Petrobras não descarta nova fábrica no Espírito Santo
A gerente-geral da Unidade de Negócios da Petrobras no Estado disse que investimento em fertilizantes pode ser retomado
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A Petrobras chegou, no fim da década de 2000, a anunciar um investimento multibilionário em um polo gás-químico em Linhares, no Norte do Estado, que incluía uma fábrica de fertilizantes. Anos depois, a empresa confirmou ter desistido do negócio.
Mas uma volta do projeto não está descartada. Os investimentos da Petrobras seguem em um estudo contínuo, e uma indústria de fertilizantes pode voltar a entrar entre os negócios da estatal.
Essa foi uma das revelações feitas pela gerente-geral da Unidade de Negócios de Exploração e Produção da Petrobras no Espírito Santo, Eduarda Lacerda.
Ela esteve na Rede Tribuna para participar do quadro Histórias Empresariais, com o jornalista Rafael Guzzo, e se emocionou ao falar da família. Mãe do João, 11 anos, e da Ana, 8, ela ressaltou a importância da representatividade. “Se uma menina vê uma mulher gerente-geral, ela pensa que também pode ser.”
Ela falou sobre os 70 anos da petrolífera, completados este ano, e destacou a ampliação da atividade da estatal no Estado, com um investimento de R$ 22 bilhões até 2027. Abordou a transição energética, com possíveis parques eólicos, mas frisou que o Estado “ainda tem muito petróleo para produzir”.
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Perguntada sobre quantos profissionais estão subordinados à sua gerência, Eduarda disse que são quase 10 mil. Mas corrigiu. “Não estou à frente e muito menos comando. Cuidar é um termo mais adequado. Cuidar das pessoas.”
A Tribuna — A Petrobras completa 70 anos. A empresa dispensa apresentações, mas é interessante sabermos como é a trajetória dela no Estado.
Eduarda Lacerda — Temos vários marcos no Espírito Santo que estamos completando este ano. Desses 70 anos, há 66 a Petrobras está presente aqui e foi aqui, há 55 anos, que perfuramos o primeiro poço marítimo. Ele foi seco, ou seja, deu água no lugar do óleo. Mas serviu para termos informações que depois serviram para ajudar em outras descobertas.
Completamos também, este ano, os 15 anos do pré-sal. O primeiro óleo do pré-sal foi capixaba, no Campo de Jubarte, sul do Espírito Santo, no Parque das Baleias, na reta de Anchieta. Lá, em setembro de 2008, foi onde tivemos a produção do primeiro óleo do pré-sal brasileiro offshore (em alto-mar), no poço “Espírito Santo 103”.
Esse marco é muito importante porque o pré-sal fez a empresa mudar de patamar na indústria mundial. Hoje o pré-sal corresponde a quase 80% da nossa produção. Se fosse um país, a Petrobras seria o 11º produtor de petróleo no mundo. Ou seja, é uma produção muito relevante e temos muito orgulho de ter sido no Espírito Santo.
E como está a produção no pré-sal? Já chegou ao ápice?
Ainda tem muito óleo para ser produzido. Os reservatórios do pré-sal, que se estendem do Espírito Santo até a Bacia de Santos, têm muito óleo e com característica interessante que é a qualidade excelente, com alto API, no ponto de vista de ser um óleo leve. E de baixa emissão de gases do efeito estufa.
Hoje as plataformas mudaram de perfil. Há menos pessoas trabalhando. E há a perspectiva de uma plataforma diferente entrar em operação no estado em 2025, a Maria Quitéria.
A gente tem previsão no nosso plano de negócios 2023-2027 de investir R$ 22 bilhões no Estado. Esse valor não é só nessa nova plataforma, pois a gente também tem novos poços nas plataformas que já produzem hoje. A gente tem a P-57, P-58, Cidade Anchieta.
No caso do Maria Quitéria, é um navio-plataforma do tipo FPSO. Ou seja, ele também armazena o petróleo que ele produz. Ela é diferente, porque é a primeira que vai ter o que a gente chama de ciclo combinado de geração.
Algumas reportagens a colocaram como a primeira plataforma all electric de ciclo combinado. Mas ela não é a primeira all electric, mas sim é a primeira desse modelo com ciclo combinado.
O que é ciclo combinado?
Quando a gente olha a emissão de gás de efeito estufa na nossa produção de petróleo, 77% da realidade da Petrobras é devido à geração de energia, que preciso ter lá a bordo. Então, nessa geração de forma convencional, usando turbogeradores, eu tenho emissão de bastante gás de efeito estufa.
Quando tenho o ciclo combinado, eu aproveito duas vezes o gás que sai do turbogerador, um equipamento que a gente usa para gerar energia. Ele entra na caldeira também e, com isso, eu tenho o que a gente chama de ciclo combinado. Ou seja, o mesmo gás sendo utilizado duas vezes. E por isso eu tenho uma redução da emissão de gás de efeito estufa.
Essa vai ser a nossa primeira plataforma da Petrobras no mundo com esse sistema. E vai acontecer aqui no Espírito Santo. Quando a gente fala de transição energética, descarbonização, esse é um ponto muito importante.
O Estado tem muita relevância em termos de prestação de serviços, pelas empresas, certo?
A gente tem mais de 160 contratos. E aí, são dos mais diversos. As empresas do Espírito Santo, juntas, formam o quinto maior mercado fornecedor da Petrobras. Não só no Espírito Santo, mas no Brasil.
Você é a primeira mulher gerente-geral. Como é estar na função e qual a importância?
A diversidade gera inovação, que vai gerar melhores resultados para as empresas. Essa é a linha lógica. E talvez a gente precise convencer algumas pessoas que não estão convencidas ainda do ganho da diversidade. Mas o primeiro ponto é que é uma questão de direitos humanos. Todas as pessoas merecem ser tratadas com respeito.
O segundo ponto é que representatividade importa. Preciso que as pessoas, quando enxergam uma mulher como gerente-geral da Unidade, se for menina em idade escolar, ou se está na universidade, pensem que também podem ser.
Quando a gente fala que representatividade importa é sobre isso, a gente ter pessoas diversas, ocupando diversas funções, posições, para que outras pessoas também consigam enxergar ali uma oportunidade de pensar que é possível estar também naquela posição.
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