Mais de 76 mil no Espírito Santo investem em ações na Bolsa
Em 10 anos, número de pessoas físicas na Bolsa de São Paulo deu um salto de 726%. Em todos os ativos, são mais de 100 mil
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O crescimento de investidores capixabas na Bolsa de Valores tem sido perceptível na última década. Em um período de 10 anos, o número de pessoas com Cadastro de Pessoa Física (CPF) registrado no Espírito Santo e que possuem ações no mercado teve um salto de 726%.
Em 2013, a quantidade de capixabas com investimentos em ações era de 9.279, segundo levantamento da Bolsa do Brasil (B3), obtido a pedido de A Tribuna. Após uma queda moderada no ano seguinte, o número veio crescendo lentamente até meados de 2018.
Foi a partir desse último período que a taxa básica de juros, a Selic, sofreu uma queda significativa. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getulio Vargas, a taxa de juros média caiu para 2,3% ao ano entre 2018 e 2019, bem abaixo do patamar observado nos 10 anos anteriores.
Essa é uma das principais explicações para o fenômeno, segundo o diretor de Produtos da Valor Investimentos, Pedro Lang, que destaca ainda o trabalho de educação financeira.
“As pessoas cada vez mais entendendo os tipos de investimentos variados e a taxa de juros, que caiu muito em 2016, indo para 2% na época da covid, ‘expulsou’ às pessoas para a renda variável. Mas apesar da evolução recente, o Brasil ainda tem poucos investidores”, afirmou o especialista.
No Espírito Santo, são ao todo 100.215 investidores na Bolsa com aplicações em renda variável, onde se encaixam os investimentos em ações. Incluem nesse valor, por exemplo, os fundos imobiliários (FII), BDRs — uma espécie de certificado com lastro em ações estrangeiras — e fundos de investimento ETFs, tipo de aplicação que dá retornos baseados em índices do mercado.
Desse total, a maioria tem entre 25 e 39 anos: 49.634 investidores. O segundo maior público é dos que têm entre 39 e 59 anos: são 26.676 pessoas. Já os idosos representam 12,92%, com 12.948 capixabas ou moradores do Estado que possuem investimentos de renda variável cadastrados na B3.
Os homens são os que mais investem: 75,97% do total. A proporção, se comparado ao dado de 2013, permanece inalterada. Há 10 anos eram 9.908 na renda variável, sendo 76,52% mulheres.
“Não tomo uma decisão sequer sozinho”
O empresário capixaba Adriano Damasceno conta que começou a investir na Bolsa de Valores há dois anos, após uma curva alta de faturamento na empresa que administra, do ramo de aparelhos auditivos.
Ele até começou a se informar sobre como funciona o mercado de ações, mas preferiu deixar as operações para um especialista do setor, procurando uma empresa de corretagem de investimentos.
“Eu não tomo decisão nenhuma. Quando vejo algum movimento, sugiro e aguardo um retorno de orientação. O meu conhecimento é básico, então cada macaco no seu galho”, afirma o investidor.
Damasceno diz que o único tipo de investimento que faz sem conselho dos consultores é no mercado de imóveis. “Mas a gente tem informações sobre como é a construtora, como ela se posiciona. Já para investir em Bolsa, precisa estar muito atento ao mercado. Como não tenho tempo, deixo para quem entende”.
Caso de perda milionária e risco de prejuízo total
Os grandes ganhos com investimentos de curto prazo podem ser um atrativo para iniciantes no ramo, mas também uma grande cilada se não for feito com conhecimento e cautela.
Especialistas alertam que entrar no mercado de ações com ganância e sem entender o mecanismo acaba fazendo com que investidores tenham perdas gigantescas, principalmente quando realiza as operações sem o acompanhamento de um profissional da área.
É o caso de um investidor carioca que perdeu R$ 1 milhão ao atuar como day trader, tipo de operação em que se compra e vende ativos de alto risco todos os dias.
“O lucro dele diário era de R$ 120 mil, R$ 150 mil, e ele foi ficando animado. Ele ganhava e ficava super feliz. Mas quando perdia, ficava de muito mau humor. Em certo momento, as perdas começaram a ser de R$ 80 mil, R$ 100 mil por dia. Quando foi ver, tinha perdido R$ 1 milhão”, conta a esposa dele, ouvida por A Tribuna.
Ela alerta para os riscos. “Você precisa saber a hora de jogar e quando parar. Se você deixar, vai perder. Na mesma hora que está subindo, ele despenca. Precisa ter psicológico”.
SAIBA MAIS
Dados
• Segundo o levantamento da Bolsa do Brasil (B3), obtido a pedido de A Tribuna, o crescimento de investidores capixabas na renda variável foi de quase 1.000%.
• Saiu de 9.908 em dezembro de 2013 para os 100.215 investidores calculados no último balanço, de setembro deste ano.
• Esse total equivale a todos os tipos de investimentos, dentre eles as chamadas ações.
• São 76.138 homens e 24.077 mulheres com dinheiro na Bolsa, em aplicações como fundos imobiliários, fundos estrangeiros e títulos de capital.
Cuidados
• Embora atrativo, o mercado financeiro exige cuidados redobrados e, de preferência, o acompanhamento de um especialista.
• O sócio-fundador da Pedra Azul Investimentos, Lélio Monteiro, ressalta algumas recomendações. “Em primeiro lugar o investidor precisa ter a humildade de saber que está em um campo em que precisa aprender muita coisa e que amadurece com o tempo”, diz.
• “O segundo ponto é querer ganhar demais. Sempre que há uma possibilidade de ganho, há uma possibilidade de perda. Quando se entra muito excitado com oportunidades que vê, esquece-se de calibrar riscos.”
• “O terceiro ponto é se informar por fontes confiáveis e consistentes. Uma dica é procurar a imprensa e sites especializados para começar, antes mesmo de fazer cursos. E se orientar por analistas credenciados pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM).”
Fonte: B3 e especialista citado.
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