Operários do campo: os segredos dos domadores de cavalos
Especialistas dizem que é possível aprender a profissão, na qual a ordem é agir sem violência e gritos, ganhar confiança e ter paciência
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Parece coisa só para quem tem dom, mas é uma profissão que pode ser aprendida. O domador ou adestrador de cavalos é requisitado, mas pouco encontrado no mercado com as características necessárias para fazer o serviço da forma correta.
E qual o segredo para receber um animal arisco, bravo, e amansá-lo? O ponto central, dizem profissionais ouvidos pela reportagem, é estabelecer uma relação de respeito e confiança com o bicho, sem violência, barulho ou gritos. O trabalho dos adestradores é o que permite aos fazendeiros comprarem animais bravos, na certeza de que serão preparados para aceitar as atividades da fazenda.
Neste ano, o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) ofereceu nove treinamentos de Doma Racional, capacitando 88 participantes.
O instrutor de doma racional no Senar, Avaelson Santos Pardin, explicou que a doma é feita na base da confiança, sem uso da força: “O segredo é muita paciência”. Ele detalhou que o cavalo é colocado no redondel, uma estrutura redonda de madeira que cria um ambiente mais seguro para a doma.
O adestrador entra nesse espaço e passa uma bandeira sobre o cavalo colocando pressão e aliviando, por meia hora, num processo em que o animal começa a pegar confiança no humano. Depois vem a fase do contato mais direto, o domador pega nas patas de trás, nas da frente, vai ganhando confiança até começar a montá-lo. “Quanto mais bravo, mais eu gosto”, sorriu.
Gerente técnico do Senar, Murilo Pedroni explicou que o curso ficou suspenso por um período justamente pela dificuldade de encontrar bons instrutores atualizados. Para ele, o segredo para domar os animais é gostar muito deles, entender e respeitar sua natureza e compreender que cada animal é único.
O domador de cavalos Luis Augusto Almeida Filho, 41, contou que foi a partir de 2013 que começou a estudar e fazer cursos voltados para área, embora goste de cavalos desde criança.
“O cavalo só tem bondade. Com respeito, qualquer pessoa consegue domar, basta ter um pouco de conhecimento e prática”, explicou ele, que, além da doma, trabalha com aula de equitação: “Não adianta eu te entregar o cavalo pronto e você não saber o que fazer com ele”, analisou.
Esses animais, diz ele, têm papel terapêutico na vida de pessoas com depressão, além de apoio físico e locomotor. “Ele obriga a gente a aprender sobre educação locomotora. Tem que ter coordenação motora para isso”, explicou o profissional.
Trabalho na fazenda
O pecuarista Valdir dos Santos Pereira, de 37 anos, fez o curso de doma racional recentemente em Montanha. Ele contou que trabalha com produção de leite em sua propriedade, que tem vacas, bezerros e gado de recria e que usa o cavalo para tocar o gado quando precisa.
Além disso, o curso ajuda a criar outras possibilidades. “A gente recria animal também. Nasce muito potro, em vez de pagar outra pessoa, eu que vou domar”, contou.
Ele revelou que trabalha com gado há muito tempo: “A gente acha que sabe fazer e quando chega no curso percebe que não sabe nada, que não precisa de agressão. É tudo na base da confiança, não pode nem gritar”.
Apaixonado pelos animais desde pequeno
O domador Jocélio Oliveira Silva, 44, fez o curso de Doma Racional em Montanha, com o instrutor Avaelson Santos Pardin. Ele mora no distrito de Mucuri, na Bahia, e trabalha em uma fazenda em Montanha, no Espírito Santo. Apaixonado por cavalos desde pequeno, quando seu avô tinha uma fazenda, ele contou que aprendeu a domar “na bruta”.
No curso descobriu que achava que fazia do jeito certo, mas estava enganado. “No curso ele ensina a tratar o animal com carinho demais, o cavalo se apega a gente, tem aquela confiança, fica dócil”, contou.
Segundo o Senar, de uma forma geral, domadores recebem em média R$ 700 por animal.
Saiba mais
Curso
Doma Racional
O curso de Doma Racional é oferecido pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar).
Ele é voltado para ensinar a domar cavalos para trabalho e lazer, conhecendo o comportamento do animal.
Como participar
As turmas são divulgadas no site: senar-es.org.br. A inscrição pode ser feita por meio do Sindicato Rural do município onde a pessoa reside.
O local de realização do curso é escolhido de acordo com a demanda.
O aluno que conclui recebe o certificado válido no Brasil inteiro, mediante a presença e desempenho.
Preço
O curso é gratuito, mas há os custos com material, que são divididos entre os participantes.
Requisito
Para participar, é preciso ter 18 anos ou mais.
Fonte: Senar
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