Golpes do bitcoin dão até R$ 2 milhões de prejuízo
Conseguir rentabilidade alta, rápida e sem trabalho. A promessa geralmente aparece da mesma forma e logo desperta olhares e atenção até mesmo da pessoa que nunca pensou em investir na vida.
No começo, o retorno pode acontecer, até os problemas surgirem. E o que parecia ser o caminho certo para o sucesso se torna um pesadelo.
É dessa forma que agem criminosos que se dedicam a enganar investidores de criptomoedas. Somente no Estado, pelo menos 10 quadrilhas atuam para aplicar golpes e fazer com que as vítimas percam até R$ 2 milhões.
Foi o que aconteceu com um empresário. “Ele achou que estava investindo em criptomoeda que garantia uma renda fixa de acordo com o valor aplicado e fez um depósito em uma conta de outra pessoa. Essa pessoa fugiu do País com o dinheiro dele”, lembrou Davi Lelis, sócio da Valor Investimentos.
Os especialistas são unânimes ao dizer que a maioria das vítimas é atraída pela promessa de lucros rápidos. Outros fatores que chamam a atenção são a desvinculação com a economia tradicional e a inexistência de controle dos governos.
“Os golpistas prometem ganhos garantidos e altos mensais. Existem casos que oferecem 50% de lucro ao mês ou até mais. E a pessoa acaba acreditando. Elas acham que é fácil, não se esforçam, não estudam e caem na conversa de alguém”, explicou o CEO da Escola de Bitcoin, Daniel Herkenhoff.
Ele citou um exemplo. “Um esquema com criptomoeda que vi muita gente caindo aqui na Grande Vitória. Vi pessoas perdendo várias quantias, como R$ 5 mil, R$ 10 mil, R$ 20 mil. Esse esquema teve origem na Espanha e chegou no Espírito Santo”, ressaltou.
O especialista em Segurança da Informação João Paulo Machado Chamon reforçou que um dos golpes mais aplicados com moedas digitais é a pirâmide.
“Ele no começo entrega o resultado que prometeu. Aí a pessoa acaba fazendo propaganda e outras pessoas vão entrando no esquema. O golpe vem quando a pirâmide incha. Cada vez que se coloca um nível a mais, ela vai dobrando de tamanho. Chega um momento que não tem mais para onde ela crescer. Aí é a hora do golpista montar no porco e ir embora. Não tem mais quem enganar”.
Trabalho organizado e carisma entre os vigaristas
Para conseguir enganar as vítimas, os golpistas usam, principalmente, do poder de persuasão e carisma. Especialistas garantem que os criminosos são pessoas com bom papo, simpáticas e que muitos possuem uma rotina organizada de trabalho no esquema.
“Tem o golpista menor e tem o golpe mais elaborado, que envolve mais cúmplices. Eles criam várias contas, o site para atrair investidores é bem feito. Normalmente, nesses grupos, há uma divisão de tarefas”, explicou Daniel Herkenhoff, CEO da Escola de Bitcoin.
O especialista em Segurança da Informação João Paulo Machado Chamon destacou que os golpistas fazem todo o cenário parecer real.
“Ele mostra extratos falsos e cria uma empresa responsável pela guarda das criptomoedas. É como se fossem bancos, mas não são bancos. Ele mostra o lucro, mas é um simulador. Dá a sensação que é real”, disse.
Apesar de organizados, a maioria dos golpes não possui alta sofisticação e os criminosos podem ter qualquer tipo de formação, como o ex-garçom Glaidson Acácio dos Santos, conhecido como “Faraó dos Bitcoins”, preso pela Polícia Federal acusado de aplicar golpes milionários em todo o País.
Os criminosos agem de diversos locais, segundo o especialista em Segurança da Informação Eduardo Pinheiro. “Atuam no Brasil e em outras partes do mundo. O mais comum são os cibercriminosos utilizarem engenharia social para manipular”, disse.
Saiba mais: aplicativos falsos também são utilizados
Criptomoedas
- É um tipo de dinheiro totalmente digital. Elas não são emitidas por algum governo (como é o caso do real ou do dólar, por exemplo).
- As criptomoedas mais conhecidas são o bitcoin e o ethereum.
Prejuízos
- De acordo com a empresa de inteligência em criptografia CipherTrace, fraudes com criptomoedas alcançaram US$ 1,9 bilhão (R$ 10 bilhões) em 2020.
- Estima-se que no Estado pelo menos 10 quadrilhas apliquem golpes em investidores, provocando prejuízos de até R$ 2 milhões. Este valor pode ser ainda maior, de acordo com especialistas da área.
Alguns golpes
Pirâmides financeiras
- É o tipo de golpe mais comum. Com a promessa de ganhos rápidos, os criminosos atraem pessoas, que convidam outras pessoas para lucrar e assim por diante.
- O criminoso chega a entregar lucros no começo, mas, quando a pirâmide chega ao nível que ele queria, ele foge com o dinheiro de todos.
Criptoativos inovadores
- São promessas de lucros com moedas que ainda nem foram lançadas. As vítimas acabam comprando ativos e os criminosos somem com o dinheiro que foi investido.
Ganhos rápidos
- Golpistas oferecem ganhos muito superiores aos que se consegue no mercado. Muitas vezes, prometem lucros de 50% ou mais em um mês.
Apps falsos
- Criminosos criam aplicativos falsos para roubar criptomoedas. Quando os usuários enviam as moedas, elas desaparecem.
Fonte: Especialistas ouvidos e pesquisa AT.
Golpe e prejuízo de R$ 25 mil
Convidado para fazer parte de um investimento em criptomoedas, um farmacêutico, 51, acabou caindo na lábia de golpistas e perdendo R$ 25 mil no Estado. Ele afirmou que tudo aconteceu quando ele decidiu investir nas moedas digitais.
“Um amigo, que mora nos Estados Unidos, me convidou, eu achei interessante e aceitei. Coloquei o valor e passei para este meu amigo. Ele comprou as moedas e mandou para mim a documentação. Porém, nunca recebemos nada, nem ele e nem eu”, explicou.
Pouco tempo depois, o farmacêutico soube que a empresa estrangeira, responsável pelo investimento, era falsa. Porém, ele continuou investindo nos ativos.
“Consegui recuperar o dinheiro perdido, mas foi muito importante ter orientação e conhecer a volatilidade das moedas. Este conhecimento me ajudou a escapar de outro golpe recentemente”, pontuou.
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