Especialista em educação infantil: “Alunos têm de aprender a perder”
Pedagoga pontuou durante palestra que os alunos precisam aprender a lidar com frustrações
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Destacando a necessidade de um resgate da socialização para melhorar a aprendizagem, a pedagoga e especialista em educação infantil Regina Shudo defendeu que escolas invistam em atividades que ensinem as crianças não só a ganharem, mas, principalmente, a perderem.
Para ela, olimpíadas, gincanas e brincadeiras devem fazer parte da rotina das escolas, principalmente nesse período pós-pandemia, em que crianças e jovens estiveram voltados para as telas.
Durante a palestra, que teve como tema “Itinerários possíveis para melhorias da qualidade na educação”, Regina pontuou que os alunos precisam aprender a lidar com frustrações.
Tecnologia
“A tecnologia foi fundamental para a educação durante a pandemia, mas ela não fez a diferença. A tecnologia, sozinha, não cumpre o papel de educar. É só pensar: com toda a tecnologia disponível, o aprendizado melhorou? O desempenho escolar está melhor? Não. Aumentaram as dificuldades dos alunos? Sim”
Excesso de telas
“O uso excessivo de telas fez disparar entre os jovens a ansiedade, uso de medicação precocemente, falta de relacionamento. Temos jovens mais agressivos, mais apáticos, crianças sem projeto de vida. Por isso é hora de apertar o freio”.
Papel inverso
“Ninguém vai abrir mão da tecnologia. Mas a escola vai ter que fazer um papel inverso: liberar ocitocina.
Vou explicar o que significa: Durante a pandemia, quando a gente ficava muito tempo na tecnologia, a gente ficou meio viciado. É o cérebro liberando as dopaminas, que é uma substância que vicia.
Por outro lado, ter projeto de vida, sonhar, ter relações sociais significa liberar ocitocina. Com um ano e meio sem a escola, perdemos muito essa substância”.
Socializar
“O primeiro caminho para ajudar a melhorar a qualidade da educação é promover mais encontro dos alunos para se socializar. O jovem está convivendo menos com outros jovens. No meu tempo, a gente ia pra casa de amigos, brincava na rua, no clube, na igreja. Hoje, cada um está em seu quarto, no seu computador ou celular.
Brincadeiras
“Lembram de gincanas? Aquelas em que a gente tinha que arrecadar a lata, que a gente tinha que pegar fotografia mais antiga, aquela gincana que mobilizava toda a família, a escola? Gincana é 'top'. Aquela Olimpíada de vários esportes, futebol, vôlei... Vamos precisar de mais jogos, mais brincadeiras, mais olimpíadas, mais gincanas. E não é uma vez por ano. É sempre. Porque o jovem precisa aprender a perder”.
Frustração
“Com o uso do celular, os jovens hoje não têm frustração. A criança ou jovem que fica duas horas direto na internet, quando sai daquele mundo, ele faz birra, é agressivo, responde pais e professores. Ele acha que a vida é só dopamina”
Emoções
“Para que os alunos aprendam, eles têm de saber a lidar com as emoções. Se eles não ativam a capacidade cognitiva, quando não lidam com as questões emocionais, eles apresentam dificuldades de aprendizagem.
Mas entendam uma coisa: as dificuldades dos alunos não são síndromes e nem doenças mentais. Elas são apenas dificuldades, e são passageiras”.
Resgatar a atenção é desafio
Em conversa com pais, uma das queixas apresentadas é a dificuldade de concentração, herança do período de pandemia da covid-19, quando os alunos trocaram as salas de aula pelo ensino remoto.
Mãe de Lucas, de 13 anos, e Letícia, 9, a empresária Kene Vasconcelos, 41, revelou que durante a pandemia as crianças ficaram menos concentradas e mais dispersas. “É como se a pandemia tivesse rompido com a rotina deles”.
Na volta às aulas presenciais, ela frisou que uma das dificuldades é cumprir prazos e horários em ritmo mais intenso que o modelo virtual.
Uma forma encontrada pelos pais para ajudar na aprendizagem e a manter a rotina de estudos, mesmo na pandemia, foi matricular os filhos no Kumon.
Além disso, Kene destacou a importância da interação com colegas da mesma faixa etária. “Morar em condomínio de casas possibilitou, mesmo com restrições da pandemia, que as crianças tivessem alguma liberdade”.
Uma fonoaudióloga, que pediu para o seu nome ser preservado, percebeu que o rendimento escolar da sua filha, de 16 anos, que estuda em uma escola particular em Vitória caiu muito na pandemia.
“Ela sempre foi estudiosa, mas está encontrando dificuldades de fazer as provas presenciais, pois na pandemia era tudo feito em casa e ela e as colegas faziam consultas nas avaliações, já que não havia controle. Agora fui obrigada a contratar um professor particular de matemática na tentativa de melhorar as notas da minha filha”.
estratégia para interagir
Durante o ensino remoto e híbrido na pandemia da covid-19, em 2020 e 2021, o estudante Vicenzo, de 13 anos, teve queda no rendimento escolar. Ele está cursando o 8º ano do ensino fundamental.
A autônoma Ellan Neves, 44, conta que o filho ficou de recuperação e encontrou dificuldade em disciplinas básicas, como artes. “Também percebi que ele estava mais ansioso, comendo muito e sentindo falta da interação com os amigos”.
Para ela, a inovação deve contar com estratégias para que os alunos possam interagir mais.
Mudança na forma de ensinar
“Nós temos que mudar a maneira que ensinamos os nossos alunos. Essa maneira, essa tecnologia que nós usamos, isso já foi, isso é passado”.
Com essas palavras, o chanceler do Sindicato das Empresas Particulares de Ensino do Estado (Sinepe), Moacir Lellis, saiu em defesa de mudanças, com alunos interagindo mais.
Citando a palestra de ontem, de Gil Giardinelli, com o tema “Futuro inteligente, além da inovação”, Moacir Lellis fez um alerta:
“Nós temos que mudar. Não podemos mais. As nossas escolas ainda continuam com a carteira enfileirada, a sala de aula é a mesma coisa, o professor protagonista. Não existe isso. O aluno tem que interagir mais. Em função das tecnologias que nós não estamos aplicando, mas que eles usam, os alunos do ensino médio não aguentam mais esse tipo de aula, como nós estamos ministrando as nossas aulas”.
“Isso é uma preocupação nossa, do Sinepe. Eu tenho dito: nós estamos acomodados, precisamos mudar a nossa maneira. Nós não estamos evoluindo. A inovação está em tudo. Então, se nós não inovarmos, o que vai acontecer com a gente? Vamos morrer”, finalizou.
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