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Entrevistas Especiais

“É preciso manter o vínculo da criança com o professor”, diz educador e psicólogo


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Imagem ilustrativa da imagem “É preciso manter o vínculo da criança com o professor”, diz educador e psicólogo
Marcelo Cunha Bueno diz que é possível garantir o ensino infantil a distância, desde que o modelo seja utilizado como complemento |  Foto: Divulgação

O isolamento social e o consequente fechamento das escolas trouxe um cenário praticamente inexplorado na educação infantil: o ensino a distância. O problema é que essa modalidade, já consolidada nas faculdades, não está sendo aplicada de forma correta para os pequenos, na análise do educador Marcelo Cunha Bueno.

“A educação infantil tem como característica uma aprendizagem que não é só focada na transmissão de conteúdo. A criança aprende de forma sensível e sensorial. O recurso do corpo e do contato social é usado para construir intimidade, o que resulta na aprendizagem”.

É nesse contexto que o problema se apresenta. “O isolamento esvazia esse sentido de educação infantil”, reconhece o educador.

Mas, então, como garantir a existência do ensino infantil diante da pandemia? Para Bueno, é possível fazer isso de forma online, desde que o modelo seja utilizado como complemento, reforçando o vínculo entre professores e crianças, para criar aquilo que ele não chama de aula: “É uma experiência afetiva”.

Em entrevista ao jornal A Tribuna, o pedagogo, que tem especialização na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, falou sobre como o ensino pela internet pode ser realizado para crianças e deu orientação aos professores.

Falou ainda sobre o difícil desafio de implantar tudo isso na rede pública.


ENTREVISTA | Marcelo Cunha Bueno, educador e psicólogo


A Tribuna – A pandemia trouxe a necessidade de aulas pela internet, mas esse modelo é indicado para o ensino infantil?
Marcelo Cunha Bueno – A criança aprende de forma sensível, sensorial, usando todos os seus recursos de inteligência, a brincadeira, o escutar, o toque, e isso contribui para a aprendizagem. A presença das outras crianças ajuda a construir noções individuais.

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Sem a presença, é difícil ter atenção e entrega, que são ferramentas para alçar o conhecimento. Por isso, o online, como única ferramenta ou substituição, não funciona, mas a longo prazo, se a gente pensar como complemento, funciona. Não está dando certo porque as escolas tendem a copiar o presencial para o online.

A criança abre a tela do computador e só enxerga cabeças. É uma amputação do coletivo.

Mas como utilizar a internet como complemento?

É preciso mudar o objetivo do ensino virtual. Ele não pode ser transmissão de conteúdo. O adulto do outro lado precisa mobilizar experiências para a criança, o que está ligado ao que ela já construiu no ambiente escolar e familiar. A educação online precisa ser uma experiência afetiva.

E como prender a atenção da criança para criar essa experiência?

Nessa busca, observamos professores que se descobriram cantores e contadores de história. As pessoas tinham muito preconceito do professor como essa figura de entretenimento. Mas como vai chamar a atenção da criança? Precisa se valer do artístico. Faça a família dançar, conte histórias, monte brinquedos juntos, dê desafios.

O que inviabiliza isso?

As escolas colocam muito tempo nas aulas online, e as crianças se desinteressam. É preciso ter atenção no tempo de atividade, pois ele tem muita importância na educação infantil.

Temos que encarar o ensino a distância como uma realidade que chegou, e precisamos repensar os currículos. Podemos achar difícil, mas precisamos entender que o modelo será importante.

Há escola avançando nisso?

Já é realidade para algumas, mas é um recorte das privadas. A dinâmica da educação infantil no online era inexistente. Mas, com o tempo, muitas escolas vão conseguir montar atividades. Na minha, também enviamos kits para as crianças e fazemos reuniões online com as famílias, pois uma só inserção é pouco. E, mesmo assim, é difícil.

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Se já é difícil no privado, no ensino público será ainda mais complicado?

O caminho é bem mais complexo na rede pública, pois não pode simplesmente mudar o currículo. É preciso mudar a cultura, que é construída com muita má vontade e incompetência, embora os educadores sejam altamente qualificados e dedicados. Mas eles são esvaziados na potência educativa pela burocracia do ensino público.

Vemos governo disponibilizar aula pela internet e televisão, mas a família tem computador? Tem dados de internet? Nem todas vão ter. Isso mostra que a educação pública precisa de socorro.

Qual é a importância do vínculo entre professores e crianças nesse processo?

A identidade do ensino infantil é o vínculo. A nossa função como professores é criar uma estrutura afetiva para que as crianças criem formas de se relacionar. O grande motor que conecta tudo é o vínculo. Não podemos perder o vínculo da criança com o professor, pois é esse vínculo que transforma informação em conhecimento e conteúdo em aprendizagem.

A criança está em busca da verdade de cada adulto que está do lado dela, não da verdade universal. É dessa verdade que ela constitui a identidade dela.

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