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Economia

Por salário maior e emprego, 39 mil jovens voltam a estudar no ES

Sem outra escolha para ter chances melhores no mercado de trabalho, 13 mil deles resolveram deixar trabalho para se dedicar só aos estudos


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Imagem ilustrativa da imagem Por salário maior e emprego, 39 mil jovens voltam a estudar no ES
Remuneração: 39 mil voltaram às salas de aulas para melhoria de salário e emprego |  Foto: Canva

Ter um bom salário e oportunidades de empregos, mais do que nunca, requer qualificação ou ampla experiência. Essa tônica do mercado leva, sobretudo, os mais jovens a correrem atrás dos livros e estudarem.

Só na faixa etária entre 18 e 24 anos, 39 mil no Espírito Santo voltaram para a sala de aula a fim de buscar mais conhecimento e, assim, conquistar empregos melhores ou conseguir promoção no trabalho, com salários mais atraentes. 

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Desses jovens, 13 mil foram além e resolveram parar de procurar emprego para se dedicar exclusivamente aos estudos e melhorar as condições no mercado do trabalho.

Os dados são fruto de pesquisa nacional da Fundação Getúlio Vargas (FGV), que analisou o mercado de 2019 a 2022 e apontou que 1 milhão de jovens deixaram de procurar emprego no País e, deles, 55% o fizeram para retomar os estudos. 

A pedido da reportagem, o sociólogo e pesquisador Alonso Fritzen analisou informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2022, e também da pesquisa  da FGV. 

A amostra do professor conclui que, dos 425 mil jovens (entre 18 e 24 anos) do Estado, 30% estão sem trabalhar ou estudar, o que corresponde a 127 mil pessoas; 20% (26 mil) fazem os dois e, 10%, que equivalem a 13 mil, estão só na sala de aula. 

“É um grupo que acredita que só o estudo permite trabalhos com melhor remuneração”, explica. 

Segundo ele, esse entendimento pode vir de expectativas frustradas. “As portas fechadas podem ensinar que só a sala de aula consegue mudar a perspectiva de vida dessas pessoas.”

Bruno Felício, professor de estudos sociais da FGV, explica que os efeitos sociais da pandemia ainda são incomuns. 

“Durante a pandemia, boa parcela da sociedade se afastou do trabalho, fosse pela idade ou por questões de saúde, mas, com as pessoas em casa, serviços como delivery e de bem-estar não só continuaram, como exigiram mão de obra. Então entrou em cena a força jovem”.

Ele  diz que com a retomada da “vida normal”, dois efeitos foram observados: os profissionais foram substituídos por outros mais qualificados ou aqueles que permaneceram mudaram expectativas e agora desejam chances melhores, com melhores condições de salário e perspectiva de crescimento.


Em busca do sonho

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Geanderson Alves, 23 anos, sonha em ser designer gráfico |  Foto: Heytor Gonçalves/AT

Geanderson Alves,  23 anos, tem um objetivo profissional: ser designer gráfico. Para tornar o sonho possível, o jovem, que não concluiu o ensino médio, voltou às salas de aula. “Sei que estou distante do meu objetivo, mas estou no caminho”.

Ele  trabalhava como retocador no ramo  de mármore e granito. Depois, viu uma vaga para mecânico em uma empresa de refrigeração, no entanto, foi informado  que a contratação só poderia ser feita se  ele tivesse ao menos o  nível médio. 

“Eles disseram que só poderiam me contratar se concluísse os estudos, então voltei”. O jovem está na empresa há três semanas e  concilia o trabalho com as aulas diárias, oferecidas no turno da noite.


Exigências fazem  parte do mercado, dizem empresários

Quem já concorreu a uma vaga de emprego sabe que a lista de exigências das empresas está cada vez maior. São muitos os requisitos e para não ficar de fora é preciso investir em estudo. 

José Carlos Bergamin, vice-presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Espírito Santo (Fecomércio-ES), é categórico ao afirmar: “Sem estudo, cabe ao profissional as vagas operacionais, que sempre vão exigir mão de obra, mas não saem daquilo”. Segundo ele, as empresas esperam funções múltiplas.

“Já não basta ter um currículo com muitos cursos técnicos e de qualificação, é preciso ter características emocionais relevantes, como: comprometimento, ética, respeito pela diversidade e interesse”.

Ralf Barros, coordenador geral da Escola Jovem de Alfabetização (EJA) do Sesi Espírito Santo, diz que o número de jovens com idade entre 18 e 24 anos que voltou a estudar aumentou, principalmente depois da pandemia. 

Barros afirma que ao se dedicar apenas aos estudos, não há perda. “Esse intervalo afastado do mercado é na verdade um ganho, o profissional volta melhor”.

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Impulso na carreira

Com mais jovens de volta às salas de aula, o mercado perde uma de suas forças mais ativas, no entanto, especialistas apontam que este cenário é positivo e que em pouco tempo, o ganho produtivo supera o intervalo de inércia. 

Especialistas apontam que o tempo investido em educação permite um leque maior de oportunidades, com empregos que garantem melhores remunerações, estabilidade e planos de carreira.

A economista Alessandra Pizzol reforça que a sala de aula é a grande chance desses jovens. “É um passo para trás necessário para dar outros dois à frente”, afirma. Para ela, quanto menor o nível de escolaridade, menor é a qualificação profissional. “E o contrário também, quanto mais forte o currículo, melhor é a vaga de trabalho”.

O psicólogo Bruno Ragassi relata um cenário comum quando os jovens interrompem os trabalhos para voltar a estudar. 

“O gera lucro é o trabalho, certo? Quando essa atividade sai de cena, é preciso garantir a subsistência de outra forma, nesse momento, muitos retornam para a casa dos pais”. O profissional diz que é preciso paciência e suporte. “O estímulo na vida pessoal é um dos fatores principais do sucesso profissional”.


Dados da pesquisa

Remuneração desanima e força a estudar

No estado

No ano passado, dos 425 mil jovens entre 18 e 24 anos, 39 mil voltaram às salas de aulas em busca de melhores salários e emprego. 

No País

Em 2022, eram 17,6 milhões de jovens na mesma faixa etária no mercado de trabalho, sendo que 30% trabalhavam e estudavam e 15% só estudavam. 

Renda

Os salários mais baixos nessa faixa etária desestimulam, e o aumento das transferências de renda permite que o jovem se dedique aos estudos.

O efeito é maior quando a análise se concentra nas regiões onde houve mais pagamentos do Auxílio Brasil (atual Bolsa Família), que passou de R$ 200 para R$ 600.

Em alguns locais, a massa de rendimentos chegou a subir 30%, conforme os dados da amostra.

Os salários baixos, motivados pela baixa qualificação, justificam a volta dos jovens às escolas.

Fonte: Alonso Fritzen (sociólogo e pesquisador) e Agência Globo.

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