Jackson Antunes: “Só minha família soube que eu estava com câncer”
Em entrevista ao AT2, o ator e cantor conta por que escondeu doença e diz que passou de “marvadão” a homem bom na TV
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O sotaque do sertão mineiro, onde nasceu, e o jeitão “caipira” dão uma ideia de como é Jackson Antunes, 63 anos, na realidade: um sujeito simples e reservado quando o assunto é sua vida pessoal.
Tão reservado que somente no ano passado resolveu revelar ao público que, há cerca de sete anos, passou por uma fase difícil em sua vida com o tratamento de um câncer muito agressivo no pâncreas, do qual está curado.
“Tive um câncer de pâncreas sim, mas, graças à minha esposa, foi descoberto a tempo de tratar. É um câncer muito perigoso, mas aí quis a força divina que eu continuasse aqui. Passei por processos que não foram fáceis, mas estou bem, consigo trabalhar, viver, pensar. Estou totalmente curado desse câncer, graças a Deus”, contou em entrevista ao AT2.
O motivo para não ter revelado antes sobre a doença é muito simples: “Não contei porque não acho bom, isso é coisa de gente da roça, não é bom ficar contando, aos quatro ventos, o que acontece com a gente. Eu acho que nós, atores, temos a obrigação de levar entretenimento para as pessoas. Da minha vida pessoal, ninguém sabe nada”.
Segundo Jackson, que atualmente pode ser visto no remake de “Renascer” como o Deocleciano, o público espera do ator uma mensagem apenas através do personagem.
“Eu jamais iria dizer: ‘estou com câncer’ (faz voz de deboche). Não foi fácil, mas só a minha família ficou sabendo. É o jeito do caipira que explica, e Deus na parada também. Não tinha o que temer!”.
Porém, deixando essa fase complicada no passado, Jackson agora só tem motivos para comemorar. Ele conta que já estava de olho em algum personagem no remake de “Renascer” – novela que o projetou há 30 anos como o Charles Bronson brasileiro – e acabou ganhando o papel de Deocleciano.
“Na primeira versão, eu fiz o Damião. O que diferencia é que um é matador, “marvadão”, e o outro é um homem bom. O Damião vai para matar, caçar 'ingresia'. Deocleciano é um homem que trata o filho do coronel como se fosse o próprio filho”, explicou.
O veterano já tem planos para depois da novela, no entanto, como manda seu estilo “gente da roça”, preferiu não revelar!
“Eu era o galã rústico, criei esse título”
AT2- O que mudou em você nesses 30 anos que separam as duas versões de “Renascer”?
Jackson Antunes- Ah, Muita coisa, né? O comportamento, o país mudou, tudo mudou. Quando eu cheguei aqui, eu tinha 33 anos, agora já passei dos 60 e tem tanta coisa acontecendo... Eu sinto as pessoas um pouco melhores, menos preconceituosas.
Como se sentiu ao receber o convite para o remake?
Ah, eu dei pulo de alegria. Na verdade, eu queria que isso acontecesse, de eu fazer algum personagem do remake. Coloquei nas mãos de Deus e deu tudo certo. Estou lá, fazendo Deocleciano, que foi interpretado pelo meu irmão Roberto Bonfim na primeira versão, tão maravilhosamente.
Na primeira versão da novela, chegou a ser apelidado de “Charles Bronson brasileiro”. Você se achava galã?
O diretor Luiz Fernando Carvalho sempre brincava quando a gente ia dar um close e eu levantava a cabeça assim com o chapéu, tipo aqueles filmes de faroeste. Aí surgiu esse apelido de Charles Bronson brasileiro, que cresceu absurdamente. Tem gente que me chama até hoje.
Sim, eu era o galã rústico, criei esse título aí, galã rústico. Bom, eu nunca me achei galã, eu era o galã construído pelo senhor Benedito Ruy Barbosa. A função do ator é essa, é produzir o que o autor quer, e Damião era tudo, era o cara mais lindo do mundo, o mais charmoso, gostoso, e que se achava galã. E era o galã, não só se achava. Eu, como ator, apenas dei o carinho, o afeto e o meu amor para que ele fosse tudo aquilo que o autor pedia que fosse.
Você disse uma vez que tem uma cara “essencialmente brasileira”. Acha que isso pode te limitar a fazer sempre o mesmo tipo de personagem?
Sou um ator essencialmente brasileiro, mas isso nunca me impediu de fazer outros personagens também, mesmo porque as caras brasileiras não são as mesmas. Posso fazer um mineiro, depois um gaúcho, já fiz isso tudo.
Como foi viver aquela fama toda no início da carreira?
Eu estreei na televisão com 33 anos, vinha do teatro de rua, não tinha mais espaço para sentir coisa de fama nenhuma. Fama, para mim, é o trabalho, é o operário, mesmo porque não é moleza.
Você nasceu no sertão mineiro e teve uma origem simples. Como é sua vida agora?
Minha vida continua simples como era. Talvez até mais simples! E vou continuar assim até o dia que Deus permitir.
Quais seus projetos para o futuro?
Continua sendo “Renascer”, já estamos bem à frente, mas falta ainda muita coisa. Tem alguns outros, mas eu vou esperar “Renascer”. (Risos) Que novela espetacular! E que a gente renasça!
Curiosidades
Surra na rua
Jackson Antunes, que interpretou o Léo, um marido machista, alcoólatra e agressor em “A Favorita”, chegou a apanhar na rua por causa do personagem. “Foi muito sério. Peguei uma trombose na perna. Eu acho que não existe outro colega que tenha feito um cara que tinha o bicho da violência doméstica tanto como eu fiz o Léo. Lembro que caiu em 25% as agressões domésticas na época. Levou o pessoal a pensar”.
“Sou cantador”
Jackson já saiu em turnê com o espetáculo “Coração Caipira”. Ele fala sobre a experiência: “Eu costumo dizer que sou cantador, gosto da viola, das modas caipiras. Gosto de tudo que me aproxima do meu interior, por isso que eu criei o espetáculo, que é uma homenagem ao meu povo da roça e ao meu coração caipira”.
Público
O ator diz que não gosta da palavra “seguidores” e que o contato com o público é direto. “São meus semelhantes. As pessoas se identificam e retornam isso em abraço, em carinho e em sorrisos.”
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