Mateus Solano: “Todos já nos sentimos em uma vida sem sentido”
Em conversa com o AT2, o ator Mateus Solano comenta sobre o risco de levar uma vida no piloto automático, como um figurante
Acordar, ir para o trabalho, voltar para casa, dormir. Acordar no dia seguinte e começar tudo de novo. Quem nunca entrou no modo “piloto automático” e acabou virando figurante de sua própria vida?
Com texto de Mateus Solano, Miguel Thiré e Isabel Teixeira, o monólogo “O Figurante” destaca justamente aquelas pessoas que, em diferentes contextos, permanecem invisibilizadas e, sem perceber, tornam-se coadjuvantes dentro de suas próprias histórias.
“Acho que todos nós, em algum momento, já nos sentimos automatizados, vivendo uma vida sem sentido. É como se não estivéssemos à frente, segurando as rédeas da própria vida, mas simplesmente nos deixando levar pelo trabalho, pela sociedade, pelas relações e pelos padrões dos quais ficamos reféns”, ressaltou Mateus Solano ao AT2.
No espetáculo, que poderá ser conferido nos dias 7, 8 e 9, no Teatro da Ufes, em Vitória, o ator interpreta Augusto, um figurante dedicado, experiente e acostumado a trabalhar em produções audiovisuais.
Ele vive uma rotina bem previsível e acaba se tornando figurante de sua própria história. Aos poucos, Augusto vai questionando a importância de seu trabalho e de sua vida.
Mas não pense que o assunto é tratado de forma “chata” ou cansativa. O espetáculo utiliza o humor para tratar de um tema tão complexo de maneira leve.
“O humor é a ferramenta fundamental para falar de coisa séria. E a peça é isso mesmo, uma comédia dramática que se utiliza do humor para chamar a atenção de questões bem existenciais”, explicou Solano.
“O Figurante” é o primeiro monólogo do ator, que revelou que só agora estava pronto para encarar esse tipo de espetáculo.
Ele contou ainda que, para aceitar um papel, é importante que o personagem seja instigante, ofereça desafios, que o tire do lugar-comum.
“Estou sempre me questionando”
AT2 — Em “O Figurante”, seu personagem questiona a importância do trabalho dele e até da vida. Já fez esses questionamentos?
Mateus Solano — Sim, acho que sou uma pessoa que está o tempo todo se pensando, faço análise há anos e, como artista, sou um grande interessado no ser humano, em seus limites e suas potências. Estou sempre me questionando.
Se ficasse invisível por um dia, qual a primeira coisa que gostaria de fazer?
Acho que eu ia aproveitar e fazer uma viagem, sei lá, entrar num avião (invisível!) e viajar para um lugar bem maneiro.
Qual o maior desafio de fazer um monólogo?
O maior desafio é o estar sozinho mesmo em cena e ter que contar uma história, entreter e, de alguma forma, controlar a atenção do público durante 70 minutos sozinho. Acho que demorei para fazer justamente porque eu tenho muito respeito pela minha profissão e não me sentia preparado para encarar um monólogo até então.
Seu personagem já chega em cena com a clássica frase “Ser ou não ser”. É melhor ser ou não ser?
Sem dúvida, ser é muito melhor, temos uma vida só, é um desperdício deixar a única história que temos para contar nas mãos de outras pessoas. E acho que a arte, o teatro, nesse lugar de fazer a gente refletir sobre nós mesmos e sobre a sociedade em que a gente está inserido, tem esse papel, de nos chacoalhar e nos convidar sempre a sermos, a fugirmos da invisibilidade no não ser.
Como arrancar risadas com um assunto complexo?
Pois é, mas o humor é a ferramenta fundamental para falar de coisa séria. Através dele, as pessoas abrem as suas defesas e, em seguida, podemos entrar com algum assunto mais importante do que o mero entretenimento. Portanto, a peça é isso mesmo, uma comédia dramática que se utiliza do humor para chamar a atenção de questões bem existenciais.
Você se arrepende de ter aceitado algum papel?
Acho que nunca cheguei a me arrepender, tem papéis que fizeram menos sucesso do que outros, mas sempre acabei aprendendo alguma coisa de todo trabalho. Enfim, no mínimo, garanti o meu salário.
Impossível olhar para você e não lembrar do Félix. O que você carrega dele até hoje?
Eu não carrego absolutamente nada do Félix, ele é que carrega coisas minhas! (Risos) Fico muito feliz com o carinho que as pessoas têm com esse personagem, mas estou sempre frisando que estou longe de sê-lo.
Você se considera galã?
Não me considero um galã.
Acha que é bonito ou pode melhorar?
Estou bem satisfeito.
Como se vê daqui a 10 anos?
Dez anos mais velho. (Risos)
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