Ester Dias: “Não vale tudo pelo sucesso”
Em entrevista ao AT2, Ester Dias fala sobre os perrengues que passou até as suas atuais conquistas como atriz
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Parece que o gênero “policial” persegue a atriz Ester Dias! Além de ser a delegada Glória no sucesso mundial “Bom Dia, Verônica”, da Netflix, ela também está no elenco de “Cenas de um Crime”, da Paramount, onde interpreta a repórter investigativa Roseane, que faz tudo para conseguir o “furo” de sua carreira.
Ester está bombando não só no streaming, mas também no cinema. Em breve, poderá ser vista em “Tudo por um Popstar 2” e “Mãe Fora da Caixa”. No caso da atriz, o sucesso é fruto de seu talento e dedicação. Mas será que, para ela, vale tudo para se dar bem na carreira?
“Não acho que vale tudo pra conquistar o sucesso, minha dignidade e minha ética são minhas réguas, elas valem mais do que qualquer possibilidade de ser bem-sucedida”, disse em entrevista ao AT2.
A atriz, que completa 40 anos na próxima sexta-feira, passou por alguns perrengues até chegar neste momento especial de sua vida.
Dos 10 aos 14 anos, ela e sua irmã treinaram em um projeto de atletismo de uma universidade do Rio de Janeiro e estudaram em uma escola particular como bolsistas.
Passava cinco horas no ônibus todo dia e ia da escola direto para o treino. Nem sempre ela tinha dinheiro para almoçar na rua. Às vezes, comia um biscoito ou um hambúrguer.
Além disso, Ester ainda lidava com o preconceito por sua condição social e por ser negra. Hoje, ela conta que entende melhor tudo o que passou.
“Ser uma pessoa negra com o mínimo de letramento racial faz com que você perceba o quanto vivemos diariamente as microagressões na nossa sociedade. Eu tento lidar da melhor forma possível, mas, como todo ser humano, tem dias que são mais fáceis e outros mais difíceis”.
Conquistas
Na época, acabou desistindo de ser atleta para se dedicar às artes. Fez alguns semestres de faculdade de dança, estudou teatro e, em 2009, finalmente conquistou seu primeiro papel na TV, em “Malhação”.
De lá para cá, atuou em várias novelas, peças, filmes. Mas ela quer mais! “Eu quero conquistar espaços de protagonismo, tenho muita vontade de trabalhar em outros países, rodar festivais internacionais. Ainda há muito potencial a ser explorado”, avisa Ester.
“Reconheço e celebro a minha caminhada até aqui”
AT2- Como foi interpretar uma delegada em “Bom Dia, Verônica”? Você se inspirou em alguém?
Ester Dias- Foi muito interessante pelo desafio de ser uma personagem tão distante de mim e da realidade em que vivo. Acho que a minha principal inspiração vem da força que as mulheres negras têm, e nesse lugar de poder representá-las.
Qual a importância desta série em sua carreira?
Para mim, existe um antes e depois de “Bom Dia, Verônica” na minha carreira. Sem sombra de dúvidas, eu tive a oportunidade de mostrar a maturidade do meu trabalho nesta personagem.
Você se imagina na pele de uma delegada na vida real?
Não consigo me imaginar sendo uma delegada, principalmente por todo o lado burocrático e lento da Justiça. Enquanto artista, a gente tem o poder de ressignificar, de falar sobre, trazer questionamentos, e essa é a maneira que me interessa falar sobre a Justiça.
Pelo que você pode ver por sua personagem, quais são os desafios dessa profissão?
A burocracia, ser mulher em um meio cercado por homens, e saber que seu trabalho pode ter sido em vão se não houver resolução via sistema judicial.
O que você faria e o que não faria por uma personagem?
Me encantam personagens que me fazem mergulhar num processo de pesquisa, aprender coisas novas, viver realidades que eu jamais viveria. Para mim, é aí que mora a magia da minha profissão. O que não faria hoje é ir longe demais em cenas onde eu não me sinta confortável e que não façam sentido fundamental e sejam extremamente necessárias para o andamento do roteiro.
O que uma personagem precisa ter para te conquistar?
Precisa ter camadas, contradições, humanidade, ter uma história própria.
E qual o papel dos sonhos?
Tenho muitos! Tenho muita vontade de interpretar personagens que me tragam mudanças muito profundas, estética e psicologicamente falando. Tenho muita vontade de interpretar uma personagem que tenha cenas de ação e luta. Tenho uma história muito forte relacionada ao movimento: já dancei, fiz escola de circo, joguei capoeira. Eu ia adorar explorar mais esse lado.
Já chegou onde queria na carreira ou falta muito ainda?
Olhando para trás, reconheço e celebro toda a minha caminhada até aqui, mas ainda vejo muito caminho pela frente. Quero conquistar espaços de protagonismo, tenho muita vontade de trabalhar em outros países, rodar festivais internacionais. Ainda há muito potencial a ser explorado, acho que o ator nunca chega em algum lugar e se sente satisfeito, existe sempre espaço para crescimento e experimentação.
O que ela diz
Cinema
“Em 'Mãe Fora da Caixa', eu faço uma diretora geral de um hotel de luxo, chefe da Miá Mello, que interpreta a personagem principal. Em 'Tudo por um Popstar 2', eu faço uma mãe supercoruja. É a primeira vez que interpreto a mãe de uma jovem mulher adulta, e confesso que a personagem me lembra um pouco a minha própria mãe”, conta, aos risos.
Série policial
“É um gênero que eu amo e tenho vontade de fazer ainda mais. Não acho que o gênero, por si só, seja mais difícil, acho que cada personagem traz seus desafios, e eu amo desafios. O desafio de fazer algo que seja muito aquém da minha realidade me motiva muito”.
Comédia
“Amo fazer comédia, já tive a oportunidade de trabalhar com Os Melhores do Mundo e foi um momento muito feliz e divertido da minha carreira. Em breve, tem mais trabalhos de comédia a caminho, mas ainda não posso contar”. (Risos)
Atletismo
“Foi um momento muito importante, onde aprendi muitas coisas no esporte e que levo pra vida até hoje. Eu fiz atletismo dos 10 aos 14 anos de idade, eu e minha irmã mais velha tínhamos uma rotina de treino de segunda a sexta, saindo de casa antes das 6h pra ir pra escola, e depois da aula ia direto pro treino. A gente tinha bolsa de estudos em um colégio particular”.
Preconceito
“Acontece comigo e tenho certeza que acontece com pessoas negras, independentemente da posição social que elas ocupam. É um assunto que não se descola da nossa vivência diária. Tudo que eu vivo é atravessado pelo racismo. Eu tento lidar da melhor forma possível”.
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