Histórias de conquistas e superações para inspirar
Capixaba teve glaucoma congênito quando criança, perdeu a visão, mas não se intimidou e conta sua vida em palestras pelo mundo
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Capixaba, nascido em Guarapari, e com uma representatividade no mundo todo, o surfista Derek Rabelo, de 29 anos, que há anos mora em Florianópolis, em Santa Catarina, esteve recentemente em Vitória para contar um pouco sobre a sua trajetória no surfe e inspirar pessoas.
Batizado pelo pai com o nome de uma lenda do surfe havaiano, o veterano Derek Ho, o surfista teve um glaucoma congênito quando criança e logo perdeu a visão, mas ele não se intimidou pela deficiência e hoje coleciona experiências.
Algumas delas são contadas em palestras pelo mundo afora, como a que ele realizou no Reconecta, evento de inclusão e acessibilidade do Estado, promovido pelo Ministério Público do Trabalho.
Em entrevista ao jornal A Tribuna, Derek contou como é prazeroso e importante transformar a vida de muitas pessoas através das suas experiências.
A Tribuna - Derek, conta para gente como o surfe entrou na sua vida?
Derek - "O surfe entrou na minha vida, primeiramente através do meu pai. Ele já era surfista profissional, então ele já era um amante do surfe. E ele me deu o nome de Derek, em homenagem ao surfista havaiano Derek Ho. Eu cresci perto do mar, sempre ouvindo o barulho do mar, sempre em contato com pessoas que surfavam. E sempre foi o meu sonho me tornar surfista. Aos 17 anos, meu pai me deu uma prancha de presente, me levou para o mar pela primeira vez para poder surfar. Eu me apaixonei pelo surfe e desde então eu nunca parei."
- E o que o surfe te proporciona?
"O surfe me proporciona inclusão, acessibilidade, ele me proporciona trabalhar em contato com a natureza. Hoje eu sou surfista profissional e eu amo o que eu faço. O surfe me proporciona construir amizades novas, viajar. Eu já tive a oportunidade de conhecer mais de 25 países. Isso através do surfe também.
O surfe é um presente de Deus na minha vida. Além do surfe proporcionar isso tudo, o esporte me proporcionou a constituir uma família. Hoje eu sou casado, tenho dois filhos. E o surfe também me proporcionou me tornar palestrante. Entregar treinamentos em empresas, no setor corporativo, em eventos de desenvolvimento pessoal, em escolas, em mais de 25 países pelo mundo. Tanto em inglês quanto em português."
- Nessa jornada como atleta em um esporte radical, quais foram as principais aventuras e desafios que você enfrentou?
"As maiores aventuras para mim no surfe foram desafiar as ondas mais perigosas do mundo e as maiores ondas também, como Pipeline e Jaws, ambas no Havaí, Teahupo'o (Taiti), e Nazaré, que é a gigantesca onda em Portugal. E através disso, eu também tive oportunidade de fazer várias séries de televisão, alguns documentários e filmes.
E no momento estamos produzindo um grande filme que vai contar não só a história da minha vida, mas a aventura em buscar um dos grandes pelo mundo."
- Hoje, com experiência de tudo que você já viveu, qual a importância de contar para as pessoas nas palestras?
"Adoro a oportunidade de inspirar as pessoas, porque acredito que essa é a missão que todos nós temos, não apenas fazer algo para nosso próprio prazer, mas usá-lo para ajudar outras pessoas. E nas palestras tenho a oportunidade, através das minhas experiências que eu vivo no mar, no surfe de passar isso.
Eu sempre vou trazer isso para o palco em forma de ensino, mostrando a importância de a gente ter iniciativa, comprometimento e ser resiliente, para que assim a gente possa alcançar aquilo que a gente tanta almeja.
É isso que eu entrego dentro do meu treinamento que eu chamo de muito além do que se vê. São as minhas palestras."
- Qual a sensação de saber que você transforma vidas através da sua?
"Hoje eu vivo em foco de realmente ajudar pessoas, trazer essa oportunidade para as pessoas, mostrar que está na mão delas o poder de transformar a vida delas, não somente, mas a vida das pessoas que estão ao redor delas. Lembrando sempre que mantendo a nossa fé maior do que nosso medo, mantendo nosso foco na nossa jornada e não perdendo tempo e nos concentrando naquilo que a gente não quer."
- Como é voltar à sua terra Natal e poder contar sua história?
"O surfe me proporciona valores. O que eu vivo hoje me proporciona minha família, meus amigos, é um milagre divino na minha vida. O surfe me proporciona trabalhar, ser feliz, praticar um esporte e estar em contato com Deus através da natureza.
E voltar ao Espírito Santo, que é onde eu cresci, é sempre um prazer imenso, uma felicidade estar em contato com a minha terra, com a minha cultura, isso é sempre muito prazeroso e uma questão de honra.
Hoje eu já moro fora do Espírito Santo há mais de uma década, morei em alguns países por muitos anos. E já estou há cinco anos morando em Florianópolis, em um local onde eu sou muito bem acolhido. Meus dois filhos nasceram lá, tive a oportunidade de casar fora do Brasil, mas é sempre bom voltar para o Espírito Santo e aproveitar um pouco desse estado maravilhoso."
- Quais são os maiores amigos no surfe? E quais foram os locais que você mais gostou de surfar?
"Os meus maiores amigos entraram na minha vida no momento correto, e eu pude desenvolver uma amizade muito importante, não só com os atletas brasileiros, mas com os atletas internacionais também.
Então, hoje eu tenho amizade muito grande com o Carlos Guri, que foi um cara que me ensinou, foi meu mentor desde o início.
Tenho uma amizade muito forte com o Kevin Slater, Nick Fanning, Tom Carroll, essas pessoas que me auxiliaram muito ao longo da minha carreira. Entre outros, como CJ Hopgood, Danny Hopgood, todos esses caras que fizeram parte da minha jornada.
Que não é só sobre onde a gente quer chegar, é sobre viver cada dia intensamente, conhecer novas pessoas e cada dia estar aprendendo algo novo. O foco não tem que ser no nosso destino, mas sim a nossa jornada, como a gente está vivendo e aplicando as nossas experiências cada dia."
- Qual mensagem você poderia deixar para atletas de PcD não desistirem de buscarem sempre a superação?
"A mensagem que eu gostaria de deixar para os PcDs (pessoas com deficiência) é a mesma mensagem que eu deixo para todo mundo, porque nós somos todos iguais, cada um com suas particularidades. Todo mundo é sempre capaz de atingir, de alcançar algo.
O fato de talvez não ter sentido, ele não ter sentido, isso só significa que temos ainda quatro ou três outros sentidos que podem ser usados como ferramenta para a gente ser mais forte, viver a vida com alegria e felicidade. E essa mensagem está bem um tempo passar nos meus treinamentos."
Quem é
Derek Rabelo
Idade: 29 anos
Nasceu com glaucoma congênito que tirou sua visão nos seus primeiros dias de vida
Único surfista cego a surfar Pipeline (Havaí) e Teahupo'o (Taiti)
Surfista cego que pegou a maior onda até hoje, em Nazaré (Portugal)
Campeão da categoria Open no 1º Campeonato de Surfe de Rio, no Kelly's Whitewater Park
19º Colocado no Mundial de Downhill Speed (Peru), na categoria Open, em 2014
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