Preço do conilon no ES deve subir mais
Questão climática e fatores relacionados a logística contribuem para esse resultado
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Com grande procura e oferta limitada, o preço do café conilon no Espírito Santo bateu um recorde histórico, chegou a R$ 1.000 o valor da saca de 60 quilos e tem tendência de se valorizar ainda mais.
A questão climática e fatores relacionados a logística contribuem para esse resultado.
No ano passado, Vietnã e Indonésia apresentaram problemas na produção de café. Soma-se a isso, a guerra entre Israel e Hamas, que afetou o tráfego pelo Canal de Suez, em função dos ataques a navios no Mar Vermelho.
Como esses países optaram por contornar o Cabo da Boa Esperança, o que deixa o frete mais caro e demorado, o café do Brasil ganhou competitividade lá fora, aumentando as exportações, que contribuíram para deixar portos cheios.
“O Vietnã está produzindo menos e consumindo mais. Está segurando a produção deles e dando preferência para vender frutas e produtos mais perecíveis”, destacou Denes do Rosário, engenheiro de alimentos com mestrado e doutorado em alimentos no Brasil e no Exterior e pesquisador do pós-doutorado em fermentação de café pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), em Alegre.
O presidente do Sindicato Rural de Cachoeiro de Itapemirim, Wesley Mendes, explicou que o produtor precisa aproveitar o momento para pagar os investimentos feitos nessa safra, equilibrar as contas de perdas do passado e recuperar o capital para investimentos futuros.
“Estamos cautelosos porque o preço está alto mas a colheita ainda não começou. A colheita começa agora, vai de abril a setembro”, lembrou.
Na visão do especialista em engenharia econômica Lélio Monteiro, o preço do café só vai abaixar quando o Vietnã voltar a abastecer o mercado. “Demora um pouco, só na próxima safra”, avaliou.
Nos próximos meses, ele admite a possibilidade dos preços subirem ainda mais, mas destacou que é difícil prever já que a situação depende de muita variáveis.
Café ganha qualidade, e identidade valoriza grão
A qualidade do café conilon vem melhorando e conquistando reconhecimento. A mudança é decorrente do conhecimento sobre todo o processo de produção do café, que foi sendo disseminado, conforme o pesquisador do pós-doutorado em fermentação de café da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) de Alegre, Denes do Rosário.
A disseminação do conhecimento, segundo ele, vem sendo feita pelo Instituto Capixaba de Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), universidades, prefeituras e cooperativas produtoras.
Em relação a fermentação, ele frisou que o produtor compreendeu que a fermentação correta confere aroma e sabor ao café, como o de baunilha, frutado ou de chocolate. Já a fermentação incorreta dá vinagre, fungo e bolor no produto.
O Espírito Santo conquistou a Indicação Geográfica (IG) para o Café Conilon, na categoria de Indicação de Procedência (IP), se diferenciando dos demais. “Essa identidade mostra a qualidade do nosso trabalho”, afirma.
SAIBA MAIS
Preço
A saca de 60 quilos do café conilon alcançou o preço mais alto da história no Espírito Santo, chegando a R$ 1.000, enquanto o arábica ficou em torno de R$ 1.150.
Questão Global
Ano passado, dois grandes concorrentes do Brasil, Vietnã e Indonésia, apresentaram problemas na produção de café. Além disso, com a guerra entre Israel e Hamas, o trafego pelo Canal de Suez foi afetado, em função dos ataques a navios no Mar Vermelho.
Então, esses países optaram por contornar o Cabo da Boa Esperança, o que deixa o frete mais caro e demorado. Com isso, o café do Brasil ganha competitividade.
Evolução na qualidade
O conhecimento sobre todo o processo de produção do café foi sendo disseminado pelo Instituto Capixaba de Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), universidades, prefeituras e cooperativas produtoras, como a Cooabrial, que é a maior cooperativa de café conilon do mundo. Dessa forma, os produtores conseguiram melhorar a qualidade do café.
Um dos pontos que melhorou, por exemplo, foi o processo de fermentação. O produtor começou a entender que existe a fermentação positiva e negativa. A positiva é aquela feita de forma correta, que proporciona um aroma sabor baunilha, frutado ou chocolate. Já a fermentação incorreta dá vinagre, fungo, bolor no café.
Concursos
Os concursos de melhor café do Brasil inicialmente eram só de Arábica. Produtores do Estado já haviam solicitado a inclusão do conilon, que não foi aceita.
Em uma atitude de desespero, segundo o pesquisador do pós-doutorado em fermentação de café da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), em Alegre, Denes do Rosário, produtores inscreveram um café conilon, sem falar que era conilon. O café ficou bem classificado na disputa e o segredo foi revelado. Só assim foi compreendido que a qualidade tinha melhorado e precisava haver o reconhecimento.
Marcos
Entre 2010 e 2012 foi criada, a nível mundial, a ficha de avaliação da qualidade do café especial canéfora, que envolve robusta e conilon.
Indicação Geográfica
O Espírito Santo conquistou a Indicação Geográfica (IG) para o Café Conilon, na categoria de Indicação de Procedência (IP). Foi a primeira IG do Brasil que abrange a produção de conilon em um estado inteiro, um alcance inédito. A solicitação foi feita pela Federação dos Cafés do Espírito Santo (Fecafés), em janeiro de 2020, e a concessão foi dada pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), em maio de 2021.
Arábica e Conilon
O café arábica e o conilon são plantas com formas de cultivo e sabores diferentes. O conilon é mais resistente a doenças, tem polinização cruzada e por ser abundante, acaba tendo um valor inferior ao arábica, que produz muito em um ano e, no ano seguinte, a produção pode cair pela metade.
O cultivo é realizado a partir de sementes, e é mais suscetível a doenças e pragas. Por outro lado, é considerado mais fino e com condições muito melhores para oferecer diferentes nuances. É mais cultivado em regiões de temperaturas mais baixas e altitudes acima de 500m. Já o conilon é de regiões mais quentes.
Fonte: Marcus Magalhães, Márcio Ferreira, Incaper, Denes Rosário.
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