Mais de vinte mil vivem da tecnologia no Espírito Santo
Pandemia fez disparar procura por gente para atuar na área, levando a crescer o número de profissionais que aliam inovação à criatividade
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Aliar a tecnologia à criatividade e à inovação. Esse é o foco de 20.416 profissionais no Estado que atuam no segmento de Tecnologia da Informação e Comunicação, integrantes da chamada economia criativa, que empregou 9% de toda a força trabalhadora do Estado no último ano.
Os dados são do Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN), cujo diretor-presidente, Pablo Lira, destacou que o setor da tecnologia cresceu em procura por profissionais após a pandemia e dobrou em número de profissionais desde 2019.
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“Novos modelos de trabalho como home office e aulas remotas, além da adesão cada vez maior pela comercialização de produtos pela internet por aplicativos, demandaram a criação de serviços que utilizassem a tecnologia da informação e da comunicação”, afirma.
A psicóloga e diretora de cultura, liderança e diversidade do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças do Estado (Ibef-ES), Gisélia Freitas, destacou o elemento da inovação como responsável pelo crescimento da economia criativa no Estado e no País.
“Há uma demanda do mercado atual que coloca a criatividade como o centro dos negócios. Essa economia mistura partes sociais e culturais para ganhar espaço. A inovação exige ideias, colocar em prática, correr riscos.”
Lira destaca que dentro desse contexto de utilizar a criatividade, a cultura e a tecnologia para trazer soluções para a sociedade, está o mercado de desenvolvimento de jogos.
“Aqui no Estado há uma expansão desse ecossistema com o desenvolvimento de jogos para as atividades do dia a dia. Um exemplo está nos estudos: uma empresa de Vitória criou um jogo para ajudar alunos a se prepararem para o Enem”.
Professor do curso de Jogos Digitais da Faesa e criador do jogo “Capoeira o Jogo”, ambientado em São Mateus durante o período colonial, Victor Hugo Körting destaca o crescimento do segmento no Estado.
“Muitos alunos, após formados, acabam indo trabalhar em empresas fora do Estado e até mesmo fora do Brasil, muito por conta da facilidade criada pelo home office após a pandemia. Tem gente ganhando em dólar e até em euro, sem sair de Vitória”.
O estudante de Ciência da Computação da Faesa, Jhean Virginio Perim Pazetto, 19 anos, diz que quer focar no desenvolvimento de jogos quando se formar. “Pretendo fazer uma pós-graduação na área.”
VOCÊ SABIA?
Chama-se de economia criativa aquela que tem como base o uso da criatividade para elaboração e precificação de um produto.
O seu foco está no reconhecimento cultural, tecnológico e artístico de alguma coisa, visando trazer diferentes experiências ao consumidor.
Games
Home office facilitou
Lead Designer da Quimera Soluções Tecnológicas e desenvolvedor da Punk Crush, Fabiano de Paula atuou na criação do jogo “Os Guardiões da Escadaria”, que conta a história de quando Maria Ortiz, heróina capixaba, ajudou a expulsar o exercito holandês do Estado.
Ele conta que a grande guinada do setor de desenvolvimento de softwares ocorreu logo após a pandemia, quando houve um aumento na demanda. “E o home office facilitou nossa vida. Estamos tendo muitas oportunidades que não tínhamos antigamente. Diria que o setor está em seu melhor momento”.
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O que é?
A economia criativa corresponde às dinâmicas culturais, sociais e econômicas construídas a partir do ciclo de criação, produção, distribuição/circulação/difusão e consumo/fruição de bens e serviços oriundos dos setores criativos.
Ou seja, a economia criativa lida com atividades pautadas na criatividade, em ideias, na inovação, no talento, no conhecimento e na imaginação.
Princípios
A economia criativa pauta-se sob quatro princípios norteadores, a saber, no que tange à formulação de políticas públicas mais inclusivas e sustentáveis:
Diversidade Cultural: valorizar, proteger e promover a diversidade das expressões culturais nacionais como forma de garantir a sua originalidade, a sua força e seu potencial de crescimento.
Inclusão social: garantir a inclusão integral de segmentos da população que em situação de vulnerabilidade social por meio da formação e qualificação profissional e da geração de oportunidades de trabalho, renda e empreendimentos criativos.
Sustentabilidade: promover o desenvolvimento do território e de seus habitantes garantindo a sustentabilidade ambiental, social, cultural e econômica.
Inovação: fomentar práticas de inovação em todos os setores criativos, em especial naqueles cujos produtos são frutos da integração entre novas tecnologias e conteúdos culturais.
Os setores
A economia criativa é dividida em três setores: patrimônio cultural, criatividade e mídias, e criações funcionais.
patrimônio cultural inclui produtos e serviços de museus, sítios arqueológicos e históricos e paisagens culturais.
Criatividade e mídias inclui artes de espetáculo e festivais (teatro, dança, música, ópera, circo etc.), audiovisual e mídias interativas (cinema e vídeo, rádio e televisão, animação e jogos digitais, conteúdos); artes visuais e artesanato (pintura, intervenções e instalações artísticas, arte digital, videoarte, escultura, fotografia, artesanato); e livros e imprensa (livros, jornais e periódicos, quadrinhos, bibliotecas físicas e digitais e feiras do livro).
E criações funcionais incluem design e serviços criativos (moda, design gráfico, de interiores, de produto, paisagismo, arquitetura, publicidade e propaganda, marketing, startups, pesquisa e desenvolvimento, tecnologia da informação e comunicação).
Gastronomia em destaque
O Espírito Santo encerrou o ano de 2022 com uma média de 167.671 pessoas ocupadas no segmento criativo, segundo dados do Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN).
Dessas, 101.861 atuaram no segmento da gastronomia, o que representa 60,75% de todo o setor no Estado.
O segundo segmento com mais polos de trabalho é o de tecnologia da informação e comunicação (TIC), com 20.416, o que representa 12% de todo o setor.
Completam a lista os segmentos de design, com 16.659 postos de trabalho em 2022; artesanato, com 11.467; publicidade, com 5.142; festas e celebrações, com 4.650; teatro, com 4.297; música e audiovisual, com 2.341; editorial, com 325; pesquisa e desenvolvimento, com 262; e patrimônio e artes, com 253.
Números absolutos
O IJSN detalhou também os dados referentes ao 4º trimestre de 2022. O Estado encerrou o ano com, em números absolutos, um total de 171 mil pessoas ocupadas em atividades ligadas à economia criativa. O número representa cerca de 9% do total de trabalhadores ocupados no Estado.
O número também representa um aumento de 5,4% em relação ao trimestre anterior. Apesar do aumento no 4º trimestre, houve redução para essa variável em relação ao 4º trimestre de 2021, registrando variação negativa de 1%.
Escolaridade e faixa etária
Em relação ao nível de escolaridade, a maior parcela das pessoas que trabalhou nos segmentos da economia criativa, no 4º trimestre de 2022, possuía ensino médio completo (35,4%).
As pessoas com ensino superior completo, por sua vez, apareceram como segundo principal grupo, com uma participação de 23,4% do total.
destaca-se ainda a participação relativa de pessoas com ensino fundamental incompleto na economia criativa, que representam 17,1%.
A distribuição etária das pessoas ocupadas nas atividades criativas apresentou, no 4º trimestre de 2022, uma estrutura semelhante aos demais segmentos da economia em que a maior parcela de ocupados tem entre 30 e 39 anos (23,4%), seguida por pessoas de 40 a 49 anos (22,1%).
Destaca-se a participação de dois grupos, dos jovens das faixas etárias de 18 a 24 anos e de 25 a 29 anos, na economia criativa. Estes grupos representaram, respectivamente, 17,3% e 14,3% do total de pessoas ocupadas no setor, contra 11,9% e 10,7% de participação nos demais segmentos da economia.
Desempenho nacional
Em relação ao ranking de unidades da federação, o Estado apresentou o 10º maior percentual de trabalhadores ocupados nos setores criativos, ganhando nove colocações em relação ao trimestre anterior.
O ranking encontra-se liderado pelo estado do Rio de Janeiro, com 12% das pessoas neste segmento, seguido por São Paulo, com 11,4% e Distrito Federal, com 10%.
Estudos realizados pelo Observatório Itaú Cultural, a partir da plataforma PIB da Economia da Cultura e das Indústrias Criativas (ECIC), divulgada e lançada na segunda-feira, mostram que o PIB do setor cultural do País cresceu mais do que o mesmo indicador da economia nacional entre os anos de 2012 a 2020.
de acordo com o levantamento, os segmentos culturais responderam por 3,11% das riquezas geradas no País em 2020 – percentual que ultrapassa, por exemplo, a participação na economia do setor automotivo (2,1%) e que equivale a R$ 230,14 bilhões dos R$ 7,4 trilhões movimentados no mesmo período.
Programa governamental
O Programa ES+Criativo, da Secretaria da Cultura (Secult), conta com a participação de 15 instituições, entre órgãos públicos, representações do sistema produtivo e universidades.
O programa articula ações entre os parceiros, visando desenvolver e fortalecer a economia criativa no Estado para impulsionar o crescimento de empreendedores e negócios criativos, a cultura local e incentivar a inovação e a criatividade.
Fontes: Secretaria de Cultura do Estado (Secult), Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN), Observatório Itaú Cultural e Pesquisa AT.
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