Greve dos Correios gera atrasos em entregas e prejuízos a empreendedores
Até o momento, agências de 13 estados operam normalmente, enquanto 17 estados, aderiram à greve
Sem previsão de encerramento, a greve dos trabalhadores dos Correios gerou efeito cascata nas entregas de encomendas por todo o país, e há relatos de atrasos no recebimento de compras feitas neste fim de ano.
Até o momento, agências de 13 estados (a maior parte nas regiões Norte e Nordeste) operam normalmente, enquanto 17 estados, entre eles Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Sul e Paraná aderiram à greve deflagrada no último dia 16, enquanto o impasse sobre o acordo coletivo dos trabalhadores não é resolvido no TST (Tribunal Superior do Trabalho).
Como reflexo, milhares de pessoas estão com atraso de semanas no recebimento ou envio de entregas. Um usuário do X postou mensagem dizendo que fez a devolução de um produto de São Paulo para o Rio de Janeiro no dia 1° de dezembro, mas até hoje (29) o objeto consta no sistema de envio como em transferência. Neste caso, segundo ele, a empresa só libera o reembolso após o recebimento do produto.
As reclamações se estendem aos clientes que fizeram a contratação do Sedex para agilizar a entrega, mas o pacote não chegou ao seu destino.
Em nota, a estatal disse que as agências permanecem abertas para atendimento ao público e as entregas seguem sendo realizadas em regime de contingências. De acordo com a companhia, 90% do efetivo segue trabalhando.
"A estatal está monitorando os índices de entrega e adotando medidas como remanejamento de empregados de outras unidades, realização de mutirões e plantões em feriados e fins de semana, entre outras iniciativas, para garantir a continuidade dos serviços essenciais à população. Neste mês de dezembro, o índice de entrega no prazo está em aproximadamente 89%", disse a companhia.
A microempreendedora Edna Souza, dona da Elegância a Fio, afirma que está no prejuízo neste fim de ano. Ela confecciona peças de roupa exclusivas e disse que recebeu pedidos específicos para o fim de ano, mas não conseguiu efetuar a entrega até o momento.
"Tenho encomendas paradas desde o dia 18. Estou com clientes pedindo reembolso de peças que foram personalizadas exclusivamente para as viagens de fim de ano", diz ela à Folha.
Ela afirma que, além do reembolso, alguns dos clientes estão ameaçando processo. "Aqui é uma pequena confecção, esse tipo de prejuízo quebra a empresa", completou.
Um problema relatado pela empresária e comum em outros tipos de reclamação contra os Correios envolve a falta de informações prestadas pela estatal. O site indica, por exemplo, que o produto está parado em um centro de distribuição em São Paulo e não indica sua localização exata, o que impede a retirada presencial do pacote.
"Mesmo que seja feito o reembolso, a cliente ainda vai receber a mercadoria. E aí eu fico no prejuízo três vezes: sem peça, sem dinheiro e com os gastos que foram necessários para a produção", afirma.
No portal Reclame Aqui, a reputação da companhia saiu de "não recomendada", em outubro, para "ruim", em novembro. Um ano atrás, o índice era "bom".
Nos últimos seis meses a estatal recebeu 46,9 mil reclamações no site. No ano, foram 105,7 mil insatisfações reportadas, com 67% sendo resolvidas.
Em agências do interior de São Paulo, cujo efetivo é pequeno, existem relatos de sobrecarga de trabalho. Na região de Piracicaba, dos sete carteiros ativos em uma agência, apenas dois estão realizando entregas, além de um funcionário administrativo que também aderiu à greve.
SEM ACORDO
O impasse salarial entre trabalhadores e a estatal de entregas já dura mais de cinco meses. Foram diversas rodadas de negociação entre o sindicato trabalhista e a direção da companhia.
Na semana passada, uma nova proposta foi rejeitada pelos entregadores, e a negociação agora vai para dissídio coletivo, uma ação judicial que tem o objetivo de resolver o conflito quando as partes envolvidas (empregador e funcionários) não conseguem chegar a um consenso sobre as condições de trabalho.
Nesta segunda-feira (29), o TST realizou uma audiência de conciliação e o julgamento do dissídio está marcado para acontecer a terça (30). Sindicatos regionais, como o de São Paulo (Sentect-SP), convocou uma assembleia geral para o dia 31 e deve discutir os próximos passos da categoria.
A proposta de acordo de trabalho formulada no âmbito da mediação no TST prevê o fim do ponto por exceção para os carteiros a partir de 1º de agosto de 2026. Essa cláusula hoje garante pagamento de hora extra quando excedem a jornada, mas sem exigência de compensação quando vão embora mais cedo.
A visão do comando da empresa é que isso prejudica a produtividade, pois não há como monitorar se as sobras de correspondências e encomendas não entregues são fruto da ausência dos destinatários ou de jornada insuficiente de trabalho.
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