Aprender além das salas de aula
Colégio Salesiano utiliza pátios e jardins em extensões do currículo, unindo bem-estar mental e aprendizado na prática
O aprendizado ao ar livre é uma tendência que vem conquistando espaço na educação. Estudos apontam a prática, conhecida como outdoor learning, como aliada no combate à fadiga das telas e com potencial para promover uma regulação emocional por meio do controle do cortisol, hormônio que regula o metabolismo, imunidade, humor, pressão arterial e ciclo do sono.
O ambiente ao ar livre funciona como uma “descompressão química” para o cérebro do aluno, permitindo que ele volte para a sala (ou para o conteúdo complexo) com a cognição restaurada.
Jenner Ferreira de Almeida, professor de História e Projeto de Vida do Colégio Salesiano, unidade Jardim Camburi, explica que a utilização de metodologias ativas e criativas, aliada ao deslocamento das aulas para o pátio e demais espaços externos da escola, fundamenta-se na compreensão de que a aprendizagem significativa ocorre quando o estudante assume papel de protagonista em seu processo de construção do conhecimento.
“Ao promover atividades dinâmicas, jogos pedagógicos e experiências práticas em ambientes abertos, ampliam-se as possibilidades de interação, experimentação e engajamento, favorecendo diferentes estilos de aprendizagem”, comenta Jenner, que desenvolve na escola atividades além das salas de aula, como o Clube de Xadrez e aulas de artes marciais, com alunos do 6º e 7º ano do ensino fundamental.
Ao derrubar as paredes da sala de aula, a instituição replica os padrões de excelência vistos em instituições de referências como Cambridge, preparando seus alunos não apenas para provas, mas para compreender e interagir com o mundo real de forma inteligente e sensível.
Seguindo essa tendência, o professor exemplificou que busca fazer a parte teórica com slides ou livros em sala e, na parte que envolve reflexão, leva os alunos para fora e termina a aula com uma roda de conversa, com debate ou com alguma atividade que seja dinâmica.
O professor acrescentou que o Salesiano também tem alguns diferenciais específicos, que são valores chamados de salesianidade, que conversam com a educação fora da sala de aula, como o Projeto de Vida e Empreendedorismo, que busca proporcionar vivências que favoreçam o autoconhecimento, a autogestão, a empatia e outras competências, desenvolvendo um perfil empreendedor de si.
Natureza: um direito fundamental da infância
Está na Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança que toda criança tem o direito de brincar e de crescer em contato com a natureza. No entanto, segundo o Comitê dos Direitos da Criança da ONU, “a falta de acesso a espaços naturais e a baixa valorização do brincar ao ar livre comprometem o desenvolvimento físico, emocional e social das crianças”.
Tanto a Unesco quanto a ONU defendem que combater o déficit de natureza exige “políticas de educação baseadas em práticas como aprendizagem na natureza (nature-based learning) e ecossistemas de aprendizagem conectados ao meio ambiente”.
Essas estratégias, segundo os relatórios, melhoram a saúde mental, reduzem o déficit de atenção e aumentam o engajamento escolar.
Ocupando uma ampla área entre as avenidas Vitória e Beira-Mar, a unidade do Colégio Salesiano no bairro Forte São João se destaca por ter pátios, jardins, quadras, piscina e áreas abertas.
Cristynne Maximo, supervisora dos anos iniciais do Colégio Salesiano Nossa Senhora da Vitória, comenta que todos esses espaços viram extensões da sala de aula.
“Entendemos que o contato com a natureza não é só um complemento, mas faz parte do nosso processo. Este ano, a nossa Campanha da Fraternidade veio realmente afirmar isso”, disse a supervisora. Por ser uma escola confessional católica, o Salesiano usa a Campanha da Fraternidade como referência pedagógica e, neste ano, o tema também aborda a ecologia.
E um dos projetos desenvolvidos neste ano com os pequenos do primeiro ano da escola foi justamente sobre a preservação da natureza. Várias atividades foram realizadas ao ar livre e em visitas a locais para que os pequenos pudessem conhecer todo o processo de geração de lixo e reciclagem.
Os alunos tiveram oportunidade de visitar uma associação que faz coleta seletiva e entender o que é lixo e o que é resíduo.
“Tivemos diversas vivências de conscientização ambiental que envolveram a participação da prefeitura e dos familiares. A aula em campo foi planejada para que as crianças pudessem observar e experimentar, na prática, os conteúdos trabalhados em sala de aula. Durante essa saída, elas se depararam com a realidade da gestão de resíduos no ambiente urbano e puderam relacionar o que aprenderam com situações concretas”, conta a professora Ariadne Daleprane.
A tendência do Outdoor Learning
Referências mundiais
A tendência do outdoor learning aponta uma sincronização com o que há de mais avançado na educação no mundo.
Ao derrubar as paredes da sala de aula, a instituição replica os padrões de excelência vistos em instituições e sistemas educacionais de referência mundial, como da Green School (Bali, Indonésia), Forest Schools (Alemanha e Dinamarca) e Fuji Kindergarten (Tóquio, Japão), preparando os alunos não apenas para provas, mas para compreender e interagir com o mundo real de forma inteligente e sensível.
Saúde mental e cortisol
Um estudo publicado no periódico científico Frontiers in Psychology aponta que 20 a 30 minutos de contato com a natureza são suficientes para reduzir significativamente os níveis de cortisol (hormônio do estresse) no organismo.
O ambiente ao ar livre funciona como uma “descompressão química” para o cérebro do aluno, permitindo que ele volte para a sala com a cognição restaurada.
“Déficit de natureza”
Cunhado pelo especialista Richard Louv, o termo não designa uma doença médica, mas descreve os custos humanos da alienação da natureza: diminuição do uso dos sentidos, dificuldades de atenção e taxas mais altas de doenças físicas e emocionais.
O Manual de Orientação da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), em parceria com o Instituto Alana, recomenda o contato com o verde para prevenção de miopia (agravada pelas telas), redução da obesidade e melhora da imunidade.
O futuro da educação e inteligência artificial
No relatório "Reimaginar nossos futuros juntos", a Unesco destaca que a educação do futuro deve priorizar a cooperação e a solidariedade — habilidades que a IA não replica e que são desenvolvidas na interação presencial. A Teoria da Restauração da Atenção (ART) sugere que ambientes naturais recuperam a fadiga mental causada pelo excesso de estímulos digitais, melhorando o foco acadêmico subsequente.
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