Inadimplência cresce mesmo com o programa Desenrola
Programa do governo federal oferece ajuda para renegociar dívidas e sair do vermelho, mas no Espírito Santo número de nomes no SPC subiu
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No Espírito Santo, nem o Desenrola está fazendo o número de inadimplentes cair. Os dados de outubro, quando comparados a setembro deste ano, mostram um aumento, mas especialistas apontam a tendência de queda nos próximos meses.
O número passou de 774.147 para 774.906, de acordo com dados do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), fornecidos pela Câmara dos Dirigentes Lojistas de Vitória (CDL).
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A nível nacional a expectativa é de queda tanto para outubro quanto para os próximos meses, segundo Merula Borges, especialista em finanças da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL).
Existem alguns aspectos sazonais que favorecem a queda, como a contratação temporária de fim de ano e a chegada do décimo terceiro que, muitas vezes, é utilizado para o pagamento de contas.
A situação de trabalho e renda está melhor, e a inflação mais controlada, segundo a especialista em finanças. Ela ressaltou que, além disso, o Desenrola tirou 500 mil consumidores do cadastro de inadimplentes.
Na visão dela, a situação do Espírito Santo é uma oscilação natural. A tendência é que o número também caia no Estado nos próximos meses.
A visão também é compartilhada pelo superintendente da CDL Vitória, Wagner Junior Corrêa. “Não há, nesse primeiro momento, nenhuma tendência de que o comportamento do Estado se distancie do nacional”, explicou.
No Estado, segundo ele, independente do Desenrola, há uma predisposição por parte dos credores de flexibilização de condições e meios de pagamentos para que as pessoas possam retomar as condições de adimplentes.
Entre os vilões do endividamento está o cartão de crédito. Ele apontou que trata-se de uma excelente ferramenta para crédito, mas a falta de educação financeira dos consumidores impacta muito no uso.
Para pessoas que estão chegando no momento de se aposentar e não se programaram para o aumento dos gastos e queda na renda, por exemplo, o cartão de crédito acaba sendo uma saída momentânea e um problema a longo prazo. “Precisa de um uso planejado”.
Especialistas relatam que além da dívida há a reincidência e um número alto de acordos não cumpridos.
No Espírito Santo, do total de negativações em outubro, 57,97% são de consumidores que não pagaram dívidas antigas, 25,98% daqueles que tinham ficado com o nome limpo mais retornaram ao cadastro de devedores. Um total de 16,06% não tiveram restrições no CPF no último ano.
Calote no País cai e é o menor desde fevereiro do ano passado
Caiu em outubro o percentual de famílias brasileiras que afirmam ter dívidas a vencer. A queda se deu pelo quarto mês consecutivo, chegando ao menor nível desde fevereiro do ano passado.
Mesmo assim, o número ainda representa 76,9% das famílias do País, de acordo com a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), apurada mensalmente pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).
O estudo apontou que o risco da inadimplência para a população diminuiu em relação ao mesmo período do ano anterior, e menos consumidores atrasaram o pagamento de suas dívidas em outubro deste ano.
O levantamento leva em consideração dívidas com cartão de crédito, cheque especial e consignado, empréstimo pessoal, carnê de loja, cheque pré-datado e prestações de carro e casa.
O cenário econômico leva menos consumidores a buscar crédito, segundo o presidente da CNC, José Roberto Tadros, ao jornal Extra. “No entanto, a gestão eficaz das dívidas e a redução da inadimplência continuam sendo desafios importantes a serem enfrentados”.
Saiba mais
No Estado
- No Espírito Santo, o número de consumidores com registro de inadimplência passou de 774.147 para 774.906, de setembro para outubro deste ano, de acordo com dados do Serviço de Proteção ao Crédito ( SPC Brasil), fornecidos pela CDL Vitória.
No País
- Os dados nacionais de outubro ainda não foram divulgados pelo SPC Brasil. Na passagem de agosto para setembro, a inadimplência teve uma pequena queda de 0,39%, com 66, 56 milhões de consumidores nessa situação.
Desenrola
- O programa do governo federal é voltado para o incentivo à negociação de dívidas.
- Para fazer parte dele, o consumidor precisa ter cadastro no gov.br, em contas prata ou ouro.
Terceira etapa
- O programa está em sua terceira etapa. Ela é voltada para consumidores com renda de até 2 salários mínimos (R$ 2.640) ou inscritos no CadÚnico e com dívidas de até R$ 5 mil.
- Com a conta no Gov.br, o interessado consegue ter acesso à plataforma de renegociação.
Tendência
- Vários fatores apontam para a tendência da queda da inadimplência no Espírito Santo e no País.
- Entre eles: os eventos de fim de ano movimentam o comércio e criam oportunidades temporárias de emprego, recebimento de décimo terceiro, inflação mais controlada. Contudo, a taxa básica de juros da economia ainda é considerada alta e pode causar algumas oscilações.
Vilão
- O cartão de crédito novamente tem sido apontado como o vilão no endividamento das famílias. Mas, especialistas destacam que falta educação financeira para utilizar o recurso corretamente, obtendo inclusive os benefícios que ele é capaz de proporcionar quando utilizado corretamente.
Transações não evoluem
- Um total de 71% dos acordos de renegociação realizados em nível nacional não são cumpridos. Por isso, antes de fechar qualquer acordo, o consumidor precisa avaliar bem se tem condições de cumpri-lo.
Reincidência
- Para evitar conseguir limpar o nome e acabar ficando negativado de novo, o devedor deve fazer uma avaliação do que o levou ao endividamento. Além disso, é necessário ter um planejamento para não haver reincidência.
Educação financeira
- Especialistas apontam que a educação financeira deve ser uma ferramenta usada com mais efetividade para trazer retorno prático para vida das famílias.
- Em uma sociedade que estimula o consumo, aprender a questionar a real necessidade dos objetivos que estão sendo adquiridos e a fazer compras com um olhar crítico já podem contribuir enormemente para uma vida financeira mais equilibrada. Mas é importante saber planejar. Muitas vezes, mesmo a família que tem maior renda, acaba tendo maior acesso a crédito e entrando no endividamento.
Fonte: Governo federal e SPC Brasil.
Análise | Herica Gomes, educadora financeira
“O acesso ao crédito em nosso País é facilitado e os investimentos em educação financeira estão a passos lentos.
Os programas lançados e divulgados são sempre no sentido de ajudar a população a renegociar e quitar dívidas, o que é muito válido.
Entretanto, a quitação da dívida não ensina a população a poupar, a pensar no futuro, a criar reservas.
Ao contrário, esse acesso ao crédito e a certeza de que a renegociação da dívida é possível, faz com que as pessoas fiquem despreocupadas e continuem se endividando em situações que nada agregam, como carnês de lojas.
É importante que as pessoas façam o planejamento financeiro. Apesar de o nome assustar, fazer um plano para a vida financeira é o melhor caminho, pois ele estará conectado à mudança de comportamento, possibilitando a consciência na hora de consumir, a construção de reservas financeiras e evitando as dívidas.”
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