"Wicked: Parte II": Fenômeno da fantasia está de volta aos cinemas
Em “Wicked: Parte II”, Elphaba domina ainda mais sua magia. Já Glinda vive no palácio e desfruta das vantagens da popularidade
Com novas músicas e prometendo repetir o sucesso grandioso do primeiro filme, “Wicked” volta aos cinemas a partir desta quinta-feira (20) para dar uma conclusão à história até então não contada das Bruxas de Oz.
A continuação da sensação global de 2024, que se tornou a maior adaptação cinematográfica da Broadway de todos os tempos e conquistou 10 indicações ao Oscar, é novamente estrelada por Ariana Grande e Cynthia Erivo.
“Em 'Wicked: Parte II', todas as perguntas serão respondidas. A amizade delas se torna um ato de coragem silencioso”, adianta o consagrado e premiado produtor Marc Platt, que já venceu o Tony e Emmy e retorna à produção ao lado de David Sonte, multivencedor do Tony.
A história começa com as personagens principais lidando com as consequências de suas escolhas. Demonizada como a Bruxa Má do Oeste, Elphaba (Cynthia Erivo) se esconde nas profundezas da floresta, onde aperfeiçoa seu domínio da magia.
Apesar de ser assombrada pela injustiça, ela não abandona sua compaixão e deseja expor a verdade sobre o Mágico de Oz, interpretado por Jeff Goldblum. “Quando a reencontramos, ela está mais focada, pratica sua magia com mais consciência e acolhe o poder que possui”, analista Cynthia Erivo.
O isolamento da atriz durante as filmagens aprofundou sua conexão com a personagem: “Houve muitos dias em que era apenas eu, sozinha, em um espaço. Sem outro ator para reagir, precisei encontrar inspiração no ambiente e no estado de espírito de Elphaba. Foi um desafio, mas também me colocou diretamente em sua mente”.
Já Glinda (Ariana Grande) assume um posto de destaque na Cidade Esmeralda. Celebrada como exemplo de virtude, ela vive no palácio e desfruta das vantagens da fama e da popularidade.
“Ela foi manipulada pelo Mágico de Oz e pela Madame Morrible a se tornar a Bruxa Boa para dar às pessoas algo em que acreditar e até mesmo como propaganda contra Elphaba em Oz. Muito de sua vida agora é tudo o que ela sempre sonhou, mas tudo parece vazio. Ela carrega a culpa por ser cúmplice e a tristeza pelo papel que teve ao permitir que isso acontecesse”, reflete Ariana.
Prelúdio de “O Mágico de Oz”, o longa-metragem de Jon M. Chu traz ainda Jonathan Bailey (Fiyero), que foi eleito o homem mais sexy do mundo de 2025 pela revista People, Bowen Yang e Bronwyn James.
A versão dublada conta com as vozes das atrizes Myra Ruiz (Elphaba) e Fabi Bang (Glinda).
História simples sobre fascismo e coragem
Duas perguntas se impõem antes de falar de “Wicked: Parte 2”. A primeira é se fez sentido dividir em dois filmes a história das bruxas Elphaba e Glinda, que tanto no livro quanto na peça é contada em um fôlego só; a segunda é se esta sequência se trata de perda de tempo. A resposta é “não”.
Juntos, os dois filmes têm quatro horas e 58 minutos de duração, bem mais do que as duas horas e 45 minutos da peça. O enredo e as canções não aborrecem, mas seria fácil cortar excessos e repetições. Por vezes a narrativa se desvia das personagens centrais, sem contudo dar aos coadjuvantes uma história profunda o suficiente para justificar essa manobra.
O diretor Jon M. Chu parece tentar dar um filme a Elphaba, a bem-intencionada mas incompreendida Bruxa Má do Oeste, e outro para Glinda, a bruxa boa que ajuda Dorothy e seus amigos a realizarem seus desejos. Na montagem teatral, a dicotomia é posta com mais sutileza, em acordo com a proposta antimaniqueísta da obra.
Portanto, se o 1º filme era de Elphaba (Cynthia Erivo), em uma interpretação memorável, este segundo fica para Glinda, de Ariana Grande, dona de um timing cômico surpreendente. Narrativamente, funciona. Mas porque Elphaba é, em geral, uma personagem mais interessante e nuançada do que Glinda, a sequência se empalidece diante do capítulo inicial.
A história é retomada do ponto em que as duas amigas, diante da descoberta de que o Mágico, vivido por Jeff Goldblum, é uma fraude, tomam caminhos distintos. Elphaba, que com sua pele verde encara desde cedo o racismo, escolhe uma vida às margens de Oz, onde usa seus poderes para tentar ajudar os oprimidos.
Glinda, seduzida pela fama que Oz lhe oferece, prefere aproveitar tudo e tentar mudar a política por dentro, sem grandes rupturas. São metáforas explícitas ao nosso tempo, e por isso o filme agradou a uma plateia maior do que os fãs de primeira hora da história e atraiu um público multietário.
É fácil enxergar no Mágico a figura de Donald Trump ou de outros políticos populistas que falam o que o povo quer ouvir e usam truques simples para desviar as atenções para pseudoinimigos, enquanto cerceiam vozes dissonantes e amealham poder.
“Wicked”, com cores saturadas e trilha sonora pop, é uma história simples sobre fascismo e coragem. Se na primeira parte Elphaba precisava aprender a usar seus poderes, nesta é Glinda quem precisa se convencer de que seu talento para liderar pode ser tão útil quanto a mágica da amiga.
“Wicked” também é uma alegoria contra a opressão, e isso explica sua força entre grupos minorizados.
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