Adolescente afirma que aprendeu a utilizar armas pela internet
Filho de policial disse ainda em depoimento que sofreu bullying na escola e que não tinha alvo específico nos ataques em Aracruz
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Ao ser apreendido, o adolescente de 16 anos, responsável por promover um massacre em duas escolas de Aracruz, disse à polícia que sofreu bullying na escola. Além disso, afirmou que não tinha um alvo específico e que saiu atirando “aleatoriamente” nas vítimas. Acrescentou ainda que aprendeu a atirar vendo vídeos na internet.
“Ele alegou que nunca tinha praticado qualquer ato infracional e que, durante a sua vida estudantil, teria sofrido bullying de alguns colegas e, a partir disso, passou a ter ideias sobre o atentado”, contou o titular da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de Aracruz, André Jaretta, durante coletiva de imprensa ontem.
O garoto foi aluno da escola Primo Bitti até junho deste ano. Ao ser questionado sobre a escolha da unidade de ensino para promover o ataque, ele disse que havia decidido promover o ataque em duas escolas que ficassem mais próximo de sua casa e que atiraria aleatoriamente nas pessoas.
As ideias sobre como executar as ações vieram em 2020, segundo o delegado. “Porém, ele não falava isso com terceiros. Enquanto isso, foi alimentando esse sentimento de ódio”, apontou Jaretta.
Outra informação revelada pela polícia foi referente ao manuseio das armas. Segundo o delegado, o rapaz aproveitava o momento que os pais saíam de casa para praticar e manusear as armas. Ele também disse que assistia a tutoriais na internet que ensinavam o manuseio.
“Sempre que tinha oportunidade de ficar sozinho, ele pegava essas armas, e as manuseava, sem o conhecimento de seus familiares”.
Ao delegado, o atirador disse ainda que, no dia dos ataques, ele esperou os pais irem até o centro de Aracruz, onde fariam compras em um supermercado, para sair de casa em um outro carro da família com destino à escola pública.
“Então ele vestiu uma roupa camuflada que já tinha e se apoderou de alguns objetos que estavam na casa, que o ajudaram na ação e foi cometer os delitos”, informou.
Depois de provocar os ataques, o rapaz voltou para casa e agiu como se nada tivesse acontecido. “Os pais disseram que até comentaram sobre os ataques com ele, mas ele se fez de desentendido”.
“Simpatizante de ideias nazistas”, afirma delegado
Questionado sobre a suástica que o adolescente usava no braço, no momento em que cometeu os ataques às escolas em Aracruz, o delegado André Jaretta, que apura o caso, disse que ele era “simpatizante de ideias nazistas”.
“Nós já constatamos que ele era simpatizante de ideias nazistas, porém eu ainda não confirmei que ele fazia parte de algum grupo. Isso depende de uma investigação aprofundada e a polícia está atenta a isso”, disse.
Para saber se o jovem faz parte de algum grupo extremista, a polícia apreendeu equipamentos eletrônicos, usados por ele, como celular e computador.
“Realizamos uma análise preliminar e agora faremos uma análise mais profunda para avançar nas investigações e saber se ele tinha ligação com outras pessoas”, afirmou o delegado.
Jaretta disse também que, ao conversar rapidamente com os pais do adolescente, a polícia foi informada pelo casal que o rapaz fazia acompanhamento psicológico e psiquiátrico. Ele não soube dizer por qual patologia.
Durante a coletiva, o secretário de Estado da Segurança Pública (Sesp), Márcio Celante, foi questionado sobre uma possível existência de grupos extremistas no Espírito Santo.
“Nós não temos como afirmar se existem grupos focados em ataques parecidos, mas posso garantir que nossas forças policiais já estão apurando tudo”, disse o secretário Márcio Celante.
Entenda
Bullying
O adolescente,16 anos, responsável pelo ataque em duas unidades de ensino, em Aracruz, disse que sofreu bullying em uma escola onde estudou.
Sem alvo
Ele afirmou que entrou nas escolas e atirou aleatoriamente, sem ter um alvo definido.
Aproveitou saída dos pais
Ele estava sozinho em casa e aproveitou a ida dos pais ao centro da cidade, para sair com o outro carro da família rumo à Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Primo Bitti, onde atirou em várias pessoas.
Placas do carro
Antes de sair com o carro da família, o jovem colocou um plástico nas placas do veículo para impedir que fosse localizado pela polícia.
Roupa camuflada
Ele usou uma roupa camuflada, que já tinha em casa, além de outros objetos que o ajudaram na ação.
Dinâmica
Na escola Primo Bitti, ele entrou pelos fundos, onde quebrou o cadeado do primeiro portão. Passou pelo segundo portão e então entrou na sala dos professores atirando com uma pistola 40, que era usada pelo pai, um PM, municiada com 15 balas.
Depois que acabaram as balas, o jovem ainda recarregou a pistola com mais 15 munições e atirou novamente na sala dos professores. Lá, ele feriu nove pessoas e matou três, sendo que uma das vítimas morreu no hospital.
Após o primeiro ataque, ele entrou no carro da família e foi até a escola particular Centro Educacional Praia Coqueiral, que fica há 1 quilômetro de distância da Primo Bitti.
No local, ele entrou pelo portão da frente, que estava aberto, passou por um segundo portão, subiu uma rampa e logo começou a atirar em alunos que estavam em uma sala de aula. A estudante Selena Zagrillo, de 12 anos, foi atingida e morreu no local.
Após o crime, o adolescente entrou no carro e voltou para a casa como se nada tivesse acontecido
Em casa, ele colocou as duas armas do pai, uma pistola .40 e um revólver calibre 38 no mesmo lugar em que as pegou.
Depois de almoçar, ele foi com os pais para uma casa de praia da família, que fica em Mar Azul, também na região de Aracruz
Lá, ao ser abordado pela Polícia Militar, negou os crimes. Mas mesmo assim, os policiais o levaram na primeira casa da família, onde já estava o carro usado nos assassinatos. Na residência, ele acabou confessando que cometeu os atentados e mostrou onde estavam as armas e roupas que usou no crime. Depois, foi levado para a delegacia.
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