Produtores vão fabricar mais vinhos no Estado
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A produção de vinhos no Espírito Santo parece não estar sentindo na pele os prejuízos causados pela pandemia do novo coronavírus. Com um aumento aproximado de 5% na colheita de uva na última safra, produtores afirmam que vão ampliar a produção da bebida no Estado.
Para se ter uma ideia, enquanto na safra 2018/2019 foram colhidas 2.400 toneladas de uva e produzidos 288 mil litros de vinho, na safra 2019/2020 esse número passou para 2.520 toneladas e 300 mil litros de vinho, de acordo com o Instituto Capixaba de Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper).
Carlos Alberto Sangali de Mattos, extensionista do Incaper, explicou que o aumento na produção se dá por dois motivos.
“Devido a novas áreas plantadas que começam a produzir e também à maior produtividade por área das parreiras que já produziam”.
Nesse contexto, entram os investimentos dos produtores tanto em terra, para aumentar a área plantada, quanto em tecnologia, para melhorar a produtividade.
Além disso, assim como saem, entram novos produtores na área. “A lucratividade nesse setor é muito grande. Além do consumo in natura, é possível agregar valor com o suco e o vinho”.
A safra geralmente vem seguida do número de dois anos (2019/2020, por exemplo), pois no Espírito Santo a poda acontece em julho e agosto e a colheita de dezembro a fevereiro.
Sobre a expectativa em relação à safra 2020/2021, Sangali destacou que é boa. “Tem área em Guarapari e outras no Norte do Estado que vão entrar em produção”.
Ele explicou que a uva começa a produzir no terceiro ano de vida e seu auge é no quinto ou sexto ano, dependendo das condições.
E não é só a produção que está crescendo, mas também a comercialização, conforme destacou a presidente do Sindicato da Indústria de Bebidas em Geral do Espírito Santo, Juliana Reggiani.
Ela explicou que houve um aumento de 5% nas vendas na última safra e lembrou: “A comercialização do vinho capixaba é limitada não só por fatores mercadológicos, mas em função da capacidade produtiva também”.
Produtividade
Sereno Gardin Rubert, de 63 anos, tem uma vinícola em Victor Hugo, Marechal Floriano. Lá são produzidos seis tipos de vinhos, com uva Moscato, Isabel, Bordeaux e Margot. “Por enquanto, a comercialização é mais regional”, explicou.
Ele destacou que produz em torno de 4 mil litros de vinho por ano e que o plano é chegar aos cinco mil nos próximos dois anos. Para isso, investiu na ampliação da plantação. Assim, algumas plantas mais novas vão começar a produzir e as outras terão aumento na produtividade.
Ele recebe visitantes na vinícola para conhecer a estrutura e fazer degustação. Devido à pandemia, é obrigatório o uso de máscara e distanciamento social.
Bebida capixaba entre as melhores
Dois vinhos de Santa Teresa ficaram entre os melhores do Brasil no Concurso Wines of Brasil Awards 2019 pela ViniBraExpo, no Rio de Janeiro.
O Tabocas Cabernet Sauvignon 2014 recebeu o selo azul, com 85,2 pontos, e o Tabocas Cabernet Sauvignon Oaked 2014 conquistou 86,8 pontos.
O concurso reuniu 156 vinícolas e os teresenses conquistaram o júri composto por 12 membros entre sommeliers, enófilos e jornalistas especializados, que fizeram a degustação de todas as amostras às cegas. Ambas as produções já esgotaram.
Vinícius Corbellini e Divanir Zottelle, donos da vinícola Tabocas, vão produzir de 4 a 7 toneladas de uva este ano. “A produção deve aumentar até 40% em relação às melhores safras. Provavelmente será a melhor safra de todos os tempos”, destacou Corbellini. Eles começaram a produzir em 2007.
Corbellini explicou que, além de ter uma área de cones mais novos que estão começando a produzir, também há o ganho de conhecimento.
“Em todo lugar do mundo, o produtor tem de criar um manejo para a planta obter o máximo de expressão de qualidade e produtividade. E a gente tinha certa dificuldade. Mas agora o manejo da parreira está praticamente dominado. Conseguimos estabilizar e aumentar a produtividade”, disse.
Saiba mais - Vinícolas em mais de 40 cidades
Panorama
- A produção de uva está presente em 42 dos 78 municípios do Estado, sendo que, destes, oito possuem agroindústria e fazem o processamento: Santa Teresa, Domingos Martins, Venda Nova do Imigrante, Muniz Freire, Alfredo Chaves, Vargem Alta, Marechal Floriano e Conceição do Castelo.
- A cultura ocupa uma área de 210 hectares, sendo 150 em produção e 60 em formação. Está presente em 600 propriedades, envolvendo 1.000 produtores.
- A produtividade média estadual é de 16 toneladas por hectare com propriedades que chegam a produzir 30 toneladas por hectare.
Produção
- Safra 2018/2019: 2.400 toneladas de frutos sendo 80% para consumo in natura e 20% para processamento, produzindo 288 mil litros de vinho e 48 mil litros de suco.
- Safra 2019/2020: aumentou 5%. Ao todo, foram produzidas 2.520 toneladas de frutos sendo 80% para consumo in natura e 20% para processamento, produzindo 300 mil litros de vinho e 50 mil litros de suco.
Agroindústria
- 98% elaboram vinho de mesa com uvas oriundas de cultivares americanas – Niágara Rosada, Isabel, Bordô e híbridos.
- Apenas 2% elaboram vinhos finos com uvas oriundas de cultivares europeias – Cabernet Souvignon, Sirah e Tannat. Preço: de R$ 15 a R$ 50.
História
- A produção de vinho no Estado teve início em 1985, em Santa Teresa, com o pioneiro vinho Melicio.
- Antigamente os imigrantes esmagavam as uvas com os pés utilizando a tina para produção de vinho. Hoje esse processo é realizado somente em eventos festivos.
- Atualmente o processamento obedece métodos rígidos de colheita, processamento, envasamento e comercialização. Vinícius Corbellini e Divanir Zottelle, donos da vinícola Tabocas, vão produzir de 4 a 7 toneladas de uva este ano em Santa Teresa.
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