Pesquisa mostra relação entre qualidade do ar e asma
Levantamento aponta que partículas ultrafinas têm um efeito maior na função respiratória dos pacientes asmáticos
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Estudo desenvolvido por uma equipe de pesquisadores da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e de outras instituições está analisando como a poluição do ar afeta os sintomas da asma em crianças e adolescentes de Vitória.
Denominado AsmaVix, o levantamento, iniciado em 2018, mostrou recentemente que as partículas ultrafinas, aquelas que são invisíveis a olho nu e estão presentes no ar, são mais nocivas nas crianças e adolescentes com asma.
“Quanto mais fina a partícula, mais fácil ela vai passar pelas vias respiratórias e mais longe ela vai, até atingir os alvéolos. Eles se localizam dentro dos pulmões, no fim dos bronquíolos. E é justamente nos bronquíolos o ponto mais sensível ao poluente para os pacientes com asma”, explica o médico José Geraldo Mill, professor do Departamento de Ciências Fisiológicas e um dos coordenadores do projeto.
De acordo com o pesquisador, essas partículas vêm de diversas fontes: poeira das ruas, escapamentos de veículos, desgaste de pneus, indústrias de mineração, siderurgia, portos, aeroportos, construção civil, além de fontes naturais trazidas pelos ventos.
Além do material particulado, o estudo mostrou que elementos encontrados nos gases também produzem efeitos nocivos nos pacientes asmáticos. Esses gases, em sua maioria, são oriundos das indústrias, da queima de combustíveis fósseis, veículos automotores, mas também podem ser gerados dentro de ambientes internos.
Frentes
O estudo foi realizado em duas frentes principais: engenharia e saúde. Na área de engenharia, os pesquisadores monitoraram a qualidade do ar por meio de três modelos: estação móvel instalada nos bairros onde os pacientes estudados vivem, equipamento dentro das casas e monitoramento pessoal, com um colar medidor de pureza do ar.
Já a equipe de saúde fez o acompanhamento por meio de um exame que mede a quantidade de ar que uma pessoa é capaz de inspirar ou expirar.
No total, participaram 226 crianças e adolescentes (entre asmáticos e não asmáticos), com idades de 6 a 14 anos, moradoras dos bairros Maruípe, Enseada do Suá, Jesus de Nazareth, Maria Ortiz e Jabour. A fase de coleta já foi concluída, mas as análises continuam.
“Esses dados são importantes para definir estratégias de melhoria da qualidade do ar e para o estabelecimento de métodos para enfrentamento desse problema de saúde pública”, destaca Mill.
Medidas preventivas contra a poluição
Pesquisadores da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) destacam que a poluição do ar pode ser administrada com medidas mais eficazes, como a elaboração de um plano para melhorar a qualidade das partículas que são lançadas na atmosfera, monitoramento setorial das fontes poluentes, levantamento de dados confiáveis e definição de metas de redução de emissão de poluentes.
“Não é um problema fácil de se resolver. A poluição do ar gera incômodo, afeta a qualidade de vida e pode causar danos à saúde. Por isso, é preciso pensar a gestão da qualidade do ar de forma abrangente”, destaca o doutor e coordenador em Engenharia Ambiental do projeto, Neyval Costa Reis Júnior.
Para isso, ele sugere regulamentação setorial das emissoras de poluentes, realização de políticas públicas eficazes e envolvimento da sociedade no diálogo. “A gente só vai conseguir avançar quando entender todas essas nuances”.
Monitoramento abrangente e inédito
Um dos tópicos mais relevantes do estudo Asma-Vix, que mediu o efeito dos poluentes na função respiratória das crianças em domicílio, obteve resultados importantes no final de 2023 e que foram divulgados nos primeiros meses de 2024.
A equipe envolvida no projeto destaca que diversos estudos sobre o tema já foram realizados, porém sempre abrangendo dados secundários. A inovação e o ineditismo do Asma-Vix, segundo os pesquisadores José Geraldo Mill e Neyval Costa, está na obtenção direta de dados na população exposta com um monitoramento mais abrangente, relacionando os sintomas com a qualidade do ar.
“A diferença desse estudo para os trabalhos convencionais é que estamos quantificando a exposição ao poluente de maneira mais específica. Fizemos a análise dos poluentes que estão dentro das casas das crianças e adolescentes estudados, além da análise dos poluentes externos. Essas pessoas passam 90% do tempo em ambientes internos, onde também são gerados poluidores nocivos que precisam ser analisados”, explica Neyval.
Para a médica pneumopediatra Marina Gaburro, que participou do estudo, identificar as fontes poluentes e reconhecer como os pacientes reagem a essas partículas, dentro e fora de casa, é fundamental para que as medidas de prevenção e tratamentos sejam definidas com mais precisão, para que pacientes asmáticos ou pessoas que não possuem a doença possam ter uma vida mais saudável.
“O projeto também acendeu uma alerta para a necessidade de melhorar os cuidados em relação à asma, incluindo acompanhamento médico regular, importância do uso dos medicamentos de forma adequada e medidas de controle ambiental. Essas ações em conjunto vão contribuir para controlar mais a asma e melhorar a qualidade de vida dessas crianças e adolescentes”, destaca.
Os pesquisadores também destacam outras ações como aprimorar a qualidade dos combustíveis, regulagem constante de motores de veículos, uso de hidrogênio verde, incentivo ao uso de automóveis elétricos e transporte público menos poluente, que também são fundamentais para um ar mais limpo.
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