Empresária capixaba perde R$ 42 mil no golpe do amor
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Se passando por um médico cardiologista do Canadá e com a promessa de oferecer uma vida luxuosa, com direito a carro, joias, casa, dinheiro, um criminoso deu o golpe do amor em uma empresária capixaba, de 40 anos.
Depois de ser enganada e perder R$ 42 mil, ela denunciou o caso à Delegacia de Repressão aos Crimes Eletrônicos (DRCE).
A empresária, que pediu para o seu nome ser preservado, contou que conheceu o falso médico pelas redes sociais, em novembro do ano passado.
Ambos tinham um amigo em comum e não demorou muito para ele iniciar as investidas, dando início a uma relação amorosa pelo WhatsApp e chegaram a trocar fotos íntimas.
“Ele disse que o pai era empresário de energia solar e que havia sofrido um acidente de carro no Canadá. Por isso, tinha de viajar para a China e dar continuidade aos negócios do pai”, contou.
Depois de usar vários argumentos, inclusive mentir que tinha que pagar uma multa ao FBI (polícia internacional) no valor de 10 mil dólares (à época, R$ 42 mil), ele a convenceu a fazer um depósito nesse valor.
Logo depois, em janeiro deste ano, ela percebeu que se tratava de uma organização criminosa e o denunciou.
Delegado
À frente das investigações, o titular da DRCE, delegado Brenno Andrade de Souza Silva, contou que a empresária foi vítima de uma quadrilha especializada.
Por ano, segundo ele, são registradas cerca de 20 ocorrências de vítimas do golpe do amor na Grande Vitória. Todos os casos estão sob investigação e o delegado disse que não poderia passar muitos detalhes para não atrapalhar as apurações.
Brenno Andrade revelou que investigações apontam que a maioria dos criminosos são africanos, principalmente da Costa do Marfim. Também há casos da Nigéria, inclusive com um criminoso preso em São Paulo. Entretanto, o delegado disse que também há brasileiros aplicando esse golpe.
Golpista não parava de falar para a vítima “I love you”
Indignada com o que aconteceu, a empresária que foi vítima do golpe do amor falou sobre a farsa usada pelo criminoso para enganá-la.
A Tribuna – Como começou?
Empresária – Uma pessoa, que se identificava como Charles, mandou mensagem via Instagram.
Tínhamos um amigo em comum e não desconfiei de nada. Ele disse que é cardiologista no Canadá, porém apresentou documento de cidadão americano do Arizona (EUA). Tudo o que ele me contava era confirmado por uma mulher, que ele dizia ser a sua irmã.
Ele prometeu casamento?
Ele dizia que era solteiro e que queria se casar comigo, mas eu teria que viver com ele no Canadá. Ele não parava de falar: 'I love you' (eu te amo). Também me oferecia carro, joias, casa, dinheiro e vida luxuosa, o que não me encantava.
O que te encantava?
Bens materiais eu tenho. O que mexeu comigo foi o fato de morar no Canadá, de sair do Brasil, onde não vejo esperança. Lá fora, os homens respeitam as mulheres, lá, 'Não é Não', não tem altos índices de feminicídio. Ele se comprometeu a vir para cá me conhecer, mas falou que antes iria para a China resolver os negócios do pai.
Quando ele começou a te pedir dinheiro?
Um mês depois que começamos a conversar. Ele me pediu para fazer transações bancárias referente a pagamentos aos fornecedores do seu pai. Inicialmente, me recusei, mas ele insistiu muito usando vários argumentos.
Ele enviou um link de acesso a uma suposta conta bancária. Ele alegava falhas na internet da China e solicitou que eu executasse três transferências bancárias a fornecedores, o que fiz. Só que as transações eram falsas e ele usou até uma suposta carta do FBI relatando violação às leis do sistema financeiro dos EUA, cobrando multa para desbloquear a falsa conta bancária.
E aí?
Ele dizia que só eu poderia ajudá-lo a pagar a multa e comprar passagem para voltar ao Canadá. Garantia que me devolveria tudo. Acabei depositando 10 mil dólares, que à época, deu R$ 42 mil.
Dias depois, ele me falou que recebeu outra carta do FBI, pedindo mais dinheiro. Foi quando desconfiei e descobri que o link que ele me passou da conta bancária era falso.
Como se sente?
O sentimento é de revolta e clamor por justiça. Quero que ele seja preso e punido com o rigor da lei.
Vítimas expõem carência afetiva
Perfis das vítimas
Idade
> Mulheres a partir dos 40 anos, principalmente solteiras, separadas e viúvas.
Exposição nas redes sociais
>Pelas postagens, os criminosos buscam mulheres que enfrentaram alguma doença grave ou dão sinais de carência afetiva, embora isso não seja uma regra.
> Existem situações em que as mulheres acabam sendo alvo em potencial, sobretudo quando deixam sinais de que são muito românticas, como aquelas que postam mensagens, dizendo: “eu quero voltar a acreditar no amor” ou “estou à procura de um novo amor”.
> Os criminosos também monitoram aquelas que expõe sua rotina na internet, com postagens sobre passeios, viagens, bens adquiridos, como carros, apartamentos e até roupas de grife.
Como se blindar
Perfil fechado
> O importante é manter o perfil da rede social fechado.
> Quando houver solicitações de amizade, analise a origem, se tem amigos em comum e sempre desconfie, embora isso não garanta que quem está do outro lado não possa ser um criminoso infiltrado na rede social.
> Se mesmo assim você não abre mão de conhecer pessoas novas, observe qual o perfil dos amigos dessa pessoa nas redes sociais, como é a troca de mensagens.
Cotidiano
> Observe o cotidiano dessa pessoa e não permita que ela fale apenas o que deseja ouvir, já que palavras bonitas fazem parte do repertório desses criminosos.
Pedido de dinheiro
> Se durante a conversa houver pedido de dinheiro ou promessa de enviar presentes, como joias ou até mesmo dinheiro, especialmente de outro país, desconfie, pois tudo indica que esteja conversando com um golpista.
> Existem casos em que os criminosos chegam a enviar um presente, na tentativa de ganhar a confiança da vítima, mas depois eles pedem um determinado valor para resgatar outros presentes.
> Outros dizem que estão sendo ameaçados de morte ou que há casos de doença na família e como precisam de dinheiro rápido, induzem a pessoa a enviar determinada quantia.
Nada de transferir bens ou fazer empréstimos
> Se, no mundo real, já é preciso ter cautela com a pessoa que está se relacionando, caso o relacionamento seja precoce, imagine no mundo real. Então, todo cuidado é importante. Se comprar algum bem, por exemplo, jamais transfira para seu companheiro virtual.
Fonte: Delegado Brenno Andrade.
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