Volta às aulas presenciais com cautela
Escute essa reportagem
As escolas estão reabrindo suas portas depois de sete meses sem alunos. Mas, apesar da saudade, é preciso ter cautela para evitar a contaminação pelo novo coronavírus.
Pediatra e autora de diversos livros sobre saúde infantil, Ana Maria de Ulhôa Escobar alerta que o momento ainda é delicado e deve ser pensado com atenção, cautela e seriedade por pais, professores e gestores escolares.
“O momento é muito delicado, estamos voltando às aulas, mas ainda estamos com uma pandemia que não está controlada no Brasil. Os números estão em queda, mas temos ainda uma taxa significativa de óbitos por dia. É uma situação que ainda gera muita preocupação e é nesse cenário que as crianças estão voltando às aulas”.
A médica ressalta que a situação em relação à doença é de segurança, mas ainda não é de tranquilidade. “Isso significa que escolas e instituições de ensino têm que oferecer biossegurança para crianças, professores e funcionários. Os gestores têm de deixar bem claro para pais e funcionários qual o modelo de protocolo que vão seguir para garantir essa segurança”.
Fazer com que as crianças cumpram as regras de protocolo é uma tarefa difícil, ainda mais quando se trata de crianças com menos de cinco anos, afirma a pediatra.
“Os professores não podem estar onipresentes e cuidar para que todas as crianças cumpram o protocolo de biossegurança, principalmente no caso daquelas com menos de 5 anos. Crianças nessa faixa etária têm dificuldade para entender todas as regras, por isso a necessidade de um menor quantitativo de alunos na escola e o planejamento adequado para que cada professor tenha a possibilidade de supervisionar os alunos”.
Avaliação
A médica pontua que o momento é da família avaliar as condições e decidir se a criança volta ou não às aulas presenciais.
“Antes de mandar os seus filhos para a escola, as famílias têm de pesar o risco e o benefício avaliando o comportamento das crianças, as medidas de segurança da escola, se essa criança mora com idoso ou outras pessoas do grupo de risco, entre outros pontos.”
Ana Maria diz que “o problema não é quando voltar, mas sim, como voltar às aulas presenciais. Se tem condições de segurança podemos voltar com cautela. Se não tem, é preciso repensar a situação”.
Dicas para gestores escolares
Equipamentos de proteção
Medidas de segurança
>As escolas têm de garantir equipamentos de proteção para todos os professores e funcionários, como máscaras e protetores faciais em abundância (mais de um por dia), álcool em gel, entre outros recursos.
>Já que a possibilidade é de poucas crianças nesse momento de retorno presencial, é importante escalonar professores e funcionários de forma que as pessoas que são do grupo de risco evitem o contato direto com as crianças.
>O ideal é dividir as crianças por sala de aula de forma que os professores consigam fazer a melhor vigilância possível de todas as medidas de segurança.
>Também é preciso evitar aglomeração na entrada e na saída, estipulando horários de chegada e de saída diferentes para cada turma. Pais de alunos não devem entrar nas escolas.
>A escola deve garantir que, caso professor, funcionário ou aluno apresente sintomas da Covid-19, seja possível testar todas as pessoas que tiveram contato com ele. A medida visa garantir a vigilância e, com isso, proporcionar um ambiente realmente seguro.
Matrícula para 2021 será diferente
A pandemia sensibilizou muito as famílias e os alunos. Como parceiras na educação das crianças, as escolas precisam estar atentas para acolher matriculados, ex-alunos e futuros alunos.
É o que pensa o professor Cássio Mori, empreendedor e sócio-diretor da agência educacional EMME, que tem 25 anos de experiência.
Ele será um dos palestrantes do 2º Congresso Digital Educacional, promovido pelo Sinepe-ES, e vai falar com gestores escolares sobre captação e retenção de alunos durante o pós-pandemia.
“É de grande importância a escola não abandonar os alunos nesse momento, mesmo aqueles que saíram por motivos variados. Seria muito estranho a escola só voltar a se comunicar com esses alunos no momento de fazer matrícula ou rematrícula”.
Para ele, que é especialista em marketing educacional, esse tem de ser um ano de muita proximidade e relacionamento com as famílias, mesmo aquelas que tiraram seus filhos da escola.
“A manutenção desse vínculo é o que vai garantir as matrículas de 2021. Será uma campanha de matrícula completamente diferente e inovadora”, destacou.
Cássio Mori ainda chama atenção dizendo que as escolas devem olhar uma série de outras famílias, que são possíveis clientes para o ano que vem. “Toda família está precisando de acolhimento, carinho e atenção e quem pode dar esperança para a família é a escola”.
Como não perder alunos
Mantenha o relacionamento com as famílias
>A escola não deve abandonar os alunos nesse momento, nem mesmo os que tiveram de sair durante a pandemia. Fica falso a escola só voltar a se comunicar com eles no momento de matrícula ou rematrícula.
>Este tem de ser um ano de muita proximidade com as famílias. A manutenção desse vínculo poderá garantir as matrículas de 2021.
>A campanha de matrícula precisa ser muito sensível, com respeito pelo momento e todas as cicatrizes que ficaram durante a pandemia. Deve ser uma campanha mais emocional e de acolhimento do que uma campanha de venda de produto.
Conte com professores para a manutenção dos alunos
>A captação e a manutenção dos alunos para o ano letivo de 2021 não pode ficar restrita ao departamento de marketing.
>A participação de professores e funcionários nesse processo é fundamental, porque foram eles que mantiveram a comunicação com as famílias e os alunos.
>Procure saber como as famílias estão e como os alunos se desenvolveram nesse momento. É uma maneira de demonstrar empatia e manter o vínculo afetivo.
Depoimentos
"Evolução”
“A pandemia acelerou a consolidação de uma tendência que já vinha se desenhando para a educação, que é a incorporação da evolução tecnológica ao ensino, por meio de aulas e atividades online.
Essa é uma prática que chegou para ficar, mesmo com a retomada do ensino presencial. Acredito que prevalecerá uma metodologia que combine, na medida do possível, o ensino presencial e o ensino a distância.”
“Tecnologias”
“A pandemia do coronavírus transformou inúmeros aspectos da vida em sociedade, principalmente a educação. Ela impôs o distanciamento social a mais de 1,5 bilhão de estudantes, professores e funcionários em todo o mundo.
As escolas e os professores tiveram que se reinventar e romper a resistência às novas tecnologias, que já se colocavam à disposição”.
Comentários