Empresários alertam para falta de produtos nas lojas
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Passada a crise financeira e ainda lutando contra a pandemia do novo coronavírus, um outro problema surge na economia: a escassez de alguns produtos em estados brasileiros, incluindo o Espírito Santo.
Empresários revelam que já há itens faltando nas prateleiras, a exemplo de materiais de construção, bem como suspensão de venda de plástico em algumas empresas por falta de matéria-prima.
A tendência é de que até o final ano falte também colchões, bicicletas e eletrônicos como televisões de telas menores, segundo o diretor de compras da Sipolatti Vanderlei Marafon.
“Temos preocupações com o abastecimento de alguns produtos para o último trimestre, que é o mais importante para o varejo. A demanda está muito aquecida e como a indústria não consegue atender tudo, projetamos alguma falta no mercado”, explicou.
O desequilíbrio entre oferta e procura se justifica por alguns fatores como a alta do dólar, o aumento das exportações em decorrência do câmbio favorável e a queda da produção de insumos na pandemia.
O administrador e coordenador da Câmara Temática de Empreendedorismo e Inspiração (CRA-ES), Glaucio Siqueira, diz que a preocupação é maior entre os meses de novembro e dezembro.
“Já observamos falta de produtos para materiais de construção. Agora, começa a se agravar a situação de produtos da área alimentícia, como óleo de soja e arroz, que não é só a alta de preços. Já está em falta por conta da exportação brasileira, que deu um salto.”
O diretor da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado (Fecomércio-ES), José Carlos Bergamin, ressalta que não haverá desabastecimentos sistêmicos e, se houver, será pontual e em um curto período.
“Na linha têxtil e confecção, setor muito afetado pelo fechamento do comércio, houve muitas demissões e paralisação quase que total da produção. Agora, as cadeias de lojas que ficaram sem comprar por quatro meses, querem se abastecer pela reabertura e para as vendas de fim de ano e a produção não consegue se restabelecer tão rápido. Há dificuldade de algodão no mundo”.
Desabastecimento
“As lojas não acham mais para comprar”
Basta dar uma circulada para perceber que a escassez de produtos já é realidade em algumas lojas de materiais de construção.
Em uma delas, na Ilha de Santa Maria, em Vitória, há produtos de algumas linhas que estão em falta, como pisos e revestimentos, especialmente porcelanato, segundo o gerente Vanildo Bozi.
“Hoje você não acha nem para comprar. A justificativa da indústria é o aumento de vendas”, disse.
Outro problema é a falta de lajota e aço. Vanildo citou ainda que as ferramentas estão em falta e, de acordo com ele, 90% vêm da China.
Quem está reformando, como o técnico em eletrônica Luiz Carlos Sepulcri, 65 anos, diz que a falta de produtos é preocupante.
Escassez será pontual, dizem lideranças do comércio
Apesar de varejistas e especialistas afirmarem que o desabastecimento de produtos é uma ameaça real para ao último trimestre do ano, empresários dos setores econômicos destacaram que a falta de alguns itens será pontual e não acontecerá de forma generalizada.
“Pode ser que tenha algum produto que falte, mas não generalizado. A tendência é melhorar a produção dos alimentos e equilibrar o mercado. As empresas querem se recuperar da crise e precisam”, afirmou Hélio Schneider, superintendente Associação Capixaba de Supermercados (Acaps).
Ele destacou que o mercado segue sendo monitorado e que a flexibilização das atividades econômicas que ocorreram de forma gradual no Estado ajudam na melhoria do cenário como um todo.
“É muito difícil fazer essa previsão e estamos monitorando no dia a dia para ver o que vai acontecer. O que nos deixa mais despreocupados é que, principalmente nos meses de agosto e setembro, já houve uma flexibilização muito grande nas operações de trabalho. Aquilo que foi defasado as pessoas vão querer recuperar”.
Para Fernando Otávio Campos, presidente do Conselho Temático de Relações do Trabalho (Consurt) da Federação das Indústria do Estado (Findes), as faltas no setor industrial também serão pontuais.
“O que pode acontecer é um desabastecimento pontual. Um determinado item ou outro, a demanda fica muito grande e não dá conta da indústria produzir. Mas isso acaba se ajustando. O ano passado a carne estava muito cara, mas logo no começo do ano se ajustou”, explicou Fernando.
O presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado (Fecomércio-ES), José Lino Sepulcri, também diz que o desabastecimento deve ser pontual em alguns itens, como material de construção e produtos eletrônicos.
“Não tenho termômetro do que irá faltar ou não. A nossa compreensão é que a falta de produtos deve ser momentânea e acredito que no mês de outubro a própria indústria faça a reposição do mercado”, finalizou José Lino.
Saiba mais
Produtos em falta
- Alguns produtos já estão em falta no mercado, como é o caso de itens de materiais de construção e plástico (por falta de matéria-prima).
- Outros produtos ameaçam faltar no último trimestre do ano, a exemplo de colchões, bicicletas e eletrônicos.
- Motivos
- Vários fatores contribuíram para este cenário, como a alta do dólar, o aumento das exportações em decorrência do câmbio favorável e a queda da produção de insumos devido à pandemia do coronavírus.
Itens que já faltam
- Materiais de construção: Já há falta de pisos e revestimentos (especialmente porcelanato), aço (como vergalhões e colunas prontas), lajota e ferramentas (principalmente as que vêm da China).
- Plástico: Já há empresas que suspenderam as vendas temporariamente, a exemplo da Plásutil. Por meio de nota, a empresa disse: “Informamos que os volumes de matérias-primas pactuados com nossos principais fornecedores estão sendo honrados e que a suspensão das vendas tornou-se necessária e prudente, pois estamos com nossa capacidade de produção tomada até o final do próximo mês”.
Itens que podem faltar
- Bicicletas: algumas peças estão em falta, o que atrasa a produção.
- Colchão: grande parte da matéria-prima vem da China, que parou de ser produzda por um tempo e isso desencadeou a falta de alguns materiais para produzir.
- Eletrônicos, como televisão de telas menores: são produtos mundiais, e o mercado externo está aquecido no momento, como o europeu e o americano.
- Micro-ondas: a fabricação deste produto depende de muitos componentes importados.
- o que não deve faltar
- Fogão, geladeira, lavadora: são produtos produzidos no Brasil e o risco é menor, porém a falta de plástico pode afetar a produção.
Fonte: Empresários entrevistados.
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