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Entrevistas Especiais

“Robôs não ameaçam a criatividade humana”, diz especialista

Para o neurocientista Álvaro Machado Dias, apesar das influências, máquinas e seres humanos não estão competindo, mas é preciso uma adaptação


Uma nova plataforma de inteligência artificial que  imita o cérebro humano está causando rebuliço no mundo da tecnologia e foi bastante comentada na última semana.  

O “chat-GPT”, que traz uma tecnologia  sofisticada e consegue conversar  sobre qualquer assunto,  além de criar textos de mais de mil páginas, poemas e até  músicas, tem chamado atenção. 

Imagem ilustrativa da imagem “Robôs não ameaçam  a criatividade humana”, diz especialista
Álvaro Dias: “As coisas que fazem de nós humanos não estão sob judice” |  Foto: Divulgação

Outras empresas, como a Google,  já preparam suas versões que prometem ser ainda mais precisas. 

Mas, o neurocientista  Álvaro Machado Dias, pesquisador do Núcleo de Apoio à Pesquisa em Neurociências Aplicadas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), destaca que,  apesar das fortes influências, máquinas e seres humanos não estão competindo. 

Mestre e pós-doutor, ele acredita que os robôs não ameaçam a criatividade humana, mas será necessário se adaptar e conviver com máquinas mais inteligentes.  

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A Tribuna  – Tem se falado muito sobre a novidade em inteligência artificial que imita o cérebro humano e até faz criações. O que é e como funciona esse novo robô?

Álvaro Machado Dias – O que está em alta agora é um novo chatbot (robô que conversa). Temos chatbot  há muito tempo. 

Os tradicionais determinam, a partir de palavras que usamos, a sequência comunicativa, que geralmente não estão contextualizadas, e a nossa sensação é de uma coisa absolutamente engessada. Conforme a opção que  selecionou, vem a próxima pergunta. 

Mas, a linguagem humana funciona de maneira profundamente diferente. Existe um processo que os linguistas chamam de produtividade linguística, que é a dinâmica através da qual um trecho  da fala  gera o próximo. 

Essa lógica da produtividade linguística, dos trechos estarem amarrados entre si, não era possível de ser criada tecnologicamente até muito recentemente. Isso porque,  tradicionalmente, esses algoritmos usavam poucas palavras do contexto, devido há um problema de “memória” de trabalho.

 O surpreendente é essa manutenção na “memória” de trechos cada vez maiores do que está escrito. 

Consegue-se manter um monte de coisa do que já foi usado para usar novamente, isso que faz com que o discurso fique concatenado, ou seja, se ligue de modo lógico.  Essa é a verdadeira  linha de algoritmos do chamado GPT.  

Mas, o grande lance é a atenção! A essência está em um algoritmo, em um processamento matemático que começa a levar em consideração muito mais palavras. Por isso, ele vai criando um discurso concatenado (com sequência lógica). 

Essa é a grande diferença e isso aponta naturalmente para uma evolução em que cada vez trechos mais amplos sejam bem concatenados até o ponto que um negócio desse consiga produzir mil páginas de texto de maneira absolutamente lógica. 

Podemos dizer então que essa nova inteligência artificial realmente cria? 

Existe um bordão: nada se cria, tudo se transforma. Isso não é uma verdade extrema quando estamos falando de arte, criatividade, porque evidentemente existem esforços para fazer coisas que pensam o que existe e, a partir disso, tentam construir aquilo que é radicalmente diferente.  A busca é criar algo que surpreendam as pessoas e produza nelas uma experiência afetiva, uma experiência intelectual diferenciada.

Se olharmos por esse ângulo um algoritmo desses não cria nada. Os robôs não ameaçam a criatividade humana. 

Agora, por outro lado, muito do que criamos segue uma estrutura. Nesse sentido, um algoritmo como o chat GPT é capaz de coisas novas. São variações e temas. Mas, são variações que não replicam exatamente o que existe. 

Então, temos de um lado  produções intelectuais complexas, radicais, sofisticadas, opinativas e assim por diante. E do outro,  temos produções que basicamente replicam uma estrutura, que também é alguma coisa  nova, mas que pela sua própria natureza não podem ser radicalmente distintas daquilo que já existe. 

Um aplicativo como esse é capaz de fazer essa segunda atividade, mas não a primeira.

O ser humano também vai ter que evoluir em relação a esse tipo de tecnologia?

 Sempre acho que não só pode, mas que vai necessariamente se transformar.  

Um dos grandes vetores da transformação do comportamento humano é a evolução tecnológica, temos mudado desde o surgimento das redes sociais, por exemplo, em um processo que chamo de algoritmização do pensamento. Agimos de maneira que reflete o contato constante com algoritmos.

Mas, especificamente nesse caso,  existe uma questão que é de: ou lutar contra a coisa, fazer um movimento de tensionamento ou buscar acoplá-la ao nosso mundo para que a gente consiga tirar o melhor disso.

Mas, sinto que precisamos fazer um esforço ativo para encaixar o uso das novas ferramentas de inteligência artificial da maneira mais orgânica possível em nossas vidas. 

A impressão que temos é que a evolução das máquinas é muito mais veloz do que o tempo que temos para desenvolver um equilíbrio com ela. Isso faz sentido? Vamos conseguir chegar a um ponto de equilíbrio?

Sim! Mas, por uma razão muito esquisita. Acredito que as descobertas científicas tal como a gente as encara hoje, terão fim. Não acho que vamos continuar descobrindo coisas ou com o mesmo interesse e afinco, como estamos fazendo agora, como fazemos no século XX de maneira indefinida. 

Em um futuro remoto, boa parte do que tem para ser descoberto, já vai ter sido descoberto e vamos estar com esse processo meio congelado. 

Então, nesse contexto,  diria que, de fato, vamos andar par e passo,  a evolução da nossa mentalidade com a evolução tecnológica. 

Até lá o processo vem sendo e,  deverá continuar sendo, esse em que a gente sempre sente que a tecnologia anda mais rápido do que as mentalidades.

Então, entenda que de fato a gente está em um momento em que novas tecnologias estão surgindo. De fato, algoritmos e linguagem que permitem conversação e produção de qualquer tipo de conteúdo e que estão mobilizando todas as grandes empresas de tecnologia do mundo, não é brincadeira. Há uma mudança!

Não se acanhe em não conhecer. Uma coisa que pode fazer é pegar o próprio chat GPT e pedir para ele te explicar o que é e como funciona. Devemos conhecer para mais segurança. 

As coisas que fazem de nós humanos não estão sob judice. A criatividade, as experiências sensoriais, bom senso, afetividade, nada disso tá em debate. O que está em discussão é a produção linguística que parece com a produção humana, em um nível não radicalmente inovador, o qual vai fazer com que, cada vez mais, usemos muletas nessas tarefas. Então temos que olhar para aquilo que nos diferencia, que pode contribuir com o mundo, e reforçar essas coisas. 

Assista a entrevista na íntegra com o neurocientista

 

Tribuna Online
 

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