Maioria dos idosos no ES deve a bancos e já teve problema com empréstimos
66% dos aposentados dizem que têm dívidas a pagar e 59% relatam ter tido aborrecimentos com instituições financeiras
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Recebendo um salário mínimo por mês (R$ 1.412) e precisando de dinheiro para complementar a renda, uma aposentada de 70 anos confessa que o jeito foi recorrer a cerca de 10 empréstimos desde que passou a receber o benefício.
Mas ela, que pediu para o seu nome ser preservado, tem dificuldade de lembrar do valor total que pegou emprestado e quantas prestações ainda precisa pagar ao banco.
Ela não é a única. Pesquisa feita pela Universidade Vila Velha (UVV) revela: maioria dos aposentados e pensionistas (66,1%) deve a bancos e 59,9% já teve problema com empréstimos no Espírito Santo.
Coordenador da pesquisa, o professor da UVV Fabrício Azevedo, explica que o questionário foi respondido de forma on-line por 253 pessoas acima de 60 anos.
Doutor em Finanças, Fabrício Azevedo fala sobre a sua percepção para essa realidade. “A maior dificuldade dos aposentados e pensionistas é a questão tecnológica. Como parte das movimentações é via Pix, transferência de conta, movimentação pelo aplicativo, eles recorrem as instituições financeiras”.
Só que na hora de adquirir um empréstimo ou fazer uma transação financeira, como ele cita, pode ser oferecido algum produto ou serviço que eles não entendam as cláusulas estabelecidas em contrato e se realmente estão necessitando daquele serviço no momento.
“Sem controle nos gastos, eles fazem os empréstimos e se deparam com várias parcelas para a pagar ao longo dos anos, com juros”.
Coordenador geral do Sindicato Nacional dos Aposentados no Espírito Santo, Janio Araújo, confirma o resultado da pesquisa. “Essa é uma triste realidade. Nós temos uma média de 570 mil aposentados e pensionistas do INSS no Estado. Das pessoas que atendemos no sindicato, 90% tem empréstimo consignado e estão com problemas”.
Somente no Procon Estadual foram 4.475 atendimentos relacionados a crédito consignado no ano passado. Neste ano, até o momento, 2.680. As principais queixas são: negociação e renegociação de dívidas, empréstimo não solicitado, refinanciamento de contratos sem autorização.
A diretora geral do Procon-ES, Letícia Coelho Nogueira, destaca que as demandas recebidas pelo órgão indicam que as instituições financeiras não fornecem as informações necessárias, faltando clareza sobre os serviços contratados.
“Os mais prejudicados são os idosos e aposentados, que frequentemente, sem perceber, aceitam empréstimos desnecessários, resultando na redução de seus benefícios por vários meses”.
Assédio em ligações
Assediado praticamente todos os dias por instituições financeiras na tentativa de liberar crédito, um aposentado de 65 anos de idade, evita atender esses tipos de contatos e, quando atende e percebe que estão oferecendo dinheiro, ele desliga.
Ele conta que antes da pandemia, pegou dois empréstimos nos valores aproximados de R$ 3.500 e R$ 1.500.
“Por mês, os descontos chegam a quase R$ 400, mas graças a Deus ano que vem vou me livrar disso. A gente pega um valor e paga mais que o dobro”.
Sem benefício
Aposentada desde 2019, a cozinheira aposentada Ieda Maria Paixão, de 65 anos, deveria ver o depósito do seu benefício caindo na conta ao final do mês.
Mas por conta de empréstimos feitos por ela e outros cinco que afirma não reconhecer e ter sido sido vítima de golpe, o seu saldo tem ficado zerado por causa dos descontos em folha.
Ela buscou orientações no Sindicato Nacional dos Aposentados no Espírito Santo e entrou na Justiça.
A pesquisa
Metodologia
A pesquisa foi feita pela Universidade Vila Velha (UVV) no início deste mês. Foi feito um questionário on-line, que foi divulgado pela instituição.
“A gente queria entender como é o cotidiano e o relacionamento desse idoso com as suas finanças, se o recurso financeiro que ele adquire do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) é suficiente, se precisa de complementação de renda, se já teve problema com bancos, por exemplo”, disse Fabrício Azevedo, coordenador da pesquisa e professor da UVV.
Participantes
Participaram da pesquisa, 253 aposentados e pensionistas do Instituto Nacional do Seguro Social ( INSS) em todo o Estado, sendo a maioria da Grande Vitória.
Trabalho
40,1% dos entrevistados continuou trabalhando após a aposentadoria, mesmo percentual dos que pararam de trabalhar. Já 19,8% disse que chegou a parar de trabalhar, mas preferiu retomar alguma atividade.
Os resultados
1- O senhor (a) tem empréstimo contratado com algum banco, seja consignado ou em outra modalidade?
Sim: 66,1%
Não: 33,9%
2- O senhor (a) já teve problemas com bancos por conta de empréstimos?
Sim: 59,9%
Não: 40,1%
3- Qual é a sua idade?
Entre 60 e 65 anos: 7,5%
Entre 66 e 70 anos: 53%
Entre 71 e 75 anos: 29,2%
Acima de 75 anos: 10,3%
4- Qual é o seu gênero?
Masculino: 41,9%
Feminino: 51,8%
Prefiro não dizer: 6,3%
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