Bets despejam mais de R$ 1 bilhão por ano em 18 clubes da Série A
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Ao fechar com a Betano e mais que dobrar o valor que recebe pelo patrocínio master anualmente, o Flamengo fez subir consideravelmente o montante pago pelas bets aos clubes do Brasileirão. As empresas de apostas são as principais parceiras comerciais de 18 dos 20 times da Série A e despejam mais de R$ 1,1 bilhão nessas equipes.
Os R$ 268,5 milhões que serão pagos pela Betano anualmente ao Flamengo representam o maior patrocínio da história do futebol brasileiro e reforçam que as equipes estão cada vez mais dependentes de dinheiro oriundo das plataformas de apostas.
As casas de apostas só não estão no espaço nobre das camisas de Red Bull Bragantino e Mirassol, embora ambos tenham acordos com bets - 7K no Mirassol e Betfast no Bragantino.
O crescimento das bets no futebol nacional foi vertiginoso no cenário pós-pandemia. As casas de apostas aproveitaram uma lacuna deixada pelos bancos, principalmente a Caixa Econômica Federal, que dominou o mercado de patrocínios a clubes de futebol na década de 2010. Na gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro, o banco estatal perdeu espaço e bancos digitais, menores, tentaram suprir essa demanda, por pouco tempo.
Após a pandemia, as casas de apostas entraram no mercado brasileiro de forma intensa. Em 2024, apenas cinco times da Série A não eram patrocinados por empresas do ramo. As bets, então, começaram a se sobrepor aos bancos como principais apoiadores dos times nacionais.
De acordo com o estudo Mapa do Patrocínio, feito pelo Ibope Repucom e divulgado no mês passado, as companhias do setor financeiro lideraram a quantia, com 20 patrocínios, enquanto as bets estavam presentes em 18 clubes, com 15 empresas, na temporada passada do futebol nacional. Em relação às casas de apostas, houve um crescimento de 25% em comparação com 2023, quando 12 empresas do setor estavam nos uniformes.
De forma mais discreta, as bets tentaram avançar também na área dos “naming rights” dos estádios. No Nordeste, duas arenas tradicionais ganharam novos nomes: “Casa de Apostas Arena Fonte Nova”, em Salvador, e “Casa de Apostas Arena das Dunas”, em Natal. O projeto mais ambicioso entre os grandes do País não foi para a frente. O Santos desistiu de rebatizar a Vila Belmiro de “Vila Viva Sorte”.
Na visão de Magnho José, presidente do Instituto Jogo Legal, que representa o setor, o mercado de apostas brasileiro chegou ao estágio atual devido à falta de regulamentação no prazo inicialmente previsto. Na proposta do governo de Michel Temer, o setor deveria ter sido regulado dentro de dois anos, com prazo prorrogável por mais dois.
O setor foi regulamentado depois que o Congresso aprovou no fim do ano passado a lei, sancionada em 29 de dezembro pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que estabeleceu critérios sobre tributação e normas para a exploração comercial das apostas de quota fixa e definiu a distribuição da receita arrecadada e fixou sanções.
As regras deveriam começar a valer no fim do primeiro semestre, mas o prazo foi adiado e a regulamentação deve ser concluída apenas no ano que vem. Para operar no País, as casas de apostas terão de cumprir uma série de exigências determinadas pelo Ministério da Fazenda, entre elas ter sede no Brasil e pagar uma outorga de até R$ 30 milhões.
É consenso entre especialistas e quem opera no setor que, com o mercado regulado, cairá o número de casas de apostas, dando início a um processo antagônico à explosão de bets no futebol sem regras claras. Depois de atingir o teto, os valores com publicidade também devem despencar.
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