Saúde mental no emprego: Preocupação com drogas para melhorar rendimento
Ritalina, Modafini, Venvanse e outros, sem indicação médica, para aumentar a produtividade no trabalho
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Trabalhadores estão recorrendo ao uso de remédios, como Ritalina, Modafini, Venvanse e outros, sem indicação médica, para aumentar a produtividade no trabalho. A situação preocupa empresários.
Os motivos são vários, tais como: busca de uma promoção; vontade de se destacar do resto da equipe, desenvolvendo mais atividades em menos tempo; desejo de conquistar uma comissão maior no fim do mês; ou até mesmo medo de perder o emprego.
A busca incessante pela alta performance tem levado muitas pessoas a um estado de esgotamento, destacou a CEO da Kato, Roberta Kato.
Ela explicou que esses medicamentos são indicados apenas para casos específicos e exigem acompanhamento médico rigoroso. “Quando utilizados de forma indiscriminada, podem causar sérios danos à saúde”, alertou.
Empresária, ela pontuou que as empresas preocupadas com essa questão promovem discussões sobre a importância de uma produtividade saudável. “É necessário buscar maneiras naturais de aumentar o desempenho, sem recorrer a substâncias que podem causar mais malefícios do que benefícios”.
O presidente do Conselho Temático de Relações do Trabalho (Consurt) da Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes), Fernando Otávio, destacou que a Ritalina pode causar dependência, principalmente se não tiver acompanhamento médico.
“O profissional pode estar usando para aumentar sua produtividade e ganhar mais no final do mês. Dessa forma, a empresa pode, com uso de prêmios, estar, ainda que indiretamente, incentivando o uso desse tipo de substâncias”, ponderou.
No caso da Ritalina, há estudos que apontam que ela é capaz de reduzir a produtividade de usuáros que não têm o Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), para o qual o medicamento é indicado.
A advogada trabalhista e presidente da Comissão de Direito do Trabalho da OAB-ES, Alice Cardoso, detalhou que o empregado não pode ser demitido por usar um remédio, mas pode ser penalizado se o uso indiscriminado dessa substância, sem acompanhamento médico, prejudicar o trabalho dele.
Ela frisou ainda que há pacientes que precisam dessa medicação para trabalhar e se concentrar no trabalho.
Lei garante a privacidade
O empregado tem direito à privacidade. No momento da contratação, por exemplo, uma empresa não pode perguntar se ele tem ou não alguma doença, se é dependente químico ou se toma determinada medicação.
Após a contratação, ele precisa reportar à empresa seus problemas de saúde quando há necessidade de ficar afastado, apresentando o atestado médico.
“Cabe ao RH ter a sensibilidade de acolher e ajudá-lo, se for o caso. Quando a empresa não acolhe o empregado doente, isso mostra que ela discrimina a situação dele”, explicou a advogada trabalhista e presidente da Comissão de Direito do Trabalho da OAB-ES, Alice Cardoso.
A empresa não pode entrar na vida privada do empregado para saber se ele usa ou não determinado remédio. “Isso seria violar o direito à intimidade da pessoa”, pontuou a advogada.
Também existem os casos em que empresas incentivam direta ou indiretamente o uso de medicamentos para melhorar artificialmente o desempenho do funcionário no trabalho.
O advogado trabalhista Leonardo de Castro Ribeiro pontuou que tal situação viola direitos, além de configurar uma prática abusiva e antiética. “É importante abordar a questão sob a ótica dos direitos humanos e direitos fundamentais assegurados pela Constituição Federal, em especial o direito à saúde e a condições dignas de trabalho”.
SAIBA MAIS
Pressão excessiva agrava problemas
Produtividade
É interessante que o desejo por melhorar a produtividade exista. Conforme destacado pelo Sebrae, a produtividade é tida, de forma consensual por empresários e teóricos, como única fonte de crescimento econômico sustentado no longo prazo. Contudo, essa busca se torna um problema quando afeta a saúde mental do trabalhador e o leva a buscar remédios para potencializar sua capacidade.
Saúde mental
O médico psiquiatra Marcelo Kimati Dias, em entrevista à Fundacentro, explicou que há evidências de que situações de pressão, vulnerabilização de vínculo de trabalho e pouco envolvimento do colaborador em decisões que envolvem sua própria atividade estão relacionadas a mais sofrimento mental.
Ele lembrou que há situações específicas de cada atividade, mas que baixos salários, carga horária excessiva, assédio e conflitos no trabalho são situações que causam sofrimento em qualquer atividade.
Cobrança
A pressão pelo aumento da produtividade também pode levar o colaborador ao estresse e à ansiedade. Essa pressão pode ser tanto externa, da empresa com ele, quanto interna, dele com ele mesmo.
Acompanhamento
É importante que as empresas busquem acompanhar a saúde mental de seus empregados. Liderança bem treinada, clima organizacional positivo, planejamento e políticas de saúde mental contribuem para desenvolver locais psicologicamente seguros.
Intimidade
O empregado tem direito à intimidade. Ele não precisa informar à empresa sobre quais medicamentos usa, por exemplo. Contudo, se for submetido a um exame toxicológico e demitido por causa de uma medicação que precisa tomar, a demissão pode ser considerada discriminatória.
Fonte: Fundacentro, Alice Cardoso, Portal Terra.
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