Tarifaço entra em vigor e mexe com empresas e consumidores a partir desta quarta
Especialistas preveem redução em preços de alimentos num primeiro momento e suspensão de investimentos. Já demissões, só pontuais
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O tarifaço imposto pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros entra em vigor nesta quarta-feira (06) e provoca impactos diretos sobre a economia do Espírito Santo, tanto para empresas quanto para consumidores.
Apesar de produtos capixabas de grande peso — como celulose, petróleo, aço, minério e quartzito — terem sido incluídos na lista de exceções e escaparem da sobretaxa de 50%, outros itens importantes da pauta de exportação do Estado ficaram de fora. Entre eles estão o café, as frutas, a pimenta-do-reino, o gengibre, as carnes e o granito.
Bruno Maciel Santos, doutor em Relações Internacionais e professor da UVV, explica que os itens mais afetados pertencem ao agro.
“Parte dessa produção será redirecionada para outros mercados, como a China, ou para o mercado interno. Isso pode gerar perdas para o setor, mas também resultar em uma possível queda nos preços domésticos e na inflação em um primeiro momento.”
Para Daniel Carvalho, coordenador dos cursos de Relações Internacionais e Comércio Exterior da UVV, o momento é de atenção.
“Enquanto esses produtos não forem redirecionados para outros mercados, haverá maior oferta no Brasil, o que poderia gerar pressão deflacionária e incentivar a queda dos preços. Mas a recente alta do dólar tende a neutralizar esse efeito.”
No setor de rochas ornamentais, a situação ainda é de expectativa. O presidente do Sindicato das Indústrias de Rochas Ornamentais do Espírito Santo (Sindirochas-ES), Ed Martins André, reafirmou que o segmento está se articulando com entidades americanas para tentar ampliar a lista de exceções, hoje limitada ao quartzito.
“Sobre demissões, o que se tem visto são comentários pontuais. A maior preocupação hoje é com os prestadores de serviços terceirizados. Como as empresas estão focando no quartzito — que exige mais processamento —, elas passaram a absorver essa mão de obra internamente”.
Pablo Lira, diretor-presidente do Instituto Jones dos Santos Neves, alerta para o cenário de instabilidade. “Anúncios repentinos e sem base econômica clara afetam decisões de investimento. Isso pode frear a expansão de empresas e comprometer a geração de empregos”.
Diante do novo cenário, ele recomenda cautela. “É hora de ampliar o diálogo para incluir produtos como café, frutas e carnes na lista de exceções, e até buscar uma renegociação mais ampla das tarifas impostas aos produtos brasileiros”, concluiu Pablo Lira.
Mais frutas em sucos, iogurtes e sorvetes são avaliadas
O governo federal avalia elevar a exigência de frutas e mel na fabricação nacional de sucos, iogurtes e sorvetes industrializados como uma forma de aumentar a absorção doméstica de produtos afetados pelo tarifaço de 50% dos EUA.
A proposta é estudada pelo Ministério da Agricultura e da Pecuária e foi apresentada a empresários, mas dependeria de mudanças em regulamentações.
No cenário de possibilidades, a ministra do Planejamento, Simone Tebet, avaliou ontem, que há chances de o café e a carne ficarem de fora ou não sofrerem tanto impacto da tarifa de 50% sobre produtos brasileiros.
Segundo ela, uma eventual exclusão desses itens da medida seria mais benéfica para os norte-americanos do que para o Brasil, devido à dificuldade de substituição no mercado internacional.
“O café, porque o do Vietnã também teve um problema de safra. A gente consegue reposicionar. A carne é virar uma chave, o frigorífico deixa de fazer o corte específico dos Estados Unidos. O boi é o mesmo, então ele só faz o corte específico para outros países”, disse.
SAIBA MAIS
Parceiro comercial
Os Estados Unidos são um importante parceiro comercial e o principal destino das exportações do Espírito Santo, representando 28,6% das exportações do Estado em 2024.
Tarifas anunciadas
A nova rodada de tarifas comerciais anunciadas pelo ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e previstas para entrar em vigor na última sexta-feira, foi adiada e deve começar a valer a partir desta quarta-feira.
No entanto, uma lista de exceções foi divulgada pelo governo americano, o que trouxe um alívio aos brasileiros, especialmente, para a economia do Espírito Santo.
Lista de exceções
Dos 694 produtos da lista de isentos da tarifa adicional da taxação os EUA, 74 produtos foram exportados pelo Espírito Santo em 2024.
Produtos capixabas contemplados na lista
Na lista de exceções estão papel e celulose, petróleo e derivados, aço, minério de ferro e quartzito, suco de laranja, — todos com peso significativo na base produtiva do Estado.
Essas exceções representaram 47,1% do total comercializado com os Estados Unidos.
Ficaram de fora da listagem
Itens estratégicos para a economia do Estado ficaram de fora da lista de exceções como o café e produtos do café, as frutas, gengibre, pimenta do reino, carne vermelha, pescados, granito e mármore, gengibre, pimenta do reino.
Sobre o café
Produtores, empresários do setor e A Associação da Indústria de Café (Abic) acreditam que haverá uma negociação para incluir o produto na lista de exceções, já que o Brasil representa 30% do mercado norte-americano nesse setor e há uma pressão interna para que o Brasil continue exportando para os EUA.
Sobre o gengibre
Maior produtor de gengibre do País, o Espírito Santo é responsável por 75% da produção nacional, que se concentra nos municípios de Santa Leopoldina, Santa Maria de Jetibá e Domingos Martins.
Ao todo, 3.500 famílias produtoras podem ser afetadas pelo tarifaço, já que um terço do gengibre produzido no Espírito Santo vai para os EUA.
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