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Entretenimento

Wagner Moura é um ladrão de drogas em nova série da Apple TV+; ator conta bastidores


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Wagner Moura está de volta ao streaming e a uma produção internacional. Depois de suas experiências em Narcos (na qual interpretou Pablo Escobar, líder do Cartel de Medellín), Iluminadas e Sr. e Sra Smith, ele agora é Manny, um imigrante brasileiro, na série Ladrões de Drogas, da Apple TV+, com estreia nesta sexta-feira, 14.

Trata-se de uma adaptação do livro de mesmo nome, escrito por Dennis Tafoya. O ator divide cena com Brian Tyree Henry, indicado ao Oscar de ator coadjuvante por Passagem. Na série, ele dá vida a Ray.

Os dois personagens são amigos e se conheceram ainda adolescentes, em um contexto de prisão. Para sobreviverem, fingem que são da DEA, polícia de narcóticos americana. Usando um disfarce, roubam drogas e dinheiro de pequenos traficantes. No entanto, em uma das ações, um incidente acaba transformando a vida dos dois para sempre.

A série tem por trás nomes de peso como o roteirista Peter Craig (Jogos Vorazes - A Esperança, partes 1 e 2, além de Top Gun: Maverick e da sequência de Gladiador) e do diretor Ridley Scott, que dispensa apresentações.

A presença dessas figuras tão ilustres foi um dos motivos para Wagner aceitar o trabalho, como diz o ator em entrevista ao Estadão. "Foi um grande combo, mas a forma como eu entrei na série foi muito incomum", começa, explicando que quase não virou parte do elenco.

Ele conta que recebeu o convite dos produtores com apenas alguns dias para o início das filmagens. "E eu sou um ator que preza pela preparação", diz. Então, teve dúvidas. "Fiquei 'meu Deus, é Ridley Scott'. Mas logo depois disso, pensei: 'eu não sei se consigo fazer isso'", lembra. As dúvidas, porém, se dissiparam após ele receber uma ligação de Brian.

"Ele me ligou, e imediatamente ao ouvir a voz dele, pensei: 'vou aceitar'. Foi uma coisa muito espiritual. Meu relacionamento com esse cara é algo muito incomum", conta o astro brasileiro, que também já atuou com Elizabeth Moss.

Wagner ainda explica que aceitou participar da série nesses termos, sem um tempo grande de preparo, também pelo desafio. "Achava que seria algo que me sacudiria como ator, apenas aparecer em algum lugar e fazer sem muita preparação", diz.

Ainda assim, o ator lembra que, antes de entrar no set para a primeira cena da série, ele chamou Brian em uma sala e se apresentou. "Fechei a porta, nos olhamos, e eu disse: 'meu nome é Wagner, sou do Brasil, tenho 45 anos, tenho três filhos, estou com medo'."

Depois disso, Brian fez a mesma coisa. "Nos colocamos de uma forma muito vulnerável e logo depois disso fomos filmar a cena que abre a série. A partir daquele momento foi uma conexão para a vida toda", celebra antes de dizer que tem vontade de levar o colega e amigo para conhecer a Bahia, seu estado natal.

Conexão e profundidade

Quem vê a conexão dos dois tanto durante a entrevista - ambos falaram juntos ao Estadão - quanto na série, não imagina que eles sequer se conheciam pessoalmente. "Eu era um fã, um grande admirador. E é interessante porque quando tomamos a decisão de que seria Wagner, eu fui a pessoa a ligar para ele", conta Brian.

"Sabia o que estávamos pedindo dele, e pensei que se alguém me ligasse com essa proposta, eu diria: 'você está louco?' E porque eu o respeitava tanto, eu disse: 'o que estamos pedindo de você é loucura, mas saiba que se você se juntar a nós seria uma honra'", continua.

"Compartilhar espaço com ele é sentir-se protegido e amado, e assim que ele aceitou ser Manny tudo cresceu", completa Brian. "Mudou a dinâmica de quem Ray e Manny poderiam ser. Mudou a forma como eles se mostravam no mundo e isso é refletido ao longo de toda a série".

Na história, os personagens se conhecem ainda na adolescência, ficam amigos e, depois de adultos, continuam tendo uma relação de amizade. "Estamos sempre próximos um do outro, sempre há essa conexão através do toque", afirma.

Para além dos protagonistas

A relação dos amigos reflete a profundidade dos personagens, que vai além da dupla de protagonistas. Enquanto Manny e Ray tentam se livrar da bagunça causada por um acontecimento ainda no início da história - que vamos evitar contar para não dar spoilers -, os verdadeiros policiais da DEA tentam entender o que está acontecendo na cidade. Afinal, uma guerra entre cartéis foi iniciada.

É nesse âmbito que estão os policiais Kristy Lynne (Marin Ireland) e Mark Nader (Amir Arison) estão inseridos. Além de buscarem quem são os novos traficantes da região, eles precisam lidar com a perda de um colega de trabalho. "Pensei muito sobre o fato de que minha personagem tem muito mais camadas do que aparenta à primeira vista", explica Marin, deixando claro que o espectador deve se surpreender com as cenas em que Kristy aparece.

"Em vez de interpretar alguém que está escondendo algo, pensei que ela simplesmente não sabe mais quem é. Ela chegou ao fundo do poço e nem sabe mais para onde ir. Isso trouxe uma sensação de imprudência para ela - ela não tem mais nada a perder, então pode correr riscos absurdos e fazer o que quiser. Isso a torna quase um animal selvagem, capaz de fazer qualquer coisa", continua.

Se para Kristy o drama é ter perdido tudo, para Mark é tentar se manter fiel à sua forma mais reta de olhar o mundo, seguindo as regras, não importando o quanto isso possa atrasar a sua busca. "Como humanizar esse cara que está atolado na burocracia, lidando com política e que precisa cumprir seu dever? O divertido foi encontrar as pequenas nuances. Ele se preocupa com a personagem da Marin, mesmo estando em conflito com ela. Também tem uma relação engraçada com o parceiro novato, interpretado pelo Will Pullen. Brincar com isso foi muito divertido", explica Amir.

Ele também aponta o cuidado da equipe com detalhes que fizeram muita diferença na hora de compor o personagem. "Peter (Craig) e a Jenny (Gering) adicionaram detalhes que deram uma dimensão maior. Quando entrei no escritório do meu personagem pela primeira vez, vi prêmios e citações na mesa - coisas que nem aparecem na câmera. Isso mostra o cuidado com o mundo que estão criando", diz. "Vi uma citação de um promotor público de 2019 que dizia 'Coragem Especial'. Pensei: 'Ok, sou corajoso. Estou aqui desde 2017'. Pequenas coisas assim tornam tudo mais divertido", complementa.

Mistérios de uma adaptação

A forma de ser dos personagens é algo que já estava no livro, como aponta Peter Craig, criador e um dos diretores, que também assina a produção executiva da série. Para ele, o fato da história ser sobre pessoas se passando por outras já garante que elas têm muito a ser explorado. "Isso traz todas as complicações de caráter. São pessoas que não conseguem conviver com algo em sua própria personalidade e vão ter que confrontar isso. Achei que havia muita profundidade em algo que parecia simples na superfície. Além disso, achei que o livro capturava muito bem a sensação de lugar", comenta.

A história se passa na Filadélfia, mais precisamente, em bairros periféricos. "Eu sabia que queria fazer [a adaptação do livro], e também estava muito feliz porque havia muito espaço para invenção nele. Isso também faz parte do processo", continua.

Ladrões de Drogas pode até seguir a vida de dois bandidos, mas para Craig, "o maior desafio foi amarrar a história de uma forma que fosse totalmente autêntica, mas também um pouco esperançosa". E, apesar de foras-da-lei, são personagens carismáticos, que nos fazem torcer por eles.

"Eles são criminosos que justificaram o que estão fazendo de uma forma que faz sentido para eles", defende Craig. "Viram seus bairros se deteriorarem e sentem que muitas vítimas foram ignoradas, enquanto pessoas terríveis se beneficiavam. Eles acham que poderiam tirar um pouco do tráfico de drogas, algo que conhecem bem, algo que viram muito ao longo de suas vidas. Acho que se sentem justificados em suas ações. Como Ray diz, estão apenas tirando uma fatia do caos."

"O que é diferente sobre nossos personagens é que eles realmente têm moralidade. Eles têm coisas que amam e pessoas de quem cuidam. Eles não conseguem ser tão implacáveis quanto as pessoas com quem estão lutando, porque têm que confrontar o fato de que, na verdade, são pessoas boas, seja lá o que isso signifique", finaliza.

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