casa rubro-negra gere o esvaziamento do campo mais antigo.
"Temos um ponto positivo e outro negativo. Eu acho que o Rio de Janeiro precisa de pelo menos mais um estádio de médio a grande porte. Quando você faz um estudo, entendemos que o Maracanã é o estádio que tem mais jogos no mundo. Então, está claro que o Rio precisa de mais um equipamento esportivo", afirmou o governador Cláudio Castro (PL).
"Contudo, temos que ter cuidado para que o Maracanã não vire um novo Mineirão ou Pacaembu, que se tornaram verdadeiros elefantes brancos. Então, precisamos ter um modelo de negócio que nos atenda e não prejudique o Maracanã, que é tão importante para o Rio de Janeiro."
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