“Rita Lee foi um farol para muita gente”, diz Mel Lisboa
Em entrevista ao AT2, a atriz Mel Lisboa fala sobre sua estreia na peça inédita em Vitória e que foi baseada na autobiografia da cantora

Em um ambiente predominantemente masculino, Rita Lee abriu caminho para a mulherada no rock, tornando-se a rainha do ritmo no Brasil.
Lá nos anos 80, já cantava sobre temas que são tabus até hoje, como sexo, drogas e menstruação. De tanta ousadia, virou padroeira da liberdade, ícone fashion e referência para muitas pessoas.
A atriz gaúcha Mel Lisboa, 43, faz parte desse grupo que se viu encantado por todas as características que fazem de Rita um ser único e plural.
“Nunca houve ninguém igual. A autenticidade, a quebra de paradigmas que ela trazia apenas por ser quem ela é, pelas atitudes, a irreverência, o autodeboche, a inteligência... Ela era à frente do seu tempo. Rita Lee foi um farol para muita gente”, afirma ao AT2.
A pedido da própria cantora, que morreu em 2021 após a luta contra um câncer de pulmão, Mel está de volta aos palcos para interpretá-la no espetáculo “Rita Lee - Uma Autobiografia Musical”.
Diferente da peça “Rita Lee Mora ao Lado - O Musical”, que era baseada em livro homônimo narrado por uma vizinha fictícia, o novo espetáculo traz os altos e baixos da artista sob sua própria perspectiva, apresentada em obra literária de 2016.
“A Rita assistiu à primeira montagem e adorou. Acho que isso foi combustível para ela escrever a autobiografia. Em 2022, quando ela pede para eu narrar o livro, ela já tinha pedido para voltar a peça. Então, nos demos conta que o certo seria fazer um novo espetáculo, agora baseado na autobiografia”.
Autor e um dos diretores da atração inédita que chega a Vitória, em outubro, Marcio Macena comemora o sucesso da montagem.
“O Brasil, tão diverso em suas linguagens artísticas, tem nos recebido com muito carinho, e a gente deixa cada palco com a sensação de que, de algum jeito, a energia da Rita está presente, e que ela segue fazendo um monte de gente feliz!”.
Atriz: “O risco que corri lá atrás foi grande”

AT2 – Interpretar Rita Lee ganhou um novo sentido após a sua partida?
Mel Lisboa – Voltar aos palcos com ela foi um pedido dela. E como se recusa um pedido desse? Mas eu sinto que é diferente interpretá-la quando ela não está aqui. É diferente pra plateia, pra mim, a conexão com ela fica menos material, e mais espiritual.
Chega a ser espiritual?
Não tenho nenhum tipo de ritual mais espiritualizado. Minha conexão é espiritual com ela por outras questões. Algumas coisas que o universo foi me mostrando e que, muitas vezes, acho que não é só coincidência.
Qual foi o maior desafio em dar vida a esse ícone?
Todos. A partir do momento que a cortina se abre, já estou ali me arriscando o tempo inteiro, porque não é uma tarefa fácil interpretar alguém que é tão importante para tanta gente. Tenho respeito e faço com muito cuidado o meu trabalho.
Ela pedir para você interpretá-la novamente te deu mais confiança?
O risco que corri lá atrás foi grande. Ela assistiu ao espetáculo, poderia não ter gostado e o público também não. Felizmente, não foi o que aconteceu. Mas, a partir do momento que ela aprova e pede para voltar, existe uma responsabilidade, porque é a Rita que a Rita aprovou, tem um peso maior. Mas, por outro lado, me dá mais segurança. Se ela gostou, quem sou eu para dizer que não funciona?
O que interpretar Rita Lee representa na sua trajetória?
Foi um divisor de águas. Tive uma sequência de escolhas no início dos anos 2010, como fazer parte da Cia Pessoal do Faroeste e interpretar Rita Lee, que fizeram com que minha carreira, a partir dali, fosse para outro lado.
Quando foi seu primeiro contato com a obra dela?
Quando começo a lembrar da minha vida, já tinham vários artistas, e entre eles estava Rita. Não tenho uma memória desse momento de descobri-la. Mas uma vez fui numa loja de CDs e lembro de comprar “Rita Lee em Bossa 'n' Roll”. Ali foi um momento em que eu escolhi comprar a Rita. Mas ela sempre esteve na minha vida.
Tem uma história curiosa ou engraçada com a Rita?
Ao contrário do que muita gente pensa, não tive muitos encontros com ela. Inclusive, não tive nenhum encontro só eu e ela.
Vê semelhanças entre vocês duas?
Me comparar com ela é de uma audácia... Não chego nem ao dedo mindinho dela! Adoraria ser mais Rita e menos Mel. Mas eu sou o que sou. Sou privilegiada por interpretá-la e tanta gente chegar pra mim e falar emocionada o quanto curtiu o trabalho.
Mas existe algo parecido?
Acho que tem uma autocrítrica em demasia. A autocrítica pode ser ótima quando você consegue enxergar seu trabalho e tem a chance de melhorar. Mas, quando aquilo se torna algo que pode te atrapalhar, já não passa a ser uma característica legal.
E a Rita, lendo o livro, você percebe que ela se autodeprecia pra caramba. E não precisa, né? Mas é uma forma com a qual ela se enxergava. Tem algumas coisas que sou um pouco parecida. E não é só a autocrítica. Eu sou crítica dos outros também. Sempre tenho um olhar observador e crítico sobre as coisas e de mim mesma. Não me perdoo também.
Algum dia sonhou em viver um amor tão duradouro quanto o de Rita Lee e Roberto de Carvalho?
No fundo, a grande maioria das pessoas adoraria ter um amor duradouro, verdadeiro. O amor entre eles não foi perfeito e não é romantizado, tiveram várias questões, mas foi verdadeiro, honesto, duradouro e isso é lindo. Quem que não quer um amor assim? Eu não idealizo muito as coisas. Vivi um amor enquanto durou. Sei que é complicado, as relações são difíceis. É preciso ceder bastante, mas acho possível, não é difícil, não.
Serviço
“Rita Lee – Uma Autobiografia Musical”
O quê: Espetáculo sobre a rainha do rock brasileiro estrelado por Mel Lisboa e dirigido por Marcio Macena e Débora Dubois.
Quando: Dias 24, 25 e 26 de outubro. Sexta às 20h, sábado às 16h e 20h e domingo às 17h.
Onde: Teatro da Ufes, Goiabeiras, Vitória.
Ingressos: A partir de R$ 25 (Mezanino/meia).
Venda: Site sympla.com.br, e bilheteria, de terça a sexta-feira, das 14h às 19h, e nos dias de espetáculo, a partir das 15h.
Clas.: 12 anos.
MATÉRIAS RELACIONADAS:




Comentários