Nova ferrovia em risco por disputa política com a Bahia
Planejada para ligar portos do Espírito Santo e do Rio, a EF-118 enfrenta atrasos, e seu avanço deve ser sem a Vale, que foca na Fiol

Planejada para interligar portos do Rio de Janeiro e do Espírito Santo e também ligá-los à malha ferroviária nacional, a construção da Estrada de Ferro 118 (EF-118), conhecida como Ferrovia Vitória-Rio, pode não se concretizar por conta de pressões políticas, em Brasília, em prol de outro projeto na Bahia.
Inicialmente, o governo federal havia firmado acordo com a Vale para que a mineradora financiasse esse trecho como contrapartida à renovação da concessão da Estrada de Ferro Vitória a Minas (EFVM) e da Estrada de Ferro Carajás.
Mas as negociações não avançaram e, segundo o jornal Estado de S. Paulo, há pressão em Brasília para que a Vale direcione seu foco para a construção da Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol), na Bahia.
A Fiol, inclusive, foi o motivo de o governo federal e a Vale não terem chegado a um acordo, em agosto deste ano, para alterar os contratos de concessão da EFVM e da ferrovia Carajás.
O governo federal tentou incentivar, sem sucesso, que a empresa assumisse uma parte da ferrovia.
Em maio, o Conselho do Programa de Parceria de Investimentos (PPI), da Casa Civil do governo federal, publicou uma resolução com a recomendação da inclusão da EF-118 no Programa Nacional de Desestatização (PND).
O Ministério dos Transportes informou que o projeto da EF-118 vai caminhar mesmo sem a Vale, assim como o governador Renato Casagrande afirmou que o governo federal deve publicar o edital de licitação do primeiro trecho entre o final do ano e o início de 2026. As obras estão também previstas para o ano que vem.
O próprio Casagrande, no início do mês, chegou a fazer críticas à mineradora, pela demora em tocar o projeto.
Segundo o governador, a Vale teria apresentou, inclusive, o cronograma físico-financeiro da ferrovia ligando Santa Leopoldina até Anchieta, que constaria no documento conclusivo do Tribunal de Contas da União (TCU).
A Vale não se manifestou sobre o tema até o fechamento desta edição. Já o governo estadual foi procurado e, por meio da assessoria do vice-governador Ricardo Ferraço (MDB), informou apenas que “não há novidades” sobre o tema neste momento.
ENTENDA
O que é a EF-118?
> É um projeto de ferrovia que visa integrar a malha ferroviária nacional e os portos da região.
> Com 575 km de extensão, conectará o estado do Rio (via Porto do Açu e Nova Iguaçu) ao Espírito Santo (Santa Leopoldina e a Estrada de Ferro Vitória a Minas).
> A intenção é que a ferrovia se conecte com a malha concedida à MRS Logística, no município de Nova Iguaçu (RJ) e à Vitória a Minas, concedida à Vale em Cariacica.
> Interligará ainda os terminais portuários do Porto de Ubu em Anchieta (Espírito Santo), do Porto Central em Presidente Kennedy (Espírito Santo), o Porto do Açu e o Distrito Industrial de São João da Barra (no norte do estado do Rio de Janeiro), além do Complexo Petroquímico do Estado do Rio de Janeiro (Comperj), em Itaboraí.
> A obra é considerada viabilizadora de um corredor logístico estratégico, capaz de transformar a dinâmica portuária do Sudeste e ampliar a competitividade brasileira no comércio exterior.
Vai caminhar
> Em maio, o Conselho do Programa de Parceria de Investimentos (PPI), da Casa Civil do governo federal, publicou uma resolução com a recomendação da inclusão da EF-118 no Programa Nacional de Desestatização (PND).
> O Ministério dos Transportes informou que o projeto da EF-118 vai caminhar, com ou sem a Vale, assim como o governador Renato Casagrande afirmou que o governo federal deve publicar o edital de licitação do primeiro trecho entre o final do ano e o início de 2026. As obras estão também previstas para o ano que vem.
Negociações

> Inicialmente, o governo federal havia firmado acordo com a Vale para que a mineradora financiasse esse trecho como contrapartida à renovação da concessão da Vitória a Minas e da Estrada de Ferro Carajás.
> Entretanto, as negociações não avançaram, e há pressão em Brasília para que a Vale direcione seu foco para a construção da Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol), na Bahia.
> A Fiol, inclusive, foi o motivo de o governo federal e a Vale não terem chegado a um acordo, em agosto deste ano, para alterar os contratos de concessão da EFVM e da ferrovia Carajás.
> Na rodada final de negociações com a Vale pela renovação das concessões das duas concessões, o governo tentou novamente convencer a mineradora a assumir parte do projeto Bamin, no Sul da Bahia, alvo de interesse político do chefe da Casa Civil e ex-governador da Bahia, Rui Costa.
> O governo tentou convencer a Vale a assumir o projeto, em sociedade com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e a Cedro Participações. Desde 2010, a Bahia Mineração (Bamin) é controlada pela Eurasian Resources Group (ERG), do Cazaquistão, mas a empresa nunca concluiu o projeto para extrair minério de ferro da região de Caetité, no Sul da Bahia.
Fonte: Jornal O Estado de São Paulo.
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