Inclusão nas ondas de Jacaraípe no circuito mundial feminino de bodyboarding
Atletas da categoria PCD mostram toda habilidade na Praia do Solemar, no ArcelorMittal Wahine Bodyboarding Pro
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Inclusão, competitividade e prêmios. No último domingo (23), das 8 às 16 horas, foram realizadas as provas da categoria voltada para Pessoas com Deficiência (PCD) no ArcelorMittal Wahine Bodyboarding Pro, a primeira etapa do Circuito Mundial Feminino da modalidade, que acontece na Praia do Solemar, em Jacaraípe, na Serra.
Diferente da primeira edição do evento, agora as cinco melhores da categoria PCD também receberão premiações em dinheiro. A competição é dividida em duas subcategorias: uma voltada para pessoas com pernas amputadas e outra para as competidoras que passaram por cirurgia para a retirada de mamas por conta de câncer na região.

Para a atleta pernambucana Cintya Belly, que já teve câncer de mama e participou do Wahine Bodyboarding Pro do ano passado, a premiação torna a possibilidade de uma maior integração para o atleta PCD.
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“Com o aumento da participação dos atletas, as premiações só tendem a melhorar cada vez mais. Estou muito feliz com esse novo movimento, é muito importante esse olhar carinhoso pra categoria”.
A pernambucana Carla Cunha, que tem uma das pernas amputadas e mora atualmente em João Pessoa (PB), está empolgada para a prova e afirma que as ondas de Jacaraípe são semelhantes às de onde começou a surfar, na Paraíba.
“Ainda não experimentei entrar no mar de Jacaraípe, mas pelo o que observei, tem semelhanças com a praia de Intermares. É o mesmo tipo de onda, com a mesma intensidade. Estou vendo as outras meninas se divertirem e acredito que vou me identificar”.
A competição conta também com a presença de uma única capixaba: Letícia de Oliveira Alves, de apenas 14 anos, é atleta do Centro de Referência capixaba, do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e tem as duas pernas amputadas.
Segundo o diretor técnico e coordenador de arbitragem da competição, Chico Garritano, as meninas do PCD terão 30 minutos de bateria para demonstrar todas as suas técnicas.
“A vencedora vai ser aquela que mostrar o máximo de técnica possível, dentro do posicionamento da prancha, além da intimidade com a onda, a fluidez e a harmonia. Contudo, independente do resultado, todas são vencedoras”.
“No mar, tenho a sensação de igualdade”
Na subcategoria voltada para atletas com pernas amputadas dentro da categoria PCD, está a pernambucana Carla Cunha, de 41 anos, que vai para a sua primeira prova no Espírito Santo. Ela tem uma das pernas amputadas por conta de um acidente de moto.

Nascida em Olinda, ela mora há oito anos em João Pessoa, capital paraibana, onde ela trabalhava como vendedora em uma empresa de planos de saúde. Em 2016, um acidente mudou a sua trajetória.
“Um carro que passava por lá esmagou a minha perna esquerda logo após a minha queda. Já na outra perna, eu tive fratura exposta tanto no tornozelo, quanto no joelho e, nela, tenho pinos e placas instaladas”, conta a atleta.
Entretanto, mesmo com a perda do membro, a vida de Carla tomou um outro rumo: o esporte.
“Antes, eu não praticava esportes, somente na adolescência, quando eu praticava vôlei. Mas após o acidente, comecei a fazer musculação na academia, que foi onde eu tomei muito gosto pela prática esportiva”, explica Carla.
Há dois anos, a pernambucana pratica bodyboarding, mantendo o trabalho na academia. Carla conta que tudo começou com o incentivo do marido, que é surfista.
“Ele queria praticar e eu super incentivava, enquanto ficava na areia da praia tomando sol. Até que um dia ele me chamou para pegar uma onda na prancha dele, onde eu fiz deitada. Quando cheguei em casa, naquele mesmo dia, comprei uma prancha de bodyboarding para mim”, relata Carla.
A atleta conta que o bodyboarding ajudou ela em vários sentidos, trazendo uma sensação de liberdade.
“No mar, eu tenho também a sensação de igualdade. O esporte me trouxe muitos amigos e é tudo para mim, pois ele mudou tudo. É como se eu tivesse dado um giro de 360° na minha vida”, diz ela.
“Passei por depressão, por um processo de luto pela perda do membro. Mas o esporte veio para fazer esse resgate e deixar o meu corpo e a minha mente sãs, provando que não existe limites”.
Pernambucana surfa cada onda como se fosse pela última vez

Na subcategoria voltada para atletas que retiraram as mamas por conta do câncer, a pernambucana Cintya Belly, de 41 anos, quer aproveitar cada momento que o esporte trouxe de positivo para si.
Pegando onda há 27 anos, a atleta de Porto de Galinhas (PE) descobriu aos 35 anos que sofria de câncer de mama. “Ainda tomarei medicação por mais quatro anos. No total, são 10 anos de tratamento”.
Antes mesmo de descobrir o câncer, ela havia se afastado das disputas por dificuldades de patrocínio. Porém, em plena quimioterapia, ela decidiu retornar. “Já que eu ia morrer, queria morrer fazendo o que mais amava”, explica.
No mar, ela teve a aceitação da morte e se tranquilizou com o diagnóstico. “Quero aproveitar cada instante, até o último dia. Independente da causa ou diagnóstico, não temos o amanhã, somente o instante”, diz Cintya, que conta que a quimioterapia a deixou com a função cardíaca afetada, cansando mais. Mas isso só aumentou a vontade dela viver, sempre dentro do mar.
“O importante é mostrar que não devemos nos entregar diante de qualquer circunstância, dor ou dificuldade. Sempre em frente”
SERVIÇO
- Circuito Mundial de Bodyboarding Feminino - Wahine Bodyboarding PRO
- Data: 21 a 29 de abril, das 8 às 16h
- Local: Praia de Jacaraípe, na Serra
- Entrada: gratuita
Saiba mais: O ArcelorMittal Wahine Bodyboarding vai fazer história mais uma vez. Depois de ter inovado na última edição com uma bateria voltada apenas para atletas PCD, este ano, os melhores atletas desta categoria também receberão premiação.
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