Mais 50 profissionais passam todo dia a trabalhar por aplicativos no ES
Atuação sem vínculo com demanda ativada pelo celular atrai cada vez mais profissionais no Estado, onde já há 90 mil na modalidade
	Seja como renda principal ou como um “extra”, o número de pessoas que optam por trabalhar por aplicativos no Estado não para de crescer.
Segundo levantamento do Sindicato dos Motoristas de Aplicativo do Espírito Santo (Sintappes) com base em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios ·(Pnad Contínua) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), uma média de 50 pessoas por dia começa a trabalhar, sob demanda por plataformas.
Esse número inclui entregadores, motoboys, motoristas, garçons, babás e outras profissões.
Segundo o presidente do Sintappes, Gessé Gomes de Souza Júnior, em torno de 90 mil pessoas no Estado têm cadastro em alguma plataforma – sendo 52 mil só de motoristas, segundo Luiz Fernando Muller, presidente da Associação dos Motoristas de Aplicativo do Espírito Santo (Amapes) –, sendo que 45 mil atuam de forma recorrente, seja como fonte principal de renda, ou como um “extra”.
“Tem muita gente que faz como fonte principal de renda, mas diariamente há quem faça de forma pontual, como uma oportunidade para obter um dinheiro rápido”, afirma.
O estudante de Filosofia de 25 anos Elyniel Fernando Martins da Costa se enquadra nisso. Conta que trabalha de forma esporádica como entregador de aplicativos enquanto concilia com estudos, e chegou a conseguir, em oito dias, cerca de R$ 1.200 no último mês.
Segundo o estudante, seu foco é atuar nos finais de semana. Ele já está há cerca de dois anos nesse ramo.
“Mas é um serviço instável, porque não há suporte. Se você adoece, você não pode tirar um atestado. É uma exploração de mão de obra desenfreada, porque não há uma legislação que proteja o profissional. Tenho muitos colegas que atuam de forma integral, 10 a 12 horas por dia, sem folga, e vivem no limite, na angústia, com problemas de saúde”.
	Raio X no País
1,7 milhão de pessoas atuavam em aplicativos de transporte, entregas, serviços e táxi em 2024, segundo dados da Pnad Contínua.
O avanço é expressivo: em dois anos, o contingente saltou de 1,3 milhão em 2022, um acréscimo de 335 mil trabalhadores.
A dimensão do grupo impressiona. Hoje, o total de “plataformizados” já supera a população de 19 capitais, como Recife (1,6 milhão), Goiânia (1,5 milhão), Belém (1,4 milhão) e Porto Alegre (1,4 milhão).
A pesquisa classifica a chamada “gig economy” em quatro grandes frentes: transporte particular de passageiros (como Uber e 99), entrega de produtos (iFood, Rappi), prestação de serviços gerais ou profissionais (GetNinjas, Workana, 99Freelas) e táxi. Entre elas, o transporte particular responde pela maior fatia, com 878 mil pessoas, a maioria, alta de 29,2% ante 2022.
Em seguida aparecem os entregadores (485 mil), os prestadores de serviços (294 mil) e os taxistas (228 mil).
Mais detalhes
R$ 2.996: Renda média mensal dos trabalhadores em plataformas digitais, 4,2% acima da renda de R$ 2.875 dos demais trabalhadores formais. Entretanto, essa diferença vem diminuindo: em 2022, a vantagem era de 9,4%.
Em contrapartida, a jornada semanal desses profissionais é significativamente maior: 44,8 horas, contra 39,3 horas de quem não atua em apps.
Por isso, a remuneração por hora é menor, com média de R$ 15,40 por hora em comparação aos R$ 16,80 dos trabalhadores convencionais, uma diferença de 8,3%.
Entre os trabalhadores por aplicativos, a maior parte atua em transporte: 58,3% (964 mil pessoas), incluindo motoristas de táxi e aplicativos de carona.
Os aplicativos de entrega representam 29,3% (485 mil) e os serviços gerais ou profissionais somam 7,8% (294 mil).
Outro dado relevante é o nível de informalidade. Enquanto 43,8% dos trabalhadores fora dos aplicativos estão na informalidade, entre os profissionais de plataformas digitais, o índice sobe para 71,1%.
Apenas 35,9% contribuem para a Previdência Social, em comparação com 61,9% dos trabalhadores não plataformizados.
Estudo realizado pela Cebrap mostrou também que, entre 2022 e 2024, o rendimento líquido dos trabalhadores de transportes de passageiros por aplicativo caiu, impulsionado pelo aumento nos preços de autopeças (27%) e nos impostos (15%).
Motoristas querem ser “autônomos com direitos”
Motoristas de aplicativos no Estado querem ser categorizados como “autônomos com direitos”, e citam como inspiração o tratamento dado pela legislação brasileira aos trabalhadores portuários avulsos.
“O motorista não quer ser empregado. Quer ser autônomo, mas precisa ter seus direitos garantidos por lei. É algo que já existe na legislação, e estamos buscando a adequação da categoria nisso. Nosso grande exemplo é o trabalhador portuário avulso”, afirmou o presidente da Associação dos Motoristas de Aplicativos do Espírito Santo (Amapes), Luiz Fernando Muller.
A fala foi dita à reportagem durante a realização da terceira edição do Fórum Capixaba dos Motoristas de Aplicativos, na última terça-feira. Muller explicou que o evento tem como foco fortalecer a união da categoria e reunir demandas.
“Nós hoje somos o segundo maior modal de transporte do Estado, atrás só dos ônibus. Queremos condições dignas de trabalho, com área de embarque e desembarque em locais de grande movimentação, como a rodoviária, por exemplo”.
Grupo criado para discutir direitos da categoria
	O novo ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Guilherme Boulos, anunciou a criação de um grupo de trabalho voltado à regulamentação das relações entre plataformas digitais e seus trabalhadores.
Em parceria com o Ministério do Trabalho, a iniciativa buscará ouvir diretamente motoristas e entregadores de aplicativos para propor medidas voltadas à remuneração mínima, proteção previdenciária e transparência dos algoritmos.
A proposta representa uma das primeiras ações de Boulos à frente da pasta, cuja principal função é estabelecer diálogo entre o governo federal e os diversos setores da sociedade civil.
“Recebi como demanda dos próprios trabalhadores de aplicativo a questão da transparência do algoritmo. Eles são guiados por essas ferramentas, mas não sabem como funcionam. É essencial abrir essa caixa-preta”, afirmou o ministro.
Boulos detalhou que o debate girará em torno de três pontos principais: estabelecer um valor mínimo para a remuneração, criar mecanismos de proteção social — como seguros e contribuições previdenciárias — e garantir maior clareza sobre os critérios e decisões dos algoritmos que organizam as rotinas de trabalho.
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