Minerais do Estado podem interessar a Donald Trump, diz especialista
Esses minerais, considerados estratégicos, são de interesse dos EUA, especialmente diante de tensões geopolíticas e disputas tecnológicas
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Diante do aumento das tarifas norte-americanas sobre produtos brasileiros, surge uma questão estratégica: minerais encontrados no Espírito Santo, como os presentes na areia monazítica de Guarapari, poderiam interessar aos Estados Unidos como forma de barganha comercial?
Segundo o físico nuclear Marcos Tadeu Orlando, que é professor da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e representante da universidade no Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT), a resposta é sim. Esses minerais, considerados estratégicos, estão “no cardápio” de interesse dos EUA, especialmente diante de tensões geopolíticas e disputas tecnológicas. “Se não fossem de interesse, eles não teriam levado toneladas desse material no passado. Isso foi parar em Chicago, antes de o processo ser interrompido”, relembra.
Entre os elementos presentes na areia monazítica estão o tório, terras raras e titânio, fundamentais para o desenvolvimento de tecnologias sensíveis, como reatores nucleares de quarta geração, utilizados em submarinos, e equipamentos de alta performance, como lâmpadas especiais e componentes aeronáuticos.
A possibilidade de retomada da exploração desse material no Espírito Santo é tecnicamente viável, mas levanta alertas ambientais. A extração em larga escala modificaria o solo costeiro e traria impactos significativos, principalmente nas praias entre Guarapari e Presidente Kennedy, onde essas areias são mais abundantes. “Você extrai toneladas por mês. Isso transforma completamente o ambiente”, alerta Marcos Tadeu.

Além disso, o especialista lembra que, embora o tório possa ser usado para fabricar bombas de menor potência (as chamadas “bombas sujas”), seu uso principal atualmente está voltado à energia nuclear. “O maior interesse é mesmo no uso do tório como combustível em reatores nucleares modernos de quarta geração a base de sais de Tório. Os chineses e os ingleses, por exemplo, já estão desenvolvendo esses reatores.”
Uma pesquisa anterior já havia mostrado o valor estratégico dessa região. A areia monazítica do litoral sul capixaba contém minerais que hoje são alvo de disputas globais — especialmente diante da dependência de países ocidentais em relação às terras raras controladas pela China.
Assim, enquanto os impactos das tarifas norte-americanas se desenrolam, o subsolo capixaba pode voltar ao centro das atenções internacionais — como possível moeda de troca, ou até como alternativa geopolítica para reposicionar o Brasil (e o Espírito Santo) em novas cadeias produtivas de valor.
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