Venda é aprovada e Nestlé tem de manter fábrica da Garoto por 7 anos
Após mais de 20 anos de espera, o Cade aprovou a venda da marca capixaba à multinacional, que tem de cumprir exigências
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O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) aprovou ontem o acordo com a Nestlé que libera, mais de 20 anos depois, a compra da Garoto pela multinacional. Com isso, a fábrica de chocolate capixaba terá pelo menos mais sete anos de atividades.
A fusão de Nestlé e Garoto foi firmada em 2002. Dois anos depois, foi vetada pelo Conselho, tendo sido suspensa pela Justiça em 2005, o que fez com que a Nestlé tivesse de manter separados os ativos da Garoto, ficando impedida de incorporar totalmente a marca.
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Conforme anúncio da Nestlé, a empresa se manteve confiante no encerramento do caso. “Mantivemos investimentos consistentes, sempre destacando as marcas icônicas e fomentando o desenvolvimento de toda a cadeia de valor”, informou em nota a multinacional.
Para o vice-presidente Jurídico e de Assuntos Públicos da Nestlé Brasil, Gustavo Bastos, os brasileiros são exigentes e é preciso manter a qualidade do chocolate.
“Temos hoje um consumidor exigente e que consome chocolate nas mais diferentes ocasiões de consumo. Essa realidade sempre nos deixou confiantes em uma solução jurídica consensual e equilibrada com o Cade”.
Já Patricio Torres, vice-presidente de Confectionery da Nestlé Brasil, afirma que os investimentos feitos na fábrica da Garoto são prova do compromisso com a empresa capixaba.
“Isso fica evidenciado pela magnitude dos investimentos que realizamos consistentemente na fábrica de Vila Velha, seguindo o conceito de indústria 4.0, além de expansão de capacidade e inclusão de novos produtos, criando oportunidades de mão de obra mais qualificada para a comunidade local”.
A história da Garoto começou no dia 16 de agosto de 1929, dia em que foi fundada pelo alemão Henrique Meyerfreund. Entretanto, o primeiro produto a ser fabricado pela empresa não foi o chocolate.
Em Vila Velha, a primeira linha de produção foi com balas e se chamava “Fábrica de Balas H. Meyerfreund & Cia”. Os doces eram vendidos nos bondes da cidade por meninos, e o produto fez tanto sucesso que ficou conhecido como “Balas dos Garotos”.
O nome da fábrica – Chocolates Garoto – é uma homenagem aos garotos que vendiam as balas. A empresa tornou os chocolates carro-chefe em 1936, no mesmo local que concentra as atividades atualmente, na Glória, em Vila Velha.
Multinacional não precisa vender marcas, decide Cade
Nenhuma marca da Chocolates Garoto terá de ser vendida pela Nestlé. Isso mantém a produção de um clássico da empresa, o “Serenata”. Criado em 1949, foi lançado como bombom e hoje tem o nome de wafer – algo parecido com um biscoito.
Apesar de a empresa não comentar a mudança, ao que tudo indica, a alteração tem viés tributário.
Com 74 anos desde o lançamento, o produto já passou por muitas mudanças e quase foi tirado de linha. Em 2017, a Nestlé anunciou que o Serenata e outros três bombons deixariam de ser produzidos.
Mas o produto nunca saiu de circulação. A ideia de fazer o bombom partiu de Henrique Meyerfreund a partir de uma sugestão de sua cunhada Erika Meyer.
A irmã de Erika se chamava Úrsula e era uma jovem de 15 anos, que na época, namorava um rapaz chamado Hugo Musso, que costumava fazer longas serenatas com um bandolim sob a janela da moça.
Certo dia, quando todos conversavam sobre o melhor nome para aquele produto, Úrsula sugeriu “Serenata ao Luar”, em homenagem ao namorado. "Luar", porém, já aparecia no nome de outro bombom. Após algumas tentativas, ficou decidido que seria “Serenata de Amor”. Úrsula e Hugo se casaram e tiveram seis filhos.
Entenda
O que ficou definido
No acordo aprovado ontem, quatro compromissos comportamentais foram assumidos pela Nestlé Brasil:
1- Manter a operação da fábrica da Garoto em Vila Velha por um período de pelo menos sete anos.
2 - Também por sete anos, a empresa se compromete a informar ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) qualquer aquisição de empresa ou marca no mercado nacional de chocolates sob todas as formas, mesmo que não atinja os requisitos de faturamento previsto na lei concorrencial.
3 - Por cinco anos, acorda ainda em não adquirir ativos que representem participação igual ou superior a 5% de market share.
4 - E, por último, há um item a respeito do livre comércio internacional, segundo o qual a Nestlé Brasil, por um período de sete anos, não intervirá em pedidos de terceiros relacionados a tarifas diferenciadas na importação de chocolates ao mercado brasileiro.
História da Garoto
A Chocolates Garoto é uma das principais fabricantes de chocolates brasileira e que possui uma das 10 maiores fábricas de chocolates no mundo.
E é o segundo ponto turístico mais visitado no Espírito Santo, atraindo cerca de 350 mil pessoas por ano.
A história da Garoto começou no dia 16 de agosto de 1929, dia em que foi fundada pelo alemão Henrique Meyerfreund.
Por anos, a empresa foi uma das maiores produtoras de chocolate e era consolidada no mercado nacional, tendo inclusive projeção internacional.
Mas, em 2002, a empresa anunciou a venda para a multinacional suíça Nestlé. Na época, a fábrica passava por uma crise interna. O interesse da gigante internacional teve repercussão positiva, e, quando a venda foi concluída, os funcionários celebraram a vitória. Em 29 de setembro de 2001, o então presidente da Garoto foi levantado pelos operários como forma de celebração pela venda.
Na época, as empresas eram as maiores do mercado. No País, a Nestlé tinha 30,8% e a Garoto 24,4% de consumo no setor de chocolate.
Só que dois anos depois, m 2004, a aquisição foi vetada pela autarquia. O anúncio aos funcionários da empresa foi marcado por um momento de apreensão e incertezas.
Desde então o processo de venda se arrastou no Cade. A fusão foi concluída ontem.
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