Salários mais altos atraem mulheres para a área de tecnologia
Estudo mostrou que o número de candidatas às vagas de tecnologia de informação quadruplicou nos últimos seis anos
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Apesar de ser um mercado que historicamente é dominada por homens, tem crescido a participação das mulheres no setor de tecnologia. Além disso, o aumento da participação feminina está sendo acompanhado por uma melhora salarial.
Um estudo da empresa americana de Tecnologia da Informação (TI), BairesDev, mostrou que o número de candidatas às vagas de tecnologia quadruplicou nos últimos seis anos.
Além disso, a plataforma de empregos Catho também revelou um aumento na participação das mulheres no setor este ano. Elas cresceram de 21% em 2021 para 23,1% em 2022.
Especialista em Recursos Humanos (RH) e CEO Heach Brasil, Elcio Paulo Teixeira acredita que deve haver um equilíbrio entre homens e mulheres do setor nos próximos quatro anos.
“Em algumas áreas da economia as mulheres se inseriram mais rápido, outras nem tanto. Há alguns anos, quando eu lecionava para cursos de tecnologia, o que se via eram três ou quatro mulheres por turma. Hoje em dia, a cada 40 alunos, 15 são mulheres”
Segundo Elcio, os fatores que atraem as mulheres para área incluem, por exemplo, os salários e os benefícios. “O trabalho remoto também tem atraído as mulheres, tanto quanto a remuneração. O fato delas poderem organizar a própria vida e trabalhar de casa conta muito”, revela.
Outro dado da pesquisa Catho é uma ligeira redução na diferença salarial entre homens e mulheres. Segundo dados de 2021, a média salarial era de R$ 7.950 para mulheres, e a masculina de R$ 9.092.
A analista de TI, Ana Elisa Frecchiani, de 38 anos, decidiu deixar as salas de aula para ir em busca da sua vocação. Foi trabalhando em uma empresa de internet que nasceu a paixão pela área e ela resolveu fazer o curso de redes.
Entrar em uma área dominada por homens fez com que Ana Elisa tivesse de enfrentar desafios, mas hoje ela garante que valeu a pena.
“Antes, eu sempre achava que não era boa o suficiente por ser mulher. As pessoas acham que você é a secretária da pessoa da T. e não a própria pessoa. Apesar disto, eu nunca aceitei as coisas de cabeça baixa. Se você deseja ser a pessoa da tecnologia, então seja. Não deve haver limitação de gênero” .
Pesquisa revela recusa de oferta de emprego em diversas profissões
Apesar do desemprego, um dos principais motivos que têm levado a recusa a vagas de trabalho em várias áreas é o salário ser considerado baixo por parte dos candidatos.
Este foi um dos resultados da pesquisa realizada pela plataforma de empregos Catho. Segundo levantamento, o baixo salário foi o motivo relatado por 41% dos entrevistados na pesquisa.
O levantamento também apontou que, entre homens e mulheres, os motivos para a recusa da proposta são diferentes: a maioria das mulheres (34%) afirmam recusar propostas de emprego devido a distância entre o trabalho e a casa.
Já para 41% dos homens, a escolha está atrelada ao financeiro.
Consultor de RH, Elias Gomes considera que os diversos papéis desempenhados pelas mulheres faz com que elas valorizem mais o tempo utilizado em percursos, uma vez que eles diminuem o tempo de outras atividades.
“As mulheres acabam se expondo mais em transporte público. Muitas são mães, ajudam em casa e isso tudo acaba encurtando o tempo delas para atividades pessoais. O homem muitas vezes tem só a questão da academia. Para a mulher o tempo para ela acaba sendo mais precioso”, afirma.
Especialista em Recursos Humanos, Elcio Paulo diz que a situação também está associado à lei da oferta e da procura.
“Muitos estão participando de dois ou três processos seletivos, então eles acabam escolhendo”
Para ambos, não gostar das atividades ou do conteúdo do trabalho aparece em segundo lugar como motivo para recusa de um emprego (14% mulheres e 12% homens).
“Hoje me sinto realizada”
Moradora de Vitória, Ana Paula Tongo, de 44 anos, é empresária do setor e diretora da Associação Capixaba de Tecnologia (Act!on). Desde 1999, ela vem desbravando o caminho na área e conhece a realidade de ser mulher no setor de tecnologia da informação (TI).
“Hoje eu me sinto realizada, mas ainda temos muitos desafios. Como mulher na área de TI, a gente precisa falar até três vezes mais para sermos ouvidas. Hoje temos consciência dessa diferença salarial e podemos negociar por melhorias”, afirmou.
ANÁLISE
“Na área da tecnologia, elas ainda sofrem muito preconceito”
“A mulher tem uma participação grande no mercado e isso tem crescido. Há vários programas e incentivos, mas, na área da tecnologia, elas ainda sofrem muito preconceito. A diferença salarial gira em torno de 30% a 40% entre homens e mulheres. A participação da mulher ainda é baixa na área, teve até aumento, mas é baixa.
A desigualdade de gênero dentro do universo da tecnologia de informação é um problema global, não é só aqui.
Porém, a mulher possui características diferenciadas que ajudam no processo inovador. Ela tem perfil que agrega valor na sua capacidade emocional, na sua capacidade relacional. A mulher tem um foco maior nos estudos.
A área de TI sempre foi muito masculinizada. Elas estão vindo para complementar algumas características do típico profissional de TI, dos profissionais que só sabem mexer com máquinas e não sabem lidar com gente.
A mulher está vindo muito bem dentro dessa área.”
SAIBA MAIS
Faltam profissionais no setor
Profissional de TI
Hoje os cursos em tecnologia da informação (TI) e comunicação ofertados no Brasil formam anualmente 53 mil pessoas, um terço da demanda projetada de 159 mil vagas até 2025.
Vai faltar 500 mil profissionais de TI
Estima-se que em cinco anos, isso significará um déficit de meio milhão de profissionais.
Motivos que levam à recusa de vagas em vários setores
1. Remuneração insuficiente: 41%.
2.Muito longe da residência do candidato: 28%
3.Não gostou da atividade ou do conteúdo do trabalho oferecido: 14%.
4.Benefícios insuficientes: 7%.
5.Não oferecia plano de carreira: 5,5%.
6. Não tem uma boa imagem da empresa: 3%.
7.Nível hierárquico inferior ao que eu ocupava anteriormente: 1,5%.
Fonte: Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação e de Tecnologias Digitais (Brasscom) e Pesquisa AT.
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