Renascimento de Renée Zellweger após depressão e estafa
Em francês, Renée significa “renascida”. É quase um toque de marketing involuntário que a atriz protagonista de “Judy - Muito Além do Arco-Íris” se chame assim. Ou, para os fãs de Renée Zellweger, uma feliz coincidência.
No papel de uma combalida Judy Garland que tenta se reerguer com uma série de shows em Londres, Zellweger experimenta um renascimento, que lhe rendeu vários prêmios, inclusive o Oscar de Melhor Atriz.
Depois de uma pausa de seis anos, por depressão e estafa, escolheu, para a volta, um papel do tipo que agrada quase infalivelmente o mundo do cinema comercial.
Não deixou de aludir ao fato ao agradecer o Globo de Ouro de Melhor Atriz Dramática pelo filme “Judy”. “Vocês estão todos bem depois de 17 anos”, disse à plateia. Na verdade, fazia 16 anos que ela não subia àquele palco, desde que foi reconhecida como Melhor Atriz Coadjuvante em “Cold Mountain”, papel que também lhe daria o Oscar.
A maior parte da fama de Zellweger decorre do fato de ter domado seu sotaque texano e dado carne (em abundância) à atrapalhada e britânica Bridget Jones. A personagem foi tão marcante que, depois do discurso do Globo de Ouro, muitos indagavam nas redes sociais se ela sempre tivera aquele sotaque sulista - ou se estava bêbada.
Os esforços para ser Bridget lhe renderam duas indicações ao Globo de Ouro pelos dois primeiros longas da franquia e, no terceiro, uma menção no chamado Hall of Shame, ou “hall da vergonha”.
Para viver Judy Garland, Zellweger se dedicou ao tipo de transformação quase mediúnica que Hollywood celebra. É conhecido o fascínio do cinema comercial pelas histórias reais.
Na história, vemos a atriz e cantora no fim de sua breve vida. Três décadas depois de “O Mágico de Oz”, filme que a catapultou para a fama ainda adolescente, Judy Garland está quebrada. Não tem trabalho nem casa onde viver com suas duas crianças, Lorna e Joey, filhos de seu quarto marido, o produtor Sidney Luft.
Sem conseguir trabalho digno nos Estados Unidos, frágil, dependente de remédios e de álcool, Judy aceita um contrato para uma temporada de shows numa casa noturna em Londres. É esse período de poucos meses o cerne do filme e é nele que Zellweger tem a chance de mostrar plenamente seus dotes cênicos.
Aqui entra em cena a lista de curiosidades intrínseca ao gênero. Zellweger emagreceu! Isso permite não só que emule a figura debilitada de Garland mas também que pareça menor - a retratada media 1,51m, sua intérprete tem 1,63m.
Renée Zellweger canta mesmo! Ela já o mostrara em “Chicago”, de 2002. Mas Judy Garland tinha um vozeirão, Zellweger não. E, aos 50 anos, ela precisou de rugas falsas para viver Judy, 46! E de olheiras, sobrancelhas redefinidas, perucas e próteses. Detalhes que renderam indicação ao Oscar de Cabelo e Maquiagem.
A atriz reproduz em minúcia os trejeitos de Garland, seus ombros curvados, a dança com o fio do microfone. Mas, aqui e ali, deixa entrever um franzir de olhos e um biquinho que são seus - um alívio lembrar que há uma artista atrás da máscara. Dota o papel de emoção e verve; faz rir várias vezes.
O fato de ser baseado na peça “The End of the Rainbow” permite ao roteiro voos ficcionais, como o doce casal de fãs gays. Outros dados poderiam não ser, mas são reais. Não faz diferença quais; o drama é verossímil no que tem de vivido e inventado.
É, em suma, entretenimento muito eficiente no gênero. Zellweger mereceu o Oscar não por ter criado uma Judy Garland parecida à real, mas porque criou uma Judy Garland sua.
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