Zezé Polessa: "Envelhecer não me aflige"
Zezé Polessa, que está em cartaz em Vitória com peça sobre a cantora Nara Leão, fala sobre como encara a passagem do tempo
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O sorriso largo e a simpatia de Zezé Polessa ao telefone revelam uma mulher no auge dos seus 70 anos super bem-resolvida, sem medo da passagem do tempo.
“Envelhecer não me aflige. Até porque, é um processo tão lento, dia após dia, ano após ano. Não é assim, de repente, 'minha memória está pior'. É algo que você vai se acostumando, encontrando um outro jeito de lembrar das coisas”, reflete em conversa com A Tribuna.
Apesar de ter “desacelerado”, porque não encara mais o desafio de gravar uma novela e estar numa peça de teatro ao mesmo tempo, ela confessa que está satisfeita com seu corpo.
“Tenho pernas que amo porque eu ando e corro, meu exercício físico é correr. Eu tenho um corpo flexível, que dança, que está no palco e tem graça ainda”.
É por isso que Zeze segue na ativa! Esperou o fim das gravações da novela “Amor Perfeito” (Globo) para iniciar um projeto pelo qual tem se dedicado de corpo e alma: “Nara”, solo sobre a cantora capixaba Nara Leão (1942-1989).
Depois de dois meses de temporada no Rio de Janeiro, o espetáculo tem viajado o Brasil e neste fim de semana chega a Vitória. A montagem, que reúne clássicos imortalizados na voz da saudosa artista, como “A Banda” e “Corcovado”, é resultado da parceria da atriz com o diretor Miguel Falabella.
“Na pandemia, li a primeira biografia dela e me apaixonei. Descobri uma artista e mulher incrível e incrivelmente inspiradora. Aí comecei a ler outras coisas sobre ela e tive vontade de interpretá-la”, explica.
Contudo, o primeiro contato de Zeze com a obra de Nara foi ainda na adolescência, através de músicas interpretadas pela cantora, mas escritas por Chico Buarque: “Olê, Olá”, “Pedro Pedreiro”, “Madalena Foi Pro Mar” e “A Rita”.
“Foi um autor que ela lançou, porque ela tinha essa característica também. Ela conhecia uma música de um compositor e acabava gravando. Fez isso com o Fagner. Lembro que eu estava terminando o que na época era o ginásio, tinha uns 14 anos, e fizemos um show grande onde cantei algumas dessas músicas”, lembra.
Serviço
> “Nara”
O quê: Monólogo inédito em homenagem à cantora Nara Leão estrelado pela atriz Zezé Polessa. Direção: Miguel Falabella.
Quando: Sábado (29) às 20h, e domingo, às 16h e 20h. Amanhã, após a sessão, bate-papo com Zezé Polessa.
Onde: Teatro da Ufes, Goiabeiras.
Ing. (meia): Mezanino a R$ 15 e Setores A e B a R$ 40.
Venda: Site sympla.com.br.
Clas.: Livre.
“Gosto dessa coisa de desafios”, Zezé Polessa
A Tribuna - Se apresentar onde Nara Leão nasceu gera uma expectativa diferente?
Zeze Polessa - Sim. Se eu fosse capixaba, teria muito orgulho de rever essa artista, intérprete e mulher; ou conhecer, no caso das novas gerações. Acho que terei um público mais amoroso com relação ao espetáculo por conta dela.
Por que esse espetáculo merece ser assistido?
Ele aumenta nossa autoestima como brasileiro que tem uma cultura musical dessa. Ter contato com a história dela é entender também uma parte da história do Brasil, porque foi uma artista que trabalhou quase o tempo inteiro durante um regime ditatorial militar.
Nara era uma artista de muitas facetas, né?
Sim, e sempre se recusando a ficar dentro de uma caixinha. “Agora, a Nara não é mais da Bossa Nova, é da música de protesto”. Não! Ela foi saindo de caixinhas. Tem um trabalho com os músicos do Nordeste, especialmente no Recife, que é lindo, chama “Romance Popular” (1981). O último disco que ela quis fazer foi de música indígena, que acho que tem ligação com o Espírito Santo.
O que mais te encanta nela?
Uma liberdade pessoal que ela se dava, assim como ela queria um país livre e com classes sociais mais pareadas.
O que há em comum entre vocês duas?
Gosto dessa coisa de desafios, de fazer o que eu ainda não fiz. Sempre tive isso na televisão. A última peça que fiz foi “A Mentira”, uma comédia francesa com quatro atores. E “Nara” é um monólogo onde canto. Quando você canta uma música, você mexe com emoções diversas. Eu achava que não cantava mais, apesar de já ter cantado várias vezes no teatro.
Cantar foi o maior desafio?
Mais do que cantar, foi me aproximar do sentimento dela. Na peça, Nara está morta e aparece graças ao privilégio do teatro. A gente não fala de uma pessoa que já morreu, a gente traz de volta a pessoa que morreu.
Ela revive tudo o que conta, tem as emoções novamente. Então, como que ela se sentiu quando o filho nasceu? Como que ela se sentiu ao se apaixonar por um cara que era casado e que teve que acabar o romance? Como que ela se sentiu sendo criticada quando lançou o primeiro disco? Como é que ela sentia essas coisas?
E sempre sendo uma pessoa tão delicada, tão suave. E eu acho isso tão inteligente, sabe? Porque ela era muito assertiva, falava coisas muito contundentes. Enfrentava como pessoa pública uma ditadura militar sempre daquele jeitinho. Sem levantar a voz.
Enfim, estou falando de uma pessoa que existiu e que tem muita gente que existiu na mesma época, que conviveu com ela e ainda está aí. Então, não posso ir para como eu me sentiria.
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