Petrobras alerta sobre risco de faltar combustível em novembro
Distribuidoras dizem que pedidos não têm sido atendidos pela Petrobras, que alerta para dificuldades em oferecer combustíveis
Em comunicado, a Petrobras confirmou que sua produção não será suficiente para atender todos os pedidos de fornecimento de combustíveis para novembro. O pronunciamento já leva as distribuidoras a prever que falte gasolina e diesel no início do próximo mês.
De acordo com a estatal, “os pedidos extras solicitados para novembro vieram 20% acima da sua capacidade de suprimento no caso do diesel e 10% acima em relação à gasolina, configurando-se como uma demanda atípica tanto em termos de volume como no prazo para fornecimento”.
Para a Associação das Distribuidoras de Combustíveis (Brasilcom), “as reduções promovidas pela Petrobras, em alguns casos chegando a mais de 50% do volume solicitado para compra, colocam o País em situação de potencial desabastecimento”.
Essa produção abaixo da demanda está atrelada a uma queda na produção de barris de óleo equivalente no Brasil, usados para o refino de combustíveis. Segundo a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), a produção da Petrobras caiu 2,8% no terceiro trimestre deste ano, em comparação com o mesmo período do ano passado.
Entre julho e setembro, foram produzidos 8,409 milhões de barris de óleo equivalente. Em 2020, foram 8,640 milhões de barris nesse período.
Entidades apontam que a baixa exploração das refinarias é um dos principais motivos por trás do possível desabastecimento de combustíveis nas próximas semanas. Segundo a Federação Única dos Petroleiros (FUP), o Fator de Utilização (FUT) das refinarias no Brasil caiu, aumentando ainda mais a dependência de importação de combustíveis.
“A Petrobras poderia estar utilizando a capacidade máxima de refino, aumentando a produtividade e, consequentemente, reduzindo os custos unitários de produção desses derivados de petróleo para vender no mercado nacional a um preço mais justo“, afirmou ao Portal G1 o coordenador-geral da FUP, Deyvid Bacelar.
Em nota, a estatal ressaltou que segue operando com elevada utilização de suas refinarias, tendo alcançado 90% da sua capacidade de processamento, no acumulado de outubro, bem acima da média dos últimos trimestres.
“Duzentos reais já não rendem nada”
A corretora de imóveis Wanderleia Rocha, de 50 anos, se assustou novamente com o preço da gasolina, de R$ 6,49 o litro, quando abasteceu o veículo na tarde de ontem, em Vitória.
“Sempre rodo bastante com o carro por causa do trabalho. Essa é a terceira vez que estou abastecendo só nesta semana. Antes, R$ 200 de combustível rendiam bastante, mas hoje já não dura quase nada”, lamentou ela.
“Brasil vai melhorar”
O aposentado Emerson Rocha, de 68 anos, tem priorizado andar com o veículo a diesel, que acaba sendo mais em conta.
“Tenho carro a diesel e a gasolina, e este acaba sendo um pouco mais econômico, diante de todos os reajustes. Eu não acho que vá faltar diesel. Minha expectativa é de que, ainda este ano, o Brasil melhore, o dólar diminua e o combustível também fique mais barato.”
Estoque de diesel no fim
Distribuidoras já estão alertando empresários para a possibilidade de faltar diesel no Espírito Santo já a partir de semana que vem.
“Por enquanto os pedidos estão chegando normalmente, mas há um possível cenário de escassez de diesel de semana que vem, e de gasolina já no início de novembro”, apontou o empresário Anderson Basílio, dono de um posto de combustíveis na Praia do Canto, em Vitória.
“Nós somos a ponta da cadeia de consumo, então não há muito o que fazer. Se os motoristas antecipar a compra, a crise também vai ser antecipada. E estamos prevendo um aumento da demanda e, consequentemente, de preços, do etanol. Mas para o diesel não tem substituto.”
Por nota, o Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo no Estado (Sindipostos-ES) ressaltou que ainda não foi considerada uma solução que não deixe o estado tão vulnerável.
“O problema da falta de combustíveis já foi tratado pelo Sindipostos em diversos momentos junto às distribuidoras e autoridades competentes. Uma das alternativas seria agilizar o licenciamento para a instalação da nova base no Porto de Vitória”, disse a entidade.
Entenda: Refinarias não dão conta da produção
Risco de desabastecimento
A demanda por combustíveis nos próximos meses pode superar a capacidade de produção da Petrobras e da oferta das distribuidoras, provocando um desequilíbrio no mercado.
A Petrobras afirmou que recebeu uma “demanda atípica” de pedidos de fornecimento de combustíveis para o próximo mês, e que não deve conseguir atender a todos.
A Associação das Distribuidoras de Combustíveis (Brasilcom) disse que, em alguns casos, os cortes unilaterais da Petrobras chegaram a mais de 50% do volume solicitado para compra, o que coloca o País em “situação de potencial desabastecimento”.
Raiz do problema
De acordo com o Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP), de janeiro a agosto de 2021, 26% do volume de diesel e 8% da gasolina foram adquiridos no mercado externo.
Especialistas acreditam que o Brasil depende muito de combustíveis importados de outros países devido ao baixo investimento nas refinarias nacionais.
Segundo a Federação Única dos Petroleiros (FUP), o fator de utilização (FUT) das refinarias no Brasil tem apresentado queda, aumentando ainda mais a dependência de combustíveis de fora.
Possível solução
Uma saída seria aumentar as importações. Segundo a Petrobras, “há dezenas de empresas cadastradas na ANP aptas para importação de combustíveis. Portanto, essa demanda adicional pode ser absorvida pelos demais agentes do mercado brasileiro”.
As empresas alegam, porém, que não está sendo viável comprar combustíveis no mercado externo, pois os preços do mercado internacional estão em patamares bem superiores aos praticados no Brasil.
Segundo a Brasilcom, os combustíveis no exterior estão em torno de 17% acima dos preços praticados pela Petrobras.
Se o País exportar mais combustível, os preços devem ficar ainda mais altos.
Fonte: Petrobras, Brasilcom e pesquisa AT.
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