Novas indústrias químicas no Norte do Espírito Santo
Presença de minerais e gás natural atrai o interesse de empresas, sendo que uma delas já adquiriu duas áreas em Conceição da Barra
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O Norte do Espírito Santo é o local escolhido por uma série de empresas para receber indústrias químicas. Uma delas é a SG Brasil Mineração, que já adquiriu duas áreas em Conceição da Barra e afirma que está trabalhando para conceber o primeiro módulo cloro-soda no município.
Mas afinal, o que seria esse tipo de projeto? Márcio Félix, diretor da SG Brasil Mineração e presidente da Associação Brasileira de Produtores Independentes de Petróleo e Gás (ABPIP), explicou que o investimento envolve duas frentes.
Um delas é a de um polo gás-químico, que usa o gás como matéria-prima para produzir produtos derivados, como ureia, metanol, acido fórmico e melamina.
E o outro cloro-soda, que utiliza gás para gerar energia elétrica e o sal, no caso do Estado, sal-gema, para uma produzir uma série de produtos, como cloro, hidróxido de sódio e hidrogênio. “Seriam várias unidades espalhadas pelo Norte do Espírito Santo, aproveitando o que tem de matéria-prima, de infraestrutura e de acesso ao mercado”.
A própria SG Brasil Mineração, segundo Félix, tem duas áreas em Conceição da Barra que estão em processo de aprovação de relatório de pesquisa junto a Agência Nacional de Mineração (ANM).
“Nós estamos trabalhando em conceber o primeiro módulo cloro-soda em Conceição da Barra”, frisou. No ano a empresa deve entrar com o processo de licenciamento ambiental junto ao Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema). “Vai começar a tomar forma”.
No Estado está a maior reserva de sal-gema do País. O sal-gema é encontrado em jazidas subterrâneas formadas há milhares de anos a partir da evaporação de porções do oceano, segundo a Agência Brasil. Por isso, o cloreto de sódio é acompanhado de minerais variados.
O sal-gema é comercializado para uso na cozinha, como o sal extraído no Himalaia encontrado nos supermercados. No entanto, ele também é matéria-prima para a indústria química.
Pode ser usado para fazer soda cáustica, ácido clorídrico, bicarbonato de sódio, sabão, detergente e pasta de dente, e em produtos farmacêuticos, conforme a Agência.
Petrobras iniciou projeto de bilhões para a região
Em 2012, a Petrobras apresentou, em Aracruz, um projeto do complexo gás-químico a ser instalado em Aracruz e Linhares. Um investimento de aproximadamente R$ 6,5 bilhões.
A projeção é era produzir 763 mil toneladas de ureia por ano, 790 mil toneladas de metanol, 200 mil toneladas de ácido acético, 25 mil toneladas de ácido fórmico e 30 mil toneladas de melamina.
O polo da Petrobrás usaria 3 milhões de metros cúbicos de gás por dia, praticamente dobraria o consumo do Estado. Lá ia se produzir ureia, metanol, ácido acético, acido fórmico e melamina, que são produtos básicos para fertilizantes.
O presidente da Associação Brasileira de Produtores Independentes de Petróleo e Gás (ABPIP), Márcio Félix, que também foi diretor da Petrobrás, apontou os possíveis motivos para a iniciativa não ter avançado. A empresa, segundo ele, estava com vários projetos simultâneos e enfrentou uma crise.
“A Petrobras teve idas e vindas e essa não é a área prioritária da empresa”. A empresa está retomando os projetos envolvendo a produção fertilizantes.
Findes vê potencial para fortalecer também o agro
A criação de um polo gás-químico é um marco para a industrialização do Estado, segundo o presidente da Federação das Indústrias do Espírito Santo, Paulo Baraona.
“Esse projeto, além de agregar valor ao gás natural local, tem potencial para fortalecer a cadeia agroindustrial, com destaque para a produção de fertilizantes, essenciais para o café e outras culturas”, frisou Baraona.
A federação, segundo ele, já buscou na Petrobras as informações técnicas que podem auxiliar na viabilização do projeto. “Acreditamos que sua concretização aumentará o consumo de gás natural, gerando competitividade e redução de custos”.
Quanto à exploração do sal-gema, a Findes informou que vem liderando ações estratégicas para impulsionar investimentos. Citou o evento que realizou mostrando o potencial econômico de um polo sal-químico no Norte do Estado, capaz de criar 15 mil empregos e R$ 170 milhões em investimentos.
“Estamos articulando, com o apoio de stakeholders, pela elaboração de um Plano de Exploração Sustentável que assegure infraestrutura e mão de obra qualificada”, afirmou Baraona.
O governo do Estado está na expectativa da finalização, no início de 2025, da pesquisa da viabilidade de extração de sal-gema nos municípios de Conceição da Barra e São Mateus, feita por empresas privadas.
Finalizada esta etapa, segundo a pasta, a Agência Nacional de Mineração (ANM) fará a autorização de lavra e os projetos viáveis poderão iniciar a instalação.
Já o polo de gás dependerá da atração de empresas do setor químico. Seu foco é na transformação do gás natural em insumo para a produção de fertilizantes. “O trabalho atual é o desenvolvimento de projeto de viabilidade para o polo, atraindo através deste os investidores que precisamos”, frisou a pasta.
A secretaria destacou ainda que o desenvolvimento logístico-portuário na região de Aracruz vai favorecer a atratividade para este tipo de empreendimento pela facilidade de importação de outros insumos e escoamento da produção para o interior do Brasil pela rede ferroviária a partir do complexo do ParklogBR/ES.
Saiba mais
Unidades espalhadas pela região
Conceito
Um polo cloro gás químico seria um polo dividido em duas frentes, uma gás-química, que usa o gás como matéria prima para produzir derivados, como ureia, metanol, acido fórmico e melamina.
E outra frente voltada para cloro-soda, que utiliza gás para gerar energia elétrica e o sal, no caso do Espírito Santo, sal gema, para uma produzir uma série de produtos, como cloro, hidróxido de sódio e hidrogênio.
A ideia é que o polo seja formado por unidades industriais espalhadas pelo Norte do Estado, aproveitando as vocações de cada município.
Cloro-soda
O polo cloro-soda é uma instalação industrial onde ocorre a produção de produtos a partir da reação química do cloreto de sódio (sal comum). Entre os Insumos produzidos estão: cloreto de sódio, água, energia elétrica e catalisadores e membranas específicas.
Produtos principais: cloro (usado na produção de PVC, solventes clorados, desinfetantes, tratamento de água, entre outros), soda cáustica (amplamente utilizado na indústria de papel, sabões, detergentes, e em processos químicos gerais), hidrogênio (utilizado como combustível, matéria-prima para amônia - na produção de fertilizantes - ou em outros processos químicos).
Produtos derivados: ácido clorídrico, hipoclorito de sódio (usado como alvejante e desinfetante), dicloroetano (intermediário na produção de PVC), clorometanos e solventes clorados (usados em indústrias químicas e farmacêuticas).
Gás-químico
Usa o gás como matéria prima para produzir derivados, como ureia, metanol, acido fórmico e melamina, que são produtos básicos para produção de fertiizantes. O Brasil é dependente do fertilizante de outros países.
Fonte: Márcio Félix.
Análise
“O desafio é grande, mas é atrativo”
“O Espírito Santo tem sua economia dependente de quatro grandes setores (petróleo e gás, mineração, siderurgia e papel e celulose) explorados por grandes empresas que exportam mais de 80% dessas commodities, sendo referência pela qualidade, elevando a imagem do estado no mercado internacional.
Entretanto, qualquer mudança no cenário econômico mundial afeta os empregos e a renda. Preocupado com a situação o governo do estado está construindo o projeto ES 500 anos, procurando alternativas para diversificar a economia local.
Dentro desse contexto, a exploração da reserva de sal-gema na região Norte do estado é muito importante. Essa matéria-prima tem grande utilidade na indústria.
De forma semelhante se aplica ao gás natural, o Espírito Santo produz mais de 4 milhões de m3/dia e consome menos da metade, cabendo uma avaliação para implantação de um polo gás químico, podendo produzir fertilizantes, polímeros, entre outros.
O desafio é grande, exige elevados investimentos, com tecnologia ainda não utilizada no Estado, mas por outro lado de muita atratividade considerando a demanda dos produtos, somado ao bom ambiente de negócios que vivemos.”
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