Governo federal quer acelerar o fim da escala de trabalho 6x1
Ministro afirmou ser necessário avançar em revisão de jornada de trabalho que garanta mais saúde para os trabalhadores do País
O debate sobre o fim da tradicional escala 6×1 — em que o trabalhador atua seis dias seguidos e descansa apenas um — deve ser acelerado pelo governo federal.
O ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho, em entrevista à Folha de São Paulo, publicada no último sábado (8), declarou que “as empresas devem se preparar, porque vai chegar o fim da 6×1”.
Na segunda-feira (10), durante o seminário “Alternativas para o Fim da Escala 6x1”, promovido pela Comissão de Trabalho da Câmara dos Deputados, o ministro afirmou que o País precisa avançar na revisão e na construção de um modelo de jornada que garanta mais saúde, equilíbrio e previsibilidade para trabalhadores brasileiros.
Do outro lado da ponta, empresários capixabas reagiram. Para o vice-presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado (Fecomércio-ES), José Carlos Bergamin, a escala 6x1, assim como a jornada semanal de 40 horas, não deverá ser implementada em breve.
Todavia, ele complementa que por se tratar de um tema político relevante, o assunto deverá continuar sendo destacado em 2026, ano de eleições.
“Embora setores da economia, como indústria, serviços, construção civil e alguns segmentos do comércio já pratiquem a escala — na modalidade de compensar as horas do sábado nos dias da semana —, ficará bem complexo torná-la regra geral, principalmente para os pequenos negócios que atendem diretamente as pessoas, especialmente nos finais de semana”.
O presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do Espírito Santo (ABIH-ES), Fernando Otávio Campos, afirma que, para o setor hoteleiro — que enfrenta falta de mão de obra disponível e qualificada, além de operar em regime de 24 horas por dia, 365 dias por ano —, a mudança pode significar o fechamento de negócios, principalmente porque a proposta não prevê redução de encargos trabalhistas, de impostos sobre a folha de pagamento nem de salários.
“O setor não consegue hoje mão de obra e com a redução da jornada o esforço terá que ser maior ainda. O governo não passa a informação para a população de que ela terá que pagar a conta , pois tudo ficará mais caro”, finalizou Fernando Otávio.
Depoimentos
Custos adicionais
“Para a realidade brasileira, também precisamos considerar a baixa qualificação da mão de obra, a baixa produtividade e o atraso tecnológico, que nos inviabilizam operar como países de primeiro mundo, trabalhando menos horas. Além disso, é importante sempre ressaltar que todos os custos adicionais que se estabelecem acabam sendo repassados aos preços, e é a sociedade quem paga a conta”.
Sobreviver
“Se a proposta visa aumentar empregos, estamos, segundo o IBGE, em pleno emprego. Se ela visa melhorar a qualidade de vida e a saúde, assim reduzir gastos de saúde, por que não reduzir o desconto do INSS na folha e assim compensar parte das despesas para as empresas? Se a proposta visa aumentar a produtividade, isso demora, e, para colher esses frutos, as empresas precisam sobreviver e vão precisar de auxílio”.
Problema sistêmico
“Entendo que será um problema sistêmico muito grave, inclusive para o próprio governo. Como faremos com os hospitais e escolas com um dia a menos de trabalho de seus respectivos profissionais? Temos um governo que já está no limite de gasto orçamentário. Além disso, isso vai gerar uma pressão inflacionária imensa, a ponto de atingir toda a população, inclusive aquele que trabalhará um dia a menos”.
Saiba Mais
Jornadas intensas: embora prevista na legislação, a escala 6x1 tem sido criticada por acarretar jornadas intensas, desgaste físico e psicológico, além de limitar o convívio familiar.
A PEC 8/25 prevê a adoção da carga semanal de quatro dias de trabalho e três dias de descanso. O texto acaba com a escala 6x1 e limita a duração do trabalho normal a 36 horas semanais. Atualmente, a Constituição estabelece que seja de até oito horas diárias e 44 horas semanais.
A proposta será analisada pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania. Se aprovada, será examinada por uma comissão especial.
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