Vigaristas têm vida de ostentação e luxo após dar prejuízo a idosos
Vigaristas enganam vítimas e acabam descobertos pela Justiça por exporem nas redes sociais uma vida de luxo
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Viver no luxo às custas do sofrimento de milhares de pessoas, sobretudo idosos, é a realidade de golpistas que chegam a ter um faturamento milionário e, sem qualquer compaixão com suas vítimas, até mesmo ostentam nas redes sociais o resultado de seus crimes.
Os golpistas não têm pudor em se exibir no Instagram, com fotos em locais paradisíacos, hotéis de luxo, em festas badaladas ou mostrando os bens obtidos com os estelionatos, como carros de luxo, casas de alto padrão e até um avião monomotor. A polícia está ativa e já fez várias prisões e apreensões de bens de olho nas redes sociais de vigaristas.
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Em abril, por exemplo, dois homens e duas mulheres foram presos acusados de integrar uma organização criminosa especializada em aplicar golpes bancários em mais de 100 vítimas, principalmente idosos, em todo o território nacional, e que teriam faturado cerca de R$ 3 bilhões.
Os suspeitos chegaram a publicar em suas redes sociais fotos em festas e em viagens nacionais e internacionais, incluindo registros em jet ski e em piscinas com borda infinita, além de ostentarem bens que, segundo a polícia, foram obtidos por meio do dinheiro conseguido com os golpes.
Segundo a polícia, os suspeitos obtinham os dados das centrais telefônicas clandestinas e se passavam por funcionários da área de segurança de uma instituição financeira, dizendo que suas contas estavam sob suspeita de fraude e que seria necessário transferir o dinheiro para uma nova conta.
“O idoso é o alvo preferido porque são pessoas que geralmente têm maior dificuldade com tecnologia e, por terem trabalhado a vida toda, tendem a ter mais recursos financeiros guardados”, diz a advogada Larah Brahim.
Outro exemplo é o de um casal capixaba que foi preso em Vila Velha suspeito de aplicar golpe em duas idosas que buscavam um advogado para receber uma alta quantia como herança de seus respectivos maridos.
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O casal teria conquistado a confiança das vítimas, produzido documentos falsos e, a partir daí, embolsado, de forma indevida, mais de R$ 1 milhão das vítimas. Os suspeitos ostentavam vida de riqueza, tendo sido apreendidos com eles, no momento da prisão, três carros de luxo, além dos documentos das vítimas e cartões de crédito.
“Antes de conhecerem as vítimas, o padrão de vida deles era bem inferior. São muitos carros de luxo, quadriciclos, cavalos, gado, haras e até mesmo um avião monomotor”, destacou, na época da prisão, a delegada Rhaiana Brememkamp, que atuava como titular da Delegacia de Defraudações e Falsificações (Defa).
Casa de luxo em construção
No ano passado, a Polícia Civil descobriu que suspeitos de integrar uma organização criminosa que aplicava o golpe do “bilhete premiado” no Estado estavam construindo uma casa luxuosa com piscina e perto da praia em Mucuri, na Bahia.
Segundo a polícia, a casa ainda estava em construção e a esposa de um dos investigados teria tentado fugir do local dirigindo um veículo avaliado em R$ 90 mil, que foi apreendido.
A polícia estima que o grupo teria feito pelo menos quatro vítimas no Estado, que tiveram um prejuízo estimado em cerca de R$ 1 milhão.
Advogado investigado por fraudes
Um advogado apelidado de “Rei dos Previdenciários” está sendo investigado pela Polícia Civil. Ele é suspeito de ter se apropriado de mais de R$ 280 mil e fazer 11 vítimas em pelo menos cinco estados do País, inclusive no Espírito Santo.
Wanderson Camargos, que se diz especialista em aposentadoria, pensão e auxílio-doença, é acusado de se apropriar de benefícios de seus clientes. Sob a promessa de desbloquear uma quantia financeira, ele atrai clientes, mas na hora de fazer o repasse do dinheiro desaparece.
Ao tentar sacar o dinheiro em suas respectivas contas, as vítimas encontram o saldo zerado, com um aviso de que o valor havia sido sacado por Wanderson através da procuração. Parte das vítimas relatou ser analfabeta ou semianalfabeta.
Em suas redes sociais, o advogado aparece ostentando luxos, como a realização de seu próprio casamento em Dubai, nos Emirados Árabes, em uma celebração que durou quatro dias e ocorreu em um hotel com diárias que chegam a custar R$ 40 mil.
Em nota, a defesa de Wanderson Camargos disse que repudia, com veemência, a alegação de ausência de repasses financeiros aos seus clientes. Também disse que, ao longo de 20 anos, sua atuação garantiu benefícios previdenciários para mais de 20 mil pessoas.
A defesa diz ainda que a divulgação de informações parciais vem de uma disputa contra um ex-sócio e que busca distorcer a realidade.
Entenda
Tipificação
- O Artigo 171 do Código Penal tipifica o crime de estelionato, descrevendo-o como “obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento”.
- A pena é de reclusão, de um a cinco anos, e multa. Especialistas detalham que a sensação de impunidade sentida pelas vítimas ocorre porque até que o acusado seja condenado, ele poderá responder por liberdade e, após ser condenado, poderá até mesmo cumprir regime semiaberto ou até aberto.
- A advogada criminalista Larah Brahim destaca, porém, que um mesmo estelionatário pode responder por várias penas por estelionato que podem ser somadas e garantir um regime inicial fechado, que é previsto e obrigatório para quem for condenado a uma pena superior a oito anos de prisão.
- Além disso, a Lei 13.228/2015 acrescentou um parágrafo ao artigo 171 do Código Penal, fixando o aumento de um terço ao dobro da pena aplicada quando a fraude é cometida contra vítima idosa, fazendo com que a escala penal passe a variar de dois a 10 anos de reclusão.
Dados
- Segundo o Anuário de Segurança Pública 2023, só no Espírito Santo foram registrados 37.391 casos de estelionatos no ano passado, um aumento de 25% em relação a 2021.
- Dessa quantidade, 15.277 estelionatos foram cometidos por meio eletrônico, o que demonstra a tendência dos golpistas de utilizar ligações e mensagens de WhatsApp ou e-mail para cometer o crime.
Fonte:Anuário Brasileiro de Segurança Pública e especialistas citados na reportagem.
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