Edson e Hudson: “Vivemos juntos tudo de melhor e pior”
Em entrevista ao AT2, Edson e Hudson falam sobre os desafios que passaram, como a fome e a morte da mãe, e celebram novo álbum
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O refrão de “Pinga Ni Mim”, clássico escrito por Elias Filho e nacionalmente conhecido na voz de Sérgio Reis, descreve parte da realidade que Edson e Hudson viveram na infância.
Criados numa casa cheia de goteiras, os sertanejos iniciaram sua carreira sob a lona do circo e, ainda pequenos, tiveram de lidar com a morte precoce da mãe, de 26 anos de idade. Desafios que fortaleceram a união entre eles tanto nos palcos quanto fora deles.
“Nossa conexão é indissolúvel. Somos irmãos e nada nunca será maior do que o amor que sentimos um pelo outro. Vivemos juntos tudo de melhor e pior. Me refiro à fome, à perda da nossa mãe biológica, à falta de oportunidades e estudo e a tantas outras coisas que tivemos que conhecer muito cedo”, reflete Edson, 50, em entrevista ao AT2.
Descartando qualquer possibilidade de uma nova separação, como a que ocorreu entre 2009 e 2011, motivada pela dependência química de Hudson à época, a dupla celebra essa união e o atual momento da carreira, marcado pelo recém-lançado álbum “Modão É Sempre Modão”. Para Edson, a maturidade tem grande importância na evolução deles como dupla e irmãos.
“Ela traz entendimentos diferentes, paciência, afasta o que existe de ruim e nos dá a leitura necessária para nos blindar de possíveis erros. Não existe Edson sem Hudson, assim como não existe Hudson sem Edson. O que Deus uniu no céu, ninguém muda na terra. Hoje, com essa maturidade, estamos experimentando algo extraordinário”.
O novo disco é uma homenagem da dupla à autêntica música sertaneja e traz os irmãos mergulhando num baú de recordações para criar novas versões para clássicos de nomes como Rolando Boldrin, Milionário e José Rico, Chitãozinho e Xororó e Trio Parada Dura.
O repertório é composto por canções que eles interpretavam lá atrás, no picadeiro, quando ainda eram chamados de Pep e Pup. É o caso de “Pinga Ni Mim”, carro-chefe do projeto gravado no sítio localizado no interior de São Paulo, onde vivem.
“'Pinga Ni Mim' tem muita história. Na verdade, cada faixa do álbum traz uma memória afetiva muito grande. Ela remete à época do circo, ao nosso amado Sérgio Reis, onde eu fazia o ‘menino da porteira’”, lembra Hudson, 52.
“Carrega a alma sertaneja”
AT2 — Por que lançar um projeto em que celebram o modão?
Hudson — É a nossa essência. Para quem não sabe, nós nascemos no circo e, até o começo da década de 80, o picadeiro era, de fato, o palco dos artistas sertanejos. Então, neste período, vimos quase todos os nossos ídolos se apresentarem ali, o que nos enche de orgulho e honra.
O sertanejo pode se modernizar, mas o modão se mantém?
Hudson — O modão nunca saiu e jamais sairá da moda. Nós costumamos dizer que música boa não tem gênero! Ela simplesmente conecta, transporta, faz você viver e reviver sentimentos, lembrar de pessoas, situações e lugares. Música é arte pura e, dentro deste conceito, está o modão, atravessando gerações com a mesma qualidade e importância.
Nesses quase 40 anos de história, acompanharam diversas mudanças do sertanejo. É um desafio manter a essência?
Hudson — Nós não nos rendemos às tendências, nós seguimos com aquilo que carregamos dentro de nós e entendemos que isso conecta, faz sentido. Não gravamos só o que será sucesso hoje. O que desejamos é que as nossas músicas vivam por toda a eternidade.
Edson — O que de fato sempre deu e sempre dará certo é respeitar a nossa sonoridade particular. Quando absorvemos a guitarra num gênero onde isso não era comum, os sertanejos torceram o nariz e os roqueiros também, mas cá estamos, tanto tempo depois com o mesmo pensamento de anos atrás.
Foi um desafio a seleção do repertório desse projeto?
Edson — A 1ª seleção foi a melhor parte. A gente brinca falando que “Modão É Sempre Modão” é parte da trilha sonora das nossas vidas. De fato, ele é! O problema existiu na segunda, para definir o que realmente iria ou não ser agregado. São muitas músicas lindas que ainda gostaríamos de gravar. Se isso é um spoiler? Talvez!
Qual o modão mais marcante na vida de vocês?
Hudson — “Fogão de Lenha” é uma das obras mais lindas de todos os tempos. Perdemos a nossa mãe biológica ainda muito crianças, ela se chamava Helena, era uma artista maravilhosa e talentosa. Talvez seja uma das músicas que nós gostaríamos de ter cantado para ela em vida.
O que define o bom modão?
Hudson — Modão é o que carrega a alma sertaneja, o legado forte, cheio de significado. O respeito e o amor pela simplicidade e pela autenticidade.
Qual foi a releitura mais desafiadora do projeto?
Hudson — “Lembrança”, de Milionário e José Rico, sem dúvida!
A ligação de vocês com o campo ainda é muito forte?
Hudson — Olha, eu e o Edson somos, na intimidade, pessoas muito simples e que ainda carregam os mesmos costumes. Amamos a natureza, os bichos, a terra... Sem essa conexão com o que realmente importa, a vida perde totalmente o sentido.
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